VIAGEM A MARROCOS: Marraquexe, Deserto, Chefchaouen ou Cidade Azul, Casablanca, Meknes, Rabat e Tanger.

Tínhamos uma semana de férias para utilizar, sem planos nenhuns. Não queríamos ir para longe, não queríamos voltar a resorts, não queríamos ficar em casa. Por isso, de repente, pensámos em Marrocos! Que não é longe e que, por outro lado, é já bastante distante a nível cultural. Não foi a nossa primeira vez, já tínhamos passado uma semana de férias em Saidia, mas foi maioritariamente resort. Então, depois de algumas pesquisas, resolvemos então voltar a Marrocos e passar uma semana por lá, a conduzir de um lado para o outro.

É esta viagem a Marrocos que vos relatamos agora!

Informações Importantes

Há coisas importantes que é preciso saber se querem mesmo ir a Marrocos, algumas que parecem muito básicas e outras nem tanto. Em primeiro lugar e mais importante: em Marrocos faz muito calor, sendo que no Norte é tipo Portugal mas à medida que vamos descendo para Sul, facilmente as temperaturas chegam aos 40º. É um calor seco, sem humidade nenhuma e a maioria do tempo vão estar em zonas descobertas (menos dentro das medinas), é essencial estarem sempre hidratados, beber muita água (até porque não há álcool na maioria dos sítios, por isso é água mesmo!). Além do calor, o sol é intenso, por isso o protector solar é também indispensável.

Esta questão do calor influencia também o que vestir, para garantirem que não apanham escaldões… mas em relação à roupa o problema é mesmo maior para as mulheres. Se é verdade que nas grandes cidades os turistas andam com a roupa que quiserem e ninguém os chateia, nas cidades mais pequenas as mulheres mais “destapadas” são olhadas de lado e muitas vezes até levam com bocas de outras mulheres. Nunca é muito agressivo, mas às vezes é desagradável.

Sobre os preços das coisas, é estarem preparados para regatear, até porque eles estão à espera disso. Apontem sempre para metade do preço que vos pedem, e não cedam muito, porque a maioria das vezes eles querem é vender, por isso acabam por chegar a um valor bom. Também por causa deste regatear, organizem bem o vosso dinheiro, para terem sempre notas soltas – porque não há melhor forma de regatear do que mostrar “a única nota” que têm 😉

Sobre alojamentos, nós optámos por ficar sempre em riads, dentro das medinas (com a excepção de Casablanca, onde ficámos em hotel). Mesmo no meio da confusão, estes edifícios estão preparados para isolar o ruído, por isso conseguem descansar. Procurar sítios que sejam dentro das medinas, com bons reviews, ar condicionado no quarto e, preferencialmente, piscina, que vos vai dar jeito nas horas de maior calor.

restaurante marrocos

Finalmente, coisas mais específicas: as pessoas são simpáticas mas a maioria delas vai tentar vender-vos qualquer coisa ou levar-vos a lojas, por isso tenham cuidado; evitem seguir “guias” a não ser que lhes perguntem qual o preço que vão cobrar pelo serviço, para não terem uma surpresa no final; a maioria das mesquitas está interdita a turistas, com a excepção da de Casablanca e a determinados horários; não se vendem bebidas alcoólicas dentro das medinas, por isso vão andar a chá marroquino e a água (sempre água engarrafa, lembrem-se disso!); as comidas são condimentadas mas não são completamente diferentes daquilo a que estamos habituados, por isso não vai ser um choque grande; e, finalmente, não se assustem com as orações, especialmente a que acontece a meio da noite 😉

Sobre conduzir em Marrocos

Pela nossa experiência, é bastante seguro conduzir em Marrocos. A maioria das estradas são boas, desde as nacionais até às auto-estradas. Há muitos postos de abastecimento, e os preços variam consoante a marca, não necessariamente a localização, por isso não vão logo ao primeiro sítio. Nós andámos com um carro alugado, por isso foi sempre muito seguro, e nem há grandes dificuldades nos percursos.

Três coisas apenas a apontar: em primeiro lugar, ter cuidado dentro das cidades, porque o trânsito é mais caótico e desorganizado (tentem entrar nas cidades fora das horas de ponta normais e estacionar o carro rapidamente); depois, façam um bom seguro se for um carro alugado, porque há muitos detritos nas ruas das cidades e não é assim tão surpreendente furarem um pneu (a nós aconteceu-nos no último dia e foi um filme…); e, finalmente, respeitem os limites de velocidade, porque especialmente nas estradas nacionais, há muita polícia a controlar, o que leva a multas muito regulares (a nós foi logo no primeiro dia…).

