Um clássico… que perdeu um pouco da sua alma.
Este título é um bocado diferente daquele que escrevi no primeiro artigo que aqui publiquei sobre o João da Vila Velha, no longínquo ano de 2013. Nessa altura tinha ido ao restaurante duas vezes de seguida, por causa de trabalho, e tinha gostado imenso! Um restaurante tradicional, cheio de locais e não só, com aquela azáfama das tascas, com comida muito boa, bem servida, a preços justos. Escrevi que era um sítio imperdível, para quem é de Mafra… e não só.

Mas há um fator inevitável: o tempo passa, e nós não conseguimos voltar regularmente a todos os restaurantes que visitámos numa certa altura. Por isso vamos confiando na nossa experiência, e naquilo que as pessoas que nos seguem vão comentando ao longo do tempo. Só que a verdade é que há cada vez mais casos de restaurantes com que nos cruzámos há algum tempos e dos quais gostámos muito… mas que foram perdendo alguma alma e acabaram por se tornar uma coisa diferente. O João da Vila Velha foi um desses casos.
Então o que é que temos para dizer mesmo mal do João da Vila Velha, feita uma visita recente? Na verdade, não há nada objetivo que nos tenha feito mudar de ideias em relação ao restaurante. Aliás, nem sequer foi um mudar de ideias… Aquilo que sentimos ao regressar ao João da Vila Velha é que a comida tradicional continua lá, as muitas opções de pratos continuam lá, o bom atendimento continua lá, e mesmo os preços relativamente em conta continuam lá… só que não sentimos “alma”. Não sentimos que a comida fosse feita e servida com prazer, não sentimos aquele sabor que nos enche todos os sentidos. Sentimos sim, que todas as mesas eram apenas mais uma mesa, para “despachar”, para rodar, porque há sempre mais clientes a aparecer à porta. E isso é triste, é muito triste de pensar sobre um restaurante…

A verdade é que entramos no João da Vila Velha às 12h30 de um dia de semana e, mesmo vendo poucas mesas ocupadas, sabemos que isso muda em poucos minutos. É isso mesmo que acontece, e o restaurante enche rapidamente e começamos a ver pessoas à espera no exterior. E também é verdade que o serviço continua a ser muito simpático, tanto para aquelas mesas que claramente são habituais na casa, como para todas as outras. E isso vale muito, especialmente nos dias de hoje.

Mas depois… depois entramos no campo das comparações. E nem são comparações com outros restaurantes, é mesmo a comparação com aquilo que conhecíamos do João da Vila Velha. E sim, sabemos que experiências são experiências. E também sabemos que não somos assíduos do restaurante… mas precisamos mesmo de ser? Porque fomos 2 vezes na mesma semana ao João da Vila Velha em 2013 e adorámos… e quando regressámos uma vez em 2025 a experiência foi diferente.

É difícil explicar… mas são pequenos pormenores que, para nós, fazem toda a diferença. Os pratos passaram de travessas para pratos individuais, servidos mesmo em pratos. E isso inevitavelmente dá-nos a ideia de que as doses estão menores, ou pior ainda, é aquela lógica de prato do dia, mas em mau. E se a questão do tamanho já nos deixou um bocadinho decepcionados, a rapidez deixou ainda mais. Porque tudo está feito, nada é feito no momento. Só isso explica que os pratos que pedimos na última visita tenham chegado à mesa menos de 5 minutos depois de os termos pedido.
Nesta visita comemos 3 pratos: a Chanfana de Gamo, o Naco de Vitela dos Açores e a Carne de Porco à Portuguesa. Cada um dos pratos chegou demasiado rápido à mesa e, mais do que isso, chegaram em doses individuais, em pratos, o que torna as coisas muito mais automatizadas do que seria esperado. E isso acaba por influenciar a nossa opinião sobre o sabor dos próprios pratos…

Se sobre o Naco de Vitela dos Açores não há muito a dizer – veio no ponto, carne tenra, bem temperada, acompanhamentos que cumprem – e também não podemos dizer que nenhum dos outros dois pratos estava mau. Mas a Carne de Porco à Portuguesa tinha pouco sabor e a carne um pouco rija, e a Chanfana de Gamo – ainda que com a carne na textura perfeita – tinha pouco sabor, não parecia uma chanfana a sério, o molho estava muito deslavado.

Lá está, é muito mais difícil escrever sobre um restaurante quando não há nada que corra incrivelmente mal, mas quando temos aquele sentimento de que as coisas já não são a mesma coisa… É muito subjetivo, eu sei disso, mas quem nos acompanha há mais tempo sabe que escrevemos sobre experiências. E não tenho como fugir a esta minha realidade: a minha última experiência no João da Vila Velha foi muito diferente das anteriores. Foi mais despersonalizada, tanto na comida como na rapidez com que nos fazem sair da mesa (por servir tudo muito rápido, menos a conta).

Podia dizer que tínhamos sido nós a mudar a nossa visão das coisas, e isso prejudicava a experiência. Mas nem foi isso, foi mesmo a experiência que foi muito menos personalizada e impactante do que as anteriores. Foi uma experiência normal, que poderia ter em qualquer restaurante do mesmo registo em Lisboa – ainda que com preços mais caros. Mas foi só isso: no João da Vila Velha tivemos uma experiência “normal”. O que é o adjetivo mais lixado para caracterizar qualquer restaurante…
Preço Médio: 20€ pessoa (com vinho da casa)
Informações & Contactos:
Rua Pedro Julião Papa João XXI, 4 | 2640-518 Mafra | 261 811 254