Todos os clichés alentejanos dentro de um Moinho!
Sempre que podemos tentamos sair de Lisboa e ir à procura de restaurantes um pouco por todo o país. Mais ou menos conhecidos, não interessa. O nosso objectivo com o Onde Vamos Jantar? sempre foi dar a conhecer o que de melhor há a nível da restauração, mas não necessariamente só em Lisboa e nem só as coisas da moda. Esta tentativa de descentralização pode não ser tão frequente como queríamos, mas sempre que saímos de Lisboa procuramos melhor os sítios onde vamos jantar. Mesmo que sejam em zonas que já conhecemos e mesmo restaurantes onde já estivemos. Várias vezes.
Ora, o Moinho do Cu Torto (como sempre conheci o restaurante, ainda que muita gente lhe chame só O Moinho) é, para mim, um dos melhores restaurante de Évora. Sim, melhor que O Fialho, melhor que O Luar de Janeiro, melhor do que muitos outros restaurantes tão bons que existem na cidade e arredores. Não o melhor de todos, porque há muitas coisas na cidade, mas dos melhores. E sim, há quem diga que “é para turistas e tal…”. Mas pronto, as opiniões são subjectivas, eu sei, e esta é a minha.
Quase à saída da cidade, numa zona mais residencial onde não se esperava encontrar este tipo de restaurante, passamos uma rua estreita e lá vemos o dito moinho. Mas é só quando entramos na casa ao lado (que é o restaurante em si) é que nos sentimos realmente num quadro alentejano. Um balcão perto da porta, onde vemos algumas sobremesas expostas mas acima de tudo vemos gente à espera… e muita azáfama dos empregados, que querem servir toda a gente.
Tanto aqui como nas duas salas anexas temos uma decoração com motivos tipicamente alentejanos, muita bugiganga, o que nos diz logo que estamos num sítio onde vamos ser bem tratados. Ou tratados como família, se quiserem.
Porque é isso mesmo que acontece! O restaurante está cheio e há muita gente à espera (sempre), mas nunca deixa de haver uma simpatia enorme da parte de quem nos serve. É algo que me deixa sempre surpreendido quando volto ao Moinho do Cu Torto, mas que continua sempre a acontecer. E se formos mais tarde na noite, à medida que o restaurante começa a ficar vazio, vai havendo mais tempo para falar connosco, e a experiência torna-se cada vez mais divertida.
Espaço excelente, serviço muito bom… mas falta a comida. E essa, minha gente, essa é fora de série! Não tenho raízes no Alentejo, mas para mim isto é como a comida alentejana deve ser! Desta vez começamos com umas pataniscas de bacalhau, que é sempre um prato complicado para nós por causa de memórias que temos delas. Aqui no Moinho as pataniscas são diferentes do habitual, espalmadas, quase tipo uma hóstia, estaladiças… mas muito interessantes e saborosas.
Ao mesmo tempo das pataniscas, pedimos uma entrada que nos deixa curiosos: o Segredo do Moinho. Um segredo porque ninguém nos quer dizer o que é, nem quando pedimos nem quando chega à mesa… A promessa é “acreditem que não se vão arrepender”, e é verdade que não nos arrependemos! Há ali uma ave qualquer, porque a textura da carne não engana, mas não vamos dizer qual é para não estragar próximas experiências 😉 Aquilo que vos podemos dizer é que esta entrada é uma surpresa mas acima de tudo uma maravilha! A carne, o toque fresco dos coentros, o molho, as batatas fritas caseiras… enfim, tudo aqui é fenomenal!
Depois deste começo mais do que promissor, um verdadeiro clássico alentejano: a Sopa de Cação. Mais do que uma sopa propriamente dita, é um caldo. E o segredo está exactamente no sabor desse caldo, porque é o que vai embeber o pão (alentejano, claro!). E no Moinho do Cu Torto este caldo é sem qualquer sombra de dúvida o melhor que já comemos! O sabor intenso a coentros misturado com o caldo de peixe, rico, muito rico. Duas boas postas de peixe, cozinhado na perfeição e, claro, pão alentejano para acompanhar. Há algo de incrivelmente reconfortante quando a comida alentejana é bem feita, e aqui não falha nada.
Por isso, foi sem surpresas que as Migas de Espargos, servidas com carne de alguidar, são também um prato excelente. Pelas migas, pela carne, por tudo. Os sabores, o tempero no ponto (é preciso sair de Lisboa para se voltar a pôr sal na comida?!), numa dose que parece pequena quando chega à mesa mas que se revela bastante substancial.
Ora, depois de tudo isto (e de dois jarros do tinto da casa, também excelente!), ainda queremos fechar com uma sobremesa. Quase hora de fecho do restaurante, por isso a escolha já é pouca, e a nossa recai no Bolo Rançoso. Que, como não podia deixar de ser, é caseiro e muito, muito bom! A acompanhar com um café e um medronho também caseiro, oferta da casa. Porque entramos e saímos do Moinho do Cu Torto como amigos.
Há muitos restaurantes bons em Évora, aliás, em todo o Alentejo. Mas o Moinho do Cu Torto continua a ser um dos nossos preferidos. Pela sua genuinidade e pela simpatia de toda a gente que passa pela nossa mesa. Pelo espaço pitoresco que nos faz pensar que estamos mesmo no Alentejo profundo e “caseiro”. Pelos preços convidativos. E, claro, pela maravilhosa comida. Um restaurante tem de ser toda uma experiência, e arrisco-me a dizer que é impossível alguém sair do Moinho do Cu Torto sem ter ficado completamente apaixonado pelo restaurante.
Preço Médio: 18€ pessoa (com vinho da casa, mas nós comemos muito!)
Informações & Contactos:
Rua de Santo André, 2 | 7005-206 Évora | 266 771 060
Estive lá ontem a almoçar, com um grupo de amigos dos bancos da escola António Arroio. O almoço foi divinal, bem confecionado e tipicamente Alentejano. local agradável com gente muito simpática. É local para voltar.