O nosso Roteiro

Tânger

A nossa viagem começou em Tânger, porque foi para lá que voámos. Honestamente, já sabíamos que ia ser apenas um ponto de partida, e pelo que pesquisámos não ficámos muito chateados por andar por lá só uma manhã.

hercules caves

Até porque começámos fora da cidade, nas Hercules Caves… que são uma bela tourist trap. Esperávamos grutas enormes e labirínticas, mas na realidade é apena uma pequena gruta que tem uma abertura onde se vê o mar. Acreditamos que ao final do dia seja mais giro, para se ver o pôr-do-sol, mas como atração turística em si não vale a pena o desvio.

marrocos tanger

Tangêr em si é uma cidade perto do mar, por isso a zona costeira está mais próxima do que vemos no Algarve e no sul de Espanha do que aquilo que vamos encontrar mais para a frente na nossa viagem. A medina não é assim tão interessante nem caótica, é tudo demasiado ocidentalizado. Andámos por lá umas 2 horas e resolvemos seguir caminho.

Restaurant Sed Nakhla

Curiosamente, a primeira surpresa da viagem foi a viagem até Chefchaouen, porque esperávamos uma paisagem desérticas e não há nada disso. Estamos num registo de Norte de Marrocos, com muita vegetação e água. Aliás, a paisagem na zona da barragem de Ennakhla é tão bonita que resolvemos parar num restaurante panorâmico, o Restaurant Sed Nakhla. Vista maravilhosa, pensámos ser uma tanga, só para turistas… e acabámos por comer a melhor Tagine de Borrego que comemos em toda a viagem! Por isso, se fizerem esse percurso, não hesitem.

Restaurant Sed Nakhla tagine

Chefchaouen, a Cidade Azul de Marrocos

Chefchaouen, a Cidade Azul de Marrocos

Foi a primeira paragem efectiva da nossa viagem… e também a cidade que mais correspondeu às expectativas. Como todas as localidades em Marrocos, o mais interessante está dentro da medina (cidade velha) e aqui temos praticamente todas as casas pintadas de azul. São ruas, escadarias, recantos, becos sem saída, pequenas praças, tudo pintado de azul ou com apontamentos da mesma cor, criando uma mancha fantástica.

Chefchaouen, a Cidade Azul de Marrocos
Chefchaouen, a Cidade Azul de Marrocos

Há spots mais turísticos que outros, é verdade, mas qualquer recanto dá para tirar uma daquelas fotografias bem “instagramáveis”. Ora vejam:

Chefchaouen, a Cidade Azul de Marrocos
Chefchaouen, a Cidade Azul de Marrocos

A cidade é pequena e fácil de percorrer, com lojinhas de artesanato em todas as ruas, que ficam abertas até tarde à noite. Porque a própria cor azul das casas ganha outro encanto à medida que vai anoitecendo, especialmente na altura do pôr-do-sol, por isso é andar pelas ruas, parar num bar qualquer para beber um chá, andar mais um pouco… e assim por diante.

Chefchaouen, a Cidade Azul de Marrocos
Chefchaouen, praça

Dica imprescindível: subir o monte que fica ao lado da cidade, onde está a Spanish Mosque, e fazê-lo antes do pôr-do-sol. Ver a luz a cair sobre a cidade é uma experiência incrível, e vale completamente os quase 30 minutos de caminhada a subir até lá.

Chefchaouen, a Cidade Azul de Marrocos

Onde Vamos Jantar? … em Chefchaouen.

Em cada sítio por onde fomos parando tínhamos sempre uma ou outra referência de restaurantes onde jantar, porque durante o dia o registo foi sempre de street food, coisas rápidas. Em Chefchaouen o escolhido foi o restaurante Bab Sour, curiosamente muito perto do riad onde ficámos alojados. Começamos a perceber que há muitos pratos repetidos em todos os restaurantes, nomeadamente as tagines e o couscous, mas aqui podemos provar coisas diferentes: Mrozia e Tangyia, dois pratos de carne tipo estufada, algo condimentados. Os sabores são muito parecidos por causa das especiarias utilizadas, ainda que a Tangyia – que já tínhamos comido em Portugal, no restaurante Chez Idriss – seja mais interessante pelo toque cítrico do limão.

tagine

Moulay Idriss

Depois de Chefchaouen, fizemos quase 3 horas de carro até Meknes, uma antiga capital marroquina. Mas a caminho quisemos passar por Moulay Idriss, porque em grande parte dos sítios onde pesquisámos sobre uma road trip em Marrocos, esta era uma paragem obrigatória. Felizmente para nós, foi só mesmo uma paragem.

moulay idriss
Esta é a vista de que todos esses blogs e roteiros falam, mas é mesmo só isto. A cidade é pequena, nada turística mas também pouco interessante, e é impossível chegar aos sítios onde se tem esta vista com apenas o Google Maps. Por isso, há sempre gente na rua disposta a levar-vos lá… mas por um preço, claro. E depois de quase meia hora a andar por ruas sinuosas, o Grand Terrace (de onde têm esta vista) é apenas um espaço entre casas. Mais nada. Honestamente, não vale a pena.

