KITU CHAMPANHERIA

Muitas bolhas, mas pouco sabor.

Gosto de um restaurante com um conceito. Sim, eu sei que provavelmente isso está relacionado com o meu background de publicidade, mas não consigo evitar. Gosto mesmo de um restaurante que tenha uma ideia definida daquilo que quer ser, e especialmente aqueles que resolvem arriscar e criar conceitos inovadores, para se distinguir das centenas de tabernas modernas, hamburguerias smash, fine dinnings e etc.

Por isso, foi com alguma expectativa que fui até Campo de Ourique para conhecer o Kitu Champanheria. Um restaurante do qual só tinha ouvido falar por ver conteúdos de algumas pessoas no Instagram mas que, quando comecei a pesquisar, me despertou o interesse pelo conceito: um restaurante especializado em champanhes (e espumantes), a acompanhar com comida da América do Sul (Peru, México e Equador). Curioso, não é?

kitu champanheria

E então lá vou até Campo de Ourique à procura da Kitu Champanheria. A entrada não diz nada sobre o espaço, mas percebo pelo neon na parede da escadaria que a sala principal é numa espécie de cave. Não é um bom prenúncio… mas quando desço, percebo que o “fator cave” foi aqui bem trabalhado: o papel de parede meio exótico, o uso de mármores claros e de espelhos faz com que o espaço pareça não só menos claustrofóbico, como maior. Num ponto da sala temos o balcão onde vão sendo servidos os copos de champanhe ou espumante, e um balcão ajuda sempre a compor uma sala.

Mas falemos então disso, do champanhe que faz parte do conceito do espaço. Numa curta conversa com um dos responsáveis, percebemos que a ideia era exactamente criar um espaço que desse palco às bolhas, mas sem ter preços exorbitantes. Poder mostrar champanhes e espumantes a copo, a preços mais ou menos justos. E depois aliar isso a pratos que remetam para a cozinha da América do Sul, de onde é outra das donas do espaço. Lá está: conceptualmente, faz sentido.

Só que nem tudo é o que parece… e por mais que a lista de champanhes/espumantes/vinhos do Kitu Champanheria seja efetivamente muito interessante, o grande problema é mesmo a comida. Que se vende mais ou menos bem na ementa, mas que depois falha em grande na execução.

kitu champanheria

Começamos pelo prato que teoricamente seria o mais fácil de acertar, já que estamos a falar de cozinha da América do Sul. Só que o Ceviche de Peixe da Kitu Champanheria falha numa questão base da receita do ceviche, que é o leche de coco (ou leite de coco). Aliás, falha pela ausência dele. Na descrição do prato podemos ler “peixe do dia, leite de tigre, batata doce e milho”, mas como podem ver pela fotografia em baixo, não há leite de tigre quase nenhum no prato. O ceviche quer-se um prato com molho, porque resulta de uma marinada, mas aqui não temos nada disso, assim como não temos aquela acidez que esse ingrediente deveria dar ao prato. Ok que estão lá os outros elementos, é verdade, mas está tudo desligado, porque é o leite de tigre que faz a integração de tudo. Ou deveria fazer…

kitu champanheria
kitu champanheria

O início é mau, mas depois melhoramos ligeiramente, com o Bao Quiteño, que tem carne de porco desfiada, molho de chipotle e pickle de cebola roxa. Bastante bom o recheio, equilibrado em sabores, menos bom o bao, um bocado massudo, completamente dispensáveis as folhas de espinafres que estão por baixo. São para comer, para decorar? Ninguém sabe…

E só para chatear, chegamos então ao prato seguinte, que volta a ser uma desilusão a nível do sabor – ou falta dele. Estamos a falar da Batata Andina com Espuma de Queijo, descrita como uma batata recheada com queijo, chouriço e pickle de beterraba. Aquilo que temos no prato são duas formas de uma espécie de puré de batata, mas com uma textura muito espessa, com uns pedacinhos de chouriço por cima e o tal pickle de beterraba por baixo. Ou seja, ligeiramente diferente da descrição… e novamente com uma falta de sabor gritante. É que nem a espuma de queijo tem alguma intensidade, é tudo muito flat, sem nuances nenhumas. Além de monocromático, o que não ajuda nada a vender o prato.

kitu champanheria

A sobremesa melhora novamente a experiência, ainda que o Parfait de Hibisco seja ligeiramente menos interessante do que o granizado de canela e cardamomo que o acompanha. Ainda assim, são demasiados altos e baixos num só jantar.

Lá está, é um conceito interessante e realmente inovador… mas que depois falha na execução dos pratos. A Kitu Champanheria até podia ser uma lufada de ar fresco no panorama da restauração lisboeta, porque foge às fórmulas pré-definidas e repetitivas. Mas por mais que as referências de champanhes e espumantes sejam boas e até tenham preços apetecíveis, será que vão lá apenas para beber um copo? Porque o que há de sabor nas bebidas falta em muitos dos pratos. E isso transforma logo a experiência em algo menos bom do que estávamos à espera.

Preço Médio: 30€ pessoa (com espumante a copo, mas atenção aos preços)
Informações & Contactos:

Rua Coelho da Rocha, 66 B | 1350-071 Lisboa | 215 961 345

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