Passa o tempo… e continua a faltar sabor.
A primeira vez que escrevemos sobre o Paco Bigotes foi no agora longínquo ano de 2020, ainda antes da pandemia, das guerras, do Chega, de tudo aquilo que tem acontecido no Mundo… e do boom dos restaurantes mexicanos na Grande Lisboa. Sim, porque quando escrevíamos que o Paco Pigotes ia causar sensação porque era o primeiro mexicano trendy a abrir na linha de Cascais – e muito alinhado com o ambiente do extinto Pistola Y Corazón – a verdade é que nos anos seguintes os restaurantes mexicanos foram aparecendo tipo cogumelos no bosque. Muita oferta… mas muita qualidade? Nem por isso…

E o que separa as duas vezes que escrevemos sobre o Paco Bigotes é apenas o tempo. Porque depois da primeira visita houve mais umas quantas, sempre com o mesmo problema: gostamos da ideia de lá ir (assim como gostamos sempre de ir a um mexicano), mas saímos de lá a pensar que o ambiente é muito trendy, malta jovem divertida e tal, como se quer num mexicano… mas a verdade é que sempre achámos que a comida não tinha alma, não tinha sabor. E uma visita muito recente comprovou apenas isso: o Paco Bigotes é um mexicano sem intensidade de sabor.

Porque a comida mexicana quer-se condimentada, quer-se picante, ou pelo menos quer-se com personalidade. As tortilhas dos tacos têm de ter sabor, as carnes dos recheios têm de ser bem marinadas durante muitas horas para ficarem saborosas, o simples guacamole tem de ser bem temperado. E nada disso acontece no Paco Bigotes, tudo o que nos chega à mesa é sensaborão, é completamente insípido, e algumas vezes essa falta de sabor é “compensada” com o acréscimo de queijo fundido, que efetivamente melhora tudo, ou de molhos diversos, que só estragam ainda mais o sabor dos ingredientes.
Ora, era nesta altura que nós poderíamos dizer que estamos só a falar dos tacos, mas a verdade é que esta questão da falta de intensidade no sabor – ou personalidade, como lhe queiram chamar – é geral ao que nos vai aparecendo na mesa. Começando logo pelos Totopos de compra, e depois um Guacamole que não tem sal nenhum, não sabe a nada, nem com muito sumo de lima em cima se safa. Alguma vez estiveram num mexicano e não acabaram o guacamole? Pois que nós, sim.

Para entradas temos ainda os clássicos Nachos, com queijo gratinado, feijão e guacamole, além do pico de gallo (que é descrito no menu como “famoso”), um conjunto que funciona muito por causa do queijo, que realmente impulsiona o sabor.

Depois, a Tostada de Atum… que é provavelmente a pior que já comemos nos restaurantes mexicanos fora do México. Para terem um enquadramento, as tostadas de atum no México têm guacamole e às vezes algum outro molho em cima da tortilha, mas não por cima do atum, para que sobressaia a proteína – que, na teoria, é o melhor da tostada. Ora, aqui no Paco Bigotes o atum vem já misturado com dois molhos diferentes, e a sugestão que nos fazem para comer é misturar ainda mais nos outros molhos que vêm no prato. Não o fazemos, mas ainda assim, há tanta coisa por cima da tortilha que não sentimos praticamente o sabor do atum, só aos molhos diversos.

Bom, se na tostada não havia a questão de sentir o sabor da tortilha por causa dos molhos todos, é quando chegamos aos tacos que percebemos que um dos problemas do Pago Bigotes a nível de sabor, são as tortilhas… que efetivamente não sabem a nada. As tortilhas no México são saborosas, e tornam o conjunto todo ainda mais interessante. Cá em Portugal ainda só encontrámos tortilhas assim no Sr. Taco, em Carnaxide – leiam aqui o review.
Por isso, se as tortilhas não ajudam, então é normal que o ponto de partida já não seja brilhante. Mas depois o resto peca também por não ter sabores intensos, profundidade, alma. E nem acrescentando muita salsa picante, fica tudo muito blend… Os Tacos Birria, por exemplo, com carne de ossobuco de vaca, cozida no seu caldo com especiarias, tem uma descrição melhor do que o sabor, porque não sentimos nada disto (nem no próprio molho de carne, servido à parte). E além disso é servido com crosta de queijo, o que acaba por esconder a falta de sabor do resto.


Mas não é só esse: no Taco Emperador, há demasiada crosta de queijo, não se percebe sequer o que é o recheio (devia ser chouriço e polvo, que não percebemos onde estão), e este fica metade no prato; ou o Taco Bistec, com carne grelhada, queijo fundido e cebola, é o mais simples de todos e por isso mais difícil de estragar, mas sentimos que a carne não tem tempero nenhum.

São ligeiramente melhores dois outros: o Cochinita Pibil, que tem carne de porco cozinhada com anchiote e especiarias, molho de feijão e cebola marinada em habanero; e o Taco Gobernador, onde a mistura de camarão em molho chipotle com feijão preto e abacate acaba por o tornar mais fresco e diferente do habitual. São excepções porque conseguimos sentir algo diferenciador, mas é pouco para um restaurante mexicano.

Para sobremesa, pedimos sempre o mesmo, porque sempre foi a sobremesa mexicana que gostámos mais. O Pastel 3 Leches do Paco Bigotes cumpre, ainda que a nível de proporções pudesse ter um pouco mais de calma e menos natas… mas enfim.

E agora é o momento em que sentimos a necessidade de falar sobre aquilo que gostámos logo no início… e que continuamos a gostar no Paco Bigotes. E em primeiro lugar estão claramente as Margaritas, muito boas, bem equilibradas a nível de álcool, ainda que pudessem ser melhor servidas – diria que pelo menos até ao cimo do copo, malta, não faria assim tanta diferença.

E também uma palavra positiva para o espaço – que segue todos os clichés de um mexicano mas como tem uma zona exterior acaba por ser porreiro para estar com amigos a beber copos – e, principalmente, o serviço, sempre simpático, jovem mas sem aquela arrogância que apanhamos no centro de Lisboa, atento aos pormenores e ao feedback mas mantendo a informalidade que se quer num sítio destes.

Resumindo: o Paco Bigotes não é um mau mexicano. Aliás, a nível de ambiente, continua a ser dos mais interessantes da grande Lisboa, porque consegue incorporar a ideia que temos dos restaurantes mexicanos: barulho, diversão, convívio. Se a comida é a melhor que já comemos? Não, não é, aliás, continua a não ser. Podia – devia! – ser tudo mais condimentado e ter mais sabor. Até porque numa fase em que já há restaurantes mexicanos a fazer coisas muito típicas na grande Lisboa – como é o caso do Sr. Taco, em Carnaxide, que tem os melhores tacos que comemos fora do México – faz sentido melhorar a comida e não depender apenas do ambiente… e das margaritas, que efetivamente são muito boas.
Preço Médio: 20€ pessoa (com 2 tacos e 1 margarita)
Informações & Contactos:
Rua Nunes Dos Santos, Local C | 2765-546 São Pedro do Estoril | 21 407 67 08
Não é na parede mas sim em sao pedro do estoril.