Meknes

Mais meia hora de caminho e chegamos então a Meknes, onde ficamos novamente alojados dentro da Medina, mas mais ou menos à entrada, para os acessos serem fáceis. Ora… é mais ou menos a esta altura da viagem que começamos a perceber que se calhar isto vai ser tudo um bocado “mais do mesmo”.

meknes
meknes

A medina de Meknes é uma confusão, só pessoas a vender tudo e mais alguma coisa, ruas estreitas e labirínticas, barulhos, cheios. Ou seja, um bocadinho daquilo que já tínhamos visto em Fes (explicamos à frente) e mesmo em Chefchaouen. Infelizmente apanhámos imensos edifícios em obras, aliás, artérias inteiras da cidade fechadas com trabalhos, por isso a experiência ficou um bocado manchada por isso…

meknes

Se dentro da medina temos as várias ruas e a praça principal, do lado de fora temos a zona da Cidade Imperial. Trata-se de um complexo enorme, que só se pode visitar de fora (e há charretes para o fazerem, se quiserem), com a excepção do Mausoléu de Moulay Ismail, que se trata de um edifício onde temos o túmulo do fundador da cidade. Não se paga… e não precisamos de dizer mais. E aqui foi o primeiro sítios onde começámos a perceber que há muitos marroquino que são aparentemente simpáticos e querem mostrar-te coisas… mas na realidade querem apenas levar-te a lojas para gastares dinheiro.

meknes
meknes

Onde Vamos Jantar? … em Meknes.

Outra coisa que rapidamente percebemos em Marrocos é que há muitos restaurantes que não têm qualquer referência no Google e, por consequência, nos mapas. Pesquisámos em blogs, sites, tudo e mais alguma coisa, e o restaurante mais referenciado em Meknes (exceptuando aqueles que percebemos logo que eram mais caros e turísticos) foi o Restaurant Aisha. Fomos lá ter pela morada, assim um bocado à sorte. É um espaço simples, fechado mas com ar condicionado (graças a Deus!!), música completamente desenquadrada (estivemos o jantar inteiro a ouvir um “best off” de Scorpions… mas a comida é muito boa!

meknes sopa harira

Provámos a sopa Harira (a sopa tradicional marroquina, muito densa e condimentada), fizemos a nossa primeira incursão nas Pastilla (uma espécie de chamuça mas com recheio de galinha e exterior doce, o que é muito estranho… e não, não conseguimos encontrar a de pombo em lado nenhum, que parece ser a mais típica e rara de encontrar) e ainda provámos o Vegetarian Rice (um arroz com legumes, só isso) e o Rfissa (um prato tradicional berbere, baseado no flat bread que eles comem, misturado com legumes e alguma carne, bastante engraçado).

meknes pastilla
meknes tagine

Fes

Fes fica a cerca de 25 minutos de carro de Meknes, e só não regressámos lá porque o nosso roteiro nos levava para o lado contrário. Além disso, passámos lá um dia inteiro quando fizemos férias em Saidia, e a experiência foi já muito marcante.

Fes porta

Fes tem a maior e mais antiga medina de Marrocos e é, no fundo, a “capital cultural” do país. É o mais próximo que vamos estar da verdadeira cultura marroquina, porque tudo o resto acaba por ter toques ocidentalizados ou turísticos.

Os primeiros pontos de paragem são os vários portões de acesso à medina, que por si só são bonitos e imponentes… mas o importante é mesmo entrar. Porque a medina de Fes é um choque cultural enorme, especialmente para quem nunca esteve em países Árabes. Um autêntico labirinto onde temos mesmo de ir com guia, e mesmo assim achamos sempre que estamos perdidos (e as recomendações para ninguém se afastar do grupo são constantes). Um sem número de marroquinos, entre eles crianças, sempre a tentarem vender algum tipo de bugiganga, cujo preço vai baixando a cada vez que dizes “não”.

fes

Tudo se vende nas ruas da medina, desde têxteis e bens essenciais até coisas para nós mais exóticas como cabeças de cabra ou cascos de camelo. O que se destaca acima de tudo é a pobreza, os cheiros intensos e toda uma arquitectura caótica. É verdade que muita gente diz isto de todas as medinas em Marrocos, mas nós que estivemos em várias podemos dizer com certeza absoluta que nenhuma é tão intensa como a de Fes.

fes

A tour que fizemos (nessa nossa primeira viagem) leva-nos por dentro e fora da medina, passando por sítios historicamente importantes da cidade e também por locais estrategicamente escolhidos para nos fazer comprar coisas (como é habitual em Marrocos), mas onde também conseguimos conhecer um pouco mais do trabalho e cultura que ali existe: o trabalhar o bronze ou o couro, a produção têxtil ou a medicina alternativa e natural das farmácias bere bere, por exemplo. As cores, os cheiros, tudo é intenso, acreditem!

tinturaria fes

Fes merece uma visita pela experiência que isso nos proporciona, que é muito mais genuína do que qualquer outra cidade que vão encontrar em Marrocos. Por isso, organizem a vossa viagem!

Rabat e Casablanca

Continuando a viajar, eis que resolvemos passar em Rabat a caminho de Casablanca. As estradas são boas para conduzir (sempre dentro dos limites de velocidade), por isso tivemos cerca de 5 horas para “gastar” na capital. Resolvemos começar na zona dos monumentos mais imponentes e depois descer para a medina e andar um pouco por lá.

rabat
rabat

A zona da Hassan Tower e do Mausoléu de Mohammed V é altamente cerimoniosa, uma praça enorme com dezenas de colunas, ideal para a malta que acha que tem de aparecer em todas as fotos que tira. Está tudo muito cuidado, aliás, Rabat é a cidade mais limpa e cuidada por onde passámos em Marrocos.

rabat

Mesmo a medina é muito mais organizada e “limpa” do que as outras que visitámos, desde os muros brancos que a circundam até ao seu interior. Mesmo no meio há uma praça onde se pode comer – basta seguirem o cheio – e o que é curioso (ou não) é que aqui come-se basicamente só peixe, entre frito e grelhado. Estamos numa cidade costeira, por isso talvez seja mais ou menos de esperar. Nós parámos no primeiro sítio onde estava uma grelha com sardinhas, e sentimo-nos nos Santos Populares: boa sardinha, bem grelhada, acompanhada por uma salsa fantástica e pão marroquino, claro. A única diferença é que aqui pagámos menos do que em Alfama.

sardinhas em rabat

Depois, seguimos viagem para Casablanca, cidade para a qual tínhamos muito poucas expectativas. Todos nos disseram que Casablanca é a cidade mais ocidental de Marrocos, completamente internacional, e isso é-nos também dito pelo consierge do hotel em que ficamos: “uma espécie de Nova Iorque em Marrocos”. Um bocado exagerado, dizemos nós…

casablanca

A verdade é que Casablanca é a cidade mais desinteressante de todas aquelas em que estivemos em Marrocos. A zona mais empresarial está cheia de prédios altos e parece-se mesmo uma metrópole europeia ou americana, mas depois existe um contraste enorme entre este registo e o outro, o mais tradicional, onde há zonas de pobreza extrema. Estamos a falar de um contraste mesmo muito grande, e muitas vezes isso reflete-se numa rua de separação.

casablanca

No meio de prédios, uma medina muito pobre e praças com monumentos pouco interessantes, aquilo que se destaca mesmo a sério em Casablanca é a mesquita. Que é a mais bonita e imponente que vimos em todas as cidades marroquinas! Fica mesmo em cima do mar, o que lhe dá uma magia diferente, e pode inclusivamente ser visitada (fora do horários das orações). Mas mais do que isso, é imprescindível ir à Mesquita Hassan II na altura da oração do pôr-do-sol, porque é uma experiência incrível: o som da oração, as luzes a acenderem ao mesmo tempo que o céu fica mais escuro, há todo um ambiente místico neste local que dificilmente vão encontrar noutro sítio em Marrocos.

mesquita casablanca
mesquita casablanca

Onde Vamos Jantar? …. em Casablanca.

Em Casablanca tínhamos um restaurante referenciado, também com algumas dificuldades em perceber onde ficava (moradas diferentes em sítios diferentes…). Mas ainda antes de ir à procura dele, enquanto andávamos simplesmente a passear na cidade, tivemos uma surpresa engraçada: esbarrámos com o “Dom Petiscos”, um restaurante português! Sim, isso mesmo! Com pratos e petiscos muito aproximados ao que se come em Portugal, temos de admitir! Ok, os croquetes são mais croquetas à espanhola, mas o prego é bastante parecido. E ainda tem vinhos nacionais (embora a cerveja seja Estrella Damm). Ainda assim, muito engraçado!

casablanca restaurante dom petiscos portuguès

O jantar foi no Etoile Centrale, sem presença nas redes sociais e com moradas confusas no Google Maps. Novamente o mesmo tipo de decoração no restaurante e o mesmo tipo de pratos na ementa – e, para beber, chá marroquino. Foi um fartote durante esta semana… Comemos umas chamuças normais e dividimos um dos pratos mais emblemáticos de Marrocos, o Couscous Royal, sem lhe achar grande graça, sem grande sabor, textura em papa. Mas mais à frente vão ler sobre outro que comemos e percebem porque é que este foi menos interessante.

casablanca couscous royal

Marraquexe

Foram mais 3 horas de viagem, desta vez por auto-estradas, e finalmente chegamos a Marraquexe. Percorremos o exterior da medina para estacionar o carro num parque público fechado mesmo na entrada, e o nosso riad era também já dentro da medina.

marraquexe

A nossa principal dica para Marraquexe é: fiquem num riad/hotel com piscina! Assim podem aproveitar as horas de maior calor para estar de molho. Porque a cidade é mesmo muito quente, e na verdade não tem assim tanto para ver além das ruas da medina e do bairro judeu, mais uns jardins e um ou outro palácio. E isto faz-se num dia, na boa. O ideal mesmo é visitar as cenas mais culturais logo cedo de manhã, porque há menos calor, depois estar na piscina do riad ou hotel e, ao final do dia, seguir para a medina.

Praça Jamaa El Fna marraquexe

Isto porque o ponto central da medina de Marraquexe – a Praça Jamaa El Fna – ganha vida a partir das 18h, quando começam a ser montadas as bancas de comércio, os espetáculos ambulantes e, claro, as bancas de street food. E é pela noite dentro que esta praça se torna o centro da animação de Marraquexe, com muita gente, barulhos, cheiros, luzes. Toda a gente a tentar vender qualquer coisa, turistas perdidos mas felizes no meio da confusão, coisas a acontecer em todo o lado.

Praça Jamaa El Fna marraquexe marrocos
Praça Jamaa El Fna marraquexe marrocos

E sim, a principal atração são as bancas de sumos e de comida, onde temos toda a gente a chamar-nos, a gritar para irmos ter com eles. Nas de comida então a malta chega a ser um bocado insistente demais, mas nada que um “não” mais efectivo não resolva. O truque é não parar muito, continuar a nadar… porque se pararem, demonstram interesse, e aí já foram!

Praça Jamaa El Fna marraquexe marrocos
Praça Jamaa El Fna marraquexe marrocos

Podem passar muitos ou poucos dias em Marraquexe, mas garantimos que vão acabar todas as noites nesta praça, porque é mesmo o centro da vida da cidade. E todos os dias vão ver alguma coisa diferente, porque nunca vão conseguir ver tudo ou perceber tudo o que está a acontecer.

Praça Jamaa El Fna marraquexe marrocos

Em volta desta enorme praça, fica então a ainda maior medina de Marraquexe. Que não é tão genuína como a de Fes mas é igualmente labiríntica. Se tiverem tempo, deixem-se simplesmente andar perdidos, porque é uma experiência engraçada. Mas tenham atenção que muitos dos marroquinos que se vão meter convosco para “ajudar a levar-vos à Praça”… vão no fundo fazer-vos passar por uma loja e tentar vender-vos coisas.

marraquexe
marraquexe

A medina de Marraquexe tem tudo à venda, a maioria dos vendedores fala várias línguas por isso tem sempre como se meter convosco e, mais importante, é completamente segura para se andar a qualquer hora. É preciso é ter sempre atenção ao facto de nestas ruas estreitas passarem pessoas, mas também animais, bicicletas, muitas motos e às vezes até carros! Ou seja, têm de estar sempre com atenção a todo o lado.

mesquita marraquexe
mesquita marraquexe

Numa das extremidades da medida, depois da praça, temos a avenida que nos leva até à Mesquita Koutoubia, a maior de Marraquexe. É imponente, mas não dá para visitar. O que dá para visitar – e é bastante interessante – é o Bahia Palace, não muito longe dessa zona. São vários espaços e salas diferentes, todos com pormenores muito interessantes, e com sombras, o que é sempre bom no calor que se faz sentir por lá. Além disso, mesmo ao lado deste palácio têm o Bairro Judeu, que funciona quase como a medina (com as suas ruas apertadas e que parecem um enorme labririnto) mas que tem uma grande diferença: as mulheres não usam jihab. O dia ideal para ir a este bairro é Sábado, logo pela manhã, e andar por lá um bocado perdidos. Mas, mais uma vez, atenção à malta que vos quer ajudar a chegar a qualquer lado… querem é levar-vos a lojas.

bahia palace marraquexe

Finalmente, os jardins. Há dois jardins principais em Marraquexe, e valem ambos uma visita, até porque são espaços com sombras e dá para descansar um bocado. O mais conhecido – e aquele que está completamente cheio de turistas – é o Jardim Majorelle, relacionado com Ives Saint Laurent porque o senhor o comprou e colocou lá uma coleção de arte. O jardim em si é muito bonito, com apontamentos de azul (o azul marroquino), vários recantos com sombras, flora diversificada. A entrada paga-se, mas vale a pena a visita, até porque tem spots que parecem mesmo feitos para tirar fotografias para Instagram, por isso é ver as “wannabe” influencers a darem tudo!

Jardim Majorelle marraquexe
Jardim Majorelle marraquexe

O outro jardim a visitar em Marraquexe fica mesmo dentro da medina e, não só pelo contraste mas por ser mais pequeno e não tão visitado, achámos mais engraçado: é o Le Jardin Secret, literalmente um pequeno oásis no meio da confusão da medina, com vários espaços muito bem cuidados e muito bonitos.

jardim secreto marraquexe

Onde Vamos Jantar? … em Marraquexe.

A primeira opção em Marraquexe é, claro, comer na Praça Jamaa El Fna. A zona central da praça começa a ganhar vida ao final do dia, quando começam a ser montadas as bancas de comida… e depois é tudo ao molho e fé em Deus! Cada banca tem uma oferta diferente (mais ou menos, há sempre coisas repetidas) e tem também vários funcionários a tentar convencer-nos a escolher a sua em detrimento das outras. Isto pode ser cansativo porque eles são mesmo insistentes, mas o truque é agradecer, dizer que não e continuar a andar.

Praça Jamaa El Fna

E aqui é literalmente arriscar! Não vale a pensa dar dicas nem procurar referências, porque cada sítio tem a sua banca preferida. É passearem um bocado, deixarem-se ser assediados mas não muito, verem o que vos agrada mais e o que cheira melhor (e onde está mais gente a comer) e pronto. Sentam-se e deixam-se ir. E atenção, porque tudo o que chega à mesa tem um preço, desde o pão até aos molhos, por isso nunca vão pagar só o valor dos pratos que está no menu. Aconselhamos a não perder os Calamares e os Kebab (espetadas!).

kebab no mercado de marraquexe Praça Jamaa El Fna
calamares no mercado de marraquexePraça Jamaa El Fna

Mas há muito mais street food em Marraquexe, aliás, é mesmo o que há mais nas ruas da medina. Aqui nem vale a pena dar referências, porque não tínhamos nenhuma… mas fizemos o que já fazemos habitualmente nas nossas viagens: vemos um spot com muitos locais à espera para comer e ficamos por ali. Esta é mesmo a melhor forma de experimentar coisas engraçadas.

espécie de hamburguer em marraquexe
sumos de fruta em marraquexe

Por outro lado… sendo um das cidades mais internacionalizadas e turísticas de Marrocos, é normal que Marraquexe tenha uma grande oferta de restaurantes mais ocidentalizados, muitos deles onde inclusivamente se servem bebidas alcoólicas (e dentro da medina). Levámos algumas referências retiradas de blogs e programas de tv, mas acabámos por só fazer duas refeições em restaurante, e deixar o resto para comidas de rua.

Ainda assim, dentro da medina, destaque claríssimo para o Nomad. Restaurante de inspiração marroquina mas com influências mediterrâneas, com preços bastantes acessíveis e comida fantástica. Oram vejam aqui algumas fotos:

restaurante nomad marraquexe marrocos
restaurante nomad marraquexe marrocos

E ainda melhor que a comida é a vista do terraço, onde devem tentar mesmo ficar. Estamos exactamente no centro da medina, vemos toda uma confusão de telhados de perder a vista. E, dica importante: antes de marcarem mesa para jantar, vejam a hora do pôr-do-sol e, consequentemente, da oração do início da noite. O pôr-do-sol visto do Nomad é lindo, e há qualquer coisa completamente mística em vê-lo enquanto ouvimos o sistema de som de todas as mesquitas da cidade a transmitir a oração. É uma experiência inesquecível.

restaurante nomad marraquexe marrocos
restaurante nomad marraquexe marrocos

Muito diferente foi o almoço que tivemos no Amal Women’s Training Center, uma associação dedicada a proteger os direitos das mulheres marroquinas e dar-lhes oportunidades de trabalho, que também tem um restaurante. Que é completamente turístico e que está completamente cheio de turistas (como nós) que viram um programa da Netflix onde isto aparecia. Lá está, nem sempre resulta bem seguir programas de TV…

Amal Women's Training Center restaurante
Amal Women's Training Center restaurante
Amal Women's Training Center restaurante

Preços mais altos do que noutros restaurantes, comida menos tradicional, sumos caríssimos, serviço a despachar, porque há sempre mais turistas à espera… e daqueles que pedem mais coisas do que nós pedimos. Foi a maior “tourist trap” que tivemos em Marraquexe. Enfim…

Street Food Tour em Marraquexe

Mas, felizmente, foi no mesmo dia em que almoçámos nesse restaurante que terminámos a noite a fazer uma street food tour… que foi verdadeiramente maravilhosa! Marcámos na Marrakech Food Tours (que vimos no mesmo programa da Netflix) e aqui a experiência foi diametralmente oposta. O guia que nos acompanhou foi fantástico, não só com explicações gastronómicas mas com muita cultura à mistura, e a própria tour leva-nos a vários restaurantes e bancadas de street food mas também a muitos outros sítios onde nunca teríamos conseguido ir.

tangia de borreco marraquexe
tangia de borreco marraquexe

Começamos com o célebre Roasted Meshoui, o borrego assado durante longas horas debaixo da terra, que fica tão tenro que deve ser comido à mão (e lamber os dedos, malta, porque é delicioso!), e também com uma fantástica Tangia de Borrego, super apurada, forte no limão desidratado e no açafrão. Aliás, a meio da food tour levam-nos mesmo a um destes fornos comunitários, onde há pessoas que ficam o dia inteiro a cuidar de fornos e a cozinhar estes potes de tangia debaixo do chão, para as pessoas daquele bairro.

tangia de borreco marraquexe

Comemos de tudo um pouco, durante 3 horas a passear pela medina: burgers de sardinha, uma espécie de donuts com massa de fartura, pão, azeitonas, caracóis, sopa harira, sumos variados e smothies, todo o tipo de doces marroquinos. Visitámos uma padaria tradicional onde podemos ver como se faz o pão marroquino seguindo os métodos mais ancestrais.

hamburgueres de sardinha em marraquexe
dounuts incríveis em marraquexe
lanche na cidade azul

E terminamos num segredo muito bem guardado, até porque não conseguimos lá voltar. Mesmo perdido no centro da medina existe uma espécie de cozinha comunitária, gerida por uma senhora amorosa a quem chamam a “Mãe da Medina”, porque todos os dias ela e a filha cozinham pratos para os vendedores da medina irem buscar para almoçar. Lá comemos um verdadeiro Couscous Royal, mas este não podia ter mais sabor e textura, simplesmente fantástico. E quisemos comer como deve ser, com as mãos, para respeitar os ingredientes e as cozinheiras, que estavam deliciadas a ver-nos comer como é suposto.

mais uma tagine

Por isto tudo, recomendamos vivamente esta street food tour em Marraquexe! Mas também recomendamos que arrisquem na comida de rua, vejam as lojas ou bancas que estão cheias de marroquinos, porque essas vão ter as melhores coisas. Deixem-se ir, porque só assim é que vão ter a verdadeira experiência gastronómica de Marrocos… ou de qualquer país.

A Viagem ao Deserto de Merzouga (Erg Chebbi)

E agora… o deserto. Dunas, camelos, acampamentos no meio do nada, calor abrasador. Cenários tipo estes que podem ver em baixo:

deserto merzouga marrocos
deserto merzouga marrocos

Giro, não é? Pois é… mas há muitas coisas que precisam de saber antes de se deixarem ir pelas fotos de cenários maravilhosos. E nem todas são boas.

Em primeiro lugar, há vários acessos ao deserto em Marrocos, e saindo de Marraquexe podem ir até Zagora (um deserto de pedra, mas mais próximo) ou até Merzouga, onde são as dunas de Erg Chebbi, as que vêm nas fotos em cima (mas que ficam mais longe). É mais longe e mais caro, mas entre pedras e dunas, fomos para as dunas. E depois há ainda outra entrada no Sahara, na zona de M’Hami , para onde só se fazem tours privadas, com valores a rondar os 300€ pessoa. Era uma destas que devíamos ter feito.

deserto merzouga marrocos

Mas não, pesquisámos online e escolhemos aquela que nos pareceu a melhor opção: tour de 3 dias até Merzouga, com uma noite no meio do deserto, minibus confortável e com ar condicionado e guia multilíngue, refeições incluídas e etc. Não foi caro (95€ + 2 upgrades que fizemos para ter quartos sem ser partilhados e com casas de banho próprias). Mas é aqui que aquele ditado sobre “o barato saiu caro” começa a fazer sentido.

deserto merzouga marrocos

O minibus vai completamente cheio, tendo inclusivamente de ocupar os bancos da frente (calhou-nos a nós a fava); o ar condicionado só é ligado quando o condutor quer (e estamos a falar de temperaturas a rondar os 40º); o condutor fala um bocadinho de inglês e mais nada; as paragens são quando ele quer, ainda que passemos por locais com vistas fantásticas. E depois disto tudo, ainda outra agravante: a viagem de Marraquexe até ao deserto demora quase um dia inteiro, e na ida fazêmo-la em 2 dias… o que significa que no regresso temos de estar no minibus durante cerca de 13 horas.

marrocos

Em relação a comidas, só o jantar e pequeno-almoço é que estão incluídos (e comemos sempre a mesma coisa, tagine ou tagine). Os almoços (e outras paragens) são feitos onde der jeito aos motoristas parar, em restaurantes preparados para estes grupos, nos quais temos menus pre-definidos. Pelo menos há sempre kebabs ou uma variante da tagine que descobrimos ser bastante interessante: a Tagine de Kefta, que são basicamente almôndegas, mas com um molho condimentado e ovo escalfado.

kebab
tagine de almondegas

Mas tudo isto valeria a pena se o deserto fosse inesquecível, não é? Pois, o problema é também esse… Porque, na verdade, já desde há uns anos que os acampamentos não são efectivamente no meio do deserto, por questões de segurança. Por isso mesmo, todos os acampamentos ficam laterais ao início das dunas, e uns muito próximos da estrada. Como aquele que nos calhou, que era logo o primeiro… a literalmente 3 minutos de carro da estrada. Por isso, se olharmos para um lado vemos as dunas maravilhosas, e se olharmos para outro vemos a estrada. Isso mesmo.

deserto merzouga marrocos
passeio camelo deserto merzouga marrocos

Então mas se é assim tão perto, no que é que consistem as 2h a andar de camelo incluídas na tour? Consistem em ir de camelo até às dunas, andar ali um bocadinho, tirar imensas fotos, desmontar o camelo para ficar sentado à espera do pôr-do-sol, voltar ao camelo e depois seguir para o acampamento. Dessas 2h, diríamos que são cerca de 45 minutos a andar de camelo. Sendo que se alguém se cansar ou sentir mal, está literalmente a 15 minutos a pé pelas dunas até chegar ao acampamento, pelo que esqueçam a ideia do “meio do deserto”.

passeio camelo deserto merzouga marrocos

No acampamento, tudo é preparado para turistas. As tendas são porreiras mas, claro, ficam um forno durante a noite (nem ar condicionado nem ventoinhas nem nada). Aqui há cerveja a preços absurdamente caros para a realidade de Marrocos, aliás, até a água custa 3 vezes mais. A animação proporcionada é fraquinha, mas não esperávamos mais do que foi. E as atividades que aparecem indicadas na tour (ver o nascer do sol, fazer sky nas dunas, coisas dessas) podem ser feitas, mas não há nada organizado, é tudo feito por nós próprios. Ou seja, muito diferente do que esperávamos, e atenção que já não íamos com muitas expectativas…

acampamento deserto merzouga marrocos
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Ainda assim, no meio de tudo isto, há coisas que nos ficam na memória da tour. Quando vistas na perspectiva certa, as dunas de Erg Chebbi são efectivamente muito bonitas, e mais do que o pôr-do-sol, o nascer do sol é marcante. Marcante é também grande parte da paisagem do caminho, desde o atravessar do High Atlas até à zona de Dadès Gorges e Tinghir com os seus enormes desfiladeiros.

montanhas atlas marrocos
montanhas atlas marrocos
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A paragem obrigatória em Aït Benhaddou é mágica, porque esta cidade é verdadeiramente bonita – foram aqui gravados episódios do Game Of Thrones e de diversos filmes, cujas fotos até vemos expostas em vários sítios. Mas a cidade em si é de visita obrigatória. E há ainda tours destas que passam pelas Ouzoud Waterfalls, umas cascatas enormes, no meio do nada.

Aït Benhaddou  marrocos
Aït Benhaddou  marrocos

Bom, bem sei que não tivemos a melhor experiência nesta tour ao deserto em Marrocos, mas não queremos com isto dizer que não devem de todo fazer uma tour destas. Tenham apenas consciência do que isso implica, procurem mais soluções, revejam percursos e hotéis e todo o tipo de condições. Se possível, perguntem exactamente qual o acampamento onde vão ficar e as condições das tendas. Porque todos esses pormenores fazem uma grande diferença, acreditem.

deserto marrocos merzouga

Considerações Finais

Se ficámos apaixonados por Marrocos no seu todo? Não, não ficámos. Mas também nem sequer conseguimos explicar bem porquê… Encontrámos pessoas muito simpáticas e outras que apenas nos queriam enganar; visitámos locais maravilhosos e outros que são apenas mais do mesmo; apanhámos uma multa de velocidade e tivemos um furo, mas mais nenhum problema com o carro ou a condução; comemos muita coisa desinteressante e repetida, mas outras coisas surpreendentes em sítios fantásticos. E consegue-se fazer muita coisas com um budget relativamente controlado. É um bom gateway para uma cultura diferente da nossa, sem dúvida. Mas não ficámos apaixonados, nem com vontade de regressar.

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