Uma Marisqueira “à antiga”. E o Melhor Prego de Atum do Mundo!
Começando logo por explicar o título, a segunda frase não precisa de qualquer explicação. E para saberem mais, têm de ler o resto do artigo 😉 Mas a primeira frase do título precisa de um pequeno enquadramento…
Lisboa é um cidade com marisqueiras emblemáticas, algumas delas sobre as quais já aqui escrevemos – vejam os exemplos da Cervejaria Ramiro ou do Nune’s Real Marisqueira. Espaços clássicos, com uma reputação e qualidade excelentes… mas que também resultam bem porque existem há imenso tempo. A verdade é que, depois da fase que atravessámos há uns anos com as tascas modernas, até as “marisqueiras” novas que foram abrindo em Lisboa não são bem marisqueiras tradicionais… São mais espaços que servem marisco pequeno, em receitas de fusão, numa óptica de petiscaria moderna. Isso não quer dizer que sejam restaurantes maus, antes pelo contrário – e um desses casos é o excelente Água Pela Barba – só que não são aquela marisqueira tradicional como sempre as conhecemos.
Quando falo de marisqueira tradicional, falo daquelas “à antiga”, com um aquário grande logo à entrada, onde podemos ver o marisco que daqui a pouco vai para o prato. E se há uma coisa que se destaca de caras no novo Pesqueiro 25 é o aquário de 6 metros logo perto da porta. Um aquário enorme, bonito e, principalmente, muito bem recheado. É algo que se destaca na sala toda, e que faz com que a maioria dos clientes esteja constantemente a desviar o olhar dos seus pratos para lá! Camarões, lagostas, lagostins, bruxas e até caranguejo real. Uma verdadeira maravilha!
O Pesqueiro 25 abriu há cerca de 6 meses na “rua cor-de-rosa”, no Cais do Sodré, e pode passar um pouco despercebido por ficar num primeiro andar e não ter montra para a rua. Mas garanto-vos que basta subirem um lanço de escadas e entrarem no espaço para ficarem completamente rendidos! Não só o aquário é assim uma coisa do outro mundo, como todo o espaço é muito interessante. Mobiliário sóbrio e moderno, pouca decoração, iluminação quente, ou seja, estamos num registo moderno e algo sofisticado, mas sem o ser em demasia, de forma a deixar toda a gente à vontade. Pela sua localização, na sala há um misto de turistas e locais, que vão sempre olhando para o aquário antes de fazer qualquer escolha da ementa.
E onde é que entra o ser uma marisqueira “clássica”? Pois que exactamente na ementa. Aqui não há pratos sofisticados ou de fusão. Aqui há marisco! Fresco, cozinhado na altura, com mestria, das formas mais tradicionais. Para realçar a frescura do produto. Uma apresentação mais contemporânea, é verdade, mas tudo muito simples e directo. Porque quando o marisco é bom só precisa de ser bem cozinhado e vir para a mesa. Mais nada!
Por isso mesmo, enquanto vamos devorando o presunto e queijo que nos esperam na mesa, com um maravilhoso pão torrado, resolvemos escolher algumas coisas para ir petiscando. As tábuas de marisco são tentadoras, mas como queremos pedir algumas entradas, são claramente demais para duas pessoas. Fica para a próxima! 😉
Começamos com a Sopa de Lavagante com Ovas, servida no momento, e que é excelente. Densa, saborosa, rica, com o toque das ovas a completar o sabor perfeito do creme de lavagante.
Depois, ainda com o azeite a borbulhar, chega o Camarão à Guilho. Bom e carnudo, mas onde se destaca mesmo o molho, que nos leva o resto do pão do primeiro cesto e todo um segundo cesto. Aquele toque de picante da malagueta e do gengibre, na dose perfeita para não se tornar demasiado agressivo. E um pormenor importante: o alho não vem queimado, como acontece a maioria das vezes e que estraga o molho todo. Perfeito!
Por falar em molho, o da Amêijoa Real à Bulhão Pato é bom, mas não tão bom como o das gambas. Neste prato destaca-se claramente própria amêijoa, grande, cozinhada no ponto. Lá está, uma marisqueira tem, acima de tudo de ter bom marisco, seja ele qual for. E tem de saber cozinhá-lo bem. Até aqui, no Pesqueiro 25 tudo estava a bater certo.
E continuou 🙂
De seguida chega à mesa um excelente Camarão Tigre, novamente no ponto perfeito, acompanhado de um molho de manteiga guloso. É talvez o prato mais simples da noite, mas o que é que isso interessa se o marisco é bom?! Não é preciso nenhuma técnica moderna nem um acompanhamento internacional, nada disso. Bom camarão tigre, bem trabalhado na grelha. Pronto!
Neste momento já estávamos mais do que cheios, porque as doses são enormes… mas uma marisqueira tradicional pede sempre um prego no final. É a sobremesa antes da sobremesa. E no Pesqueiro 25, quando íamos pedir o prego do lombo, sugeriram-nos experimentar o de atum. Minha gente, posso dizer-vos com toda a certeza: no Pesqueiro 25 come-se O Melhor Prego de Atum do Mundo! O bolo do caco bem torrado já é um bom sinal, mas o bife de atum que lá está dentro é assim uma coisa mais do que perfeita. No ponto, apenas braseado por fora, temperado de forma excelente, suculento. Não há palavras para descrever o sabor deste prego de atum, logo desde a primeira dentada. É simplesmente o Melhor!
Depois do prego, era impossível que a sobremesa (mesmo) fosse surpreendente. A ideia do restaurante é boa: trazem para a mesa uma tábua com as várias sobremesas, para que possamos comer apenas o que queremos. Entre três cheesecakes e três pães de ló, escolhemos os mais tradicionais. O pão de ló podia ser um pouco mais húmido, ainda que seja saboroso, mas o cheesecake com doce de morango é bastante melhor. Pena vir tudo depois do prego, que foi mesmo o ponto alto do jantar.
Uma palavra final para o serviço, que foi outro daqueles pormenores que nos surpreenderam no Pesqueiro 25. E a verdade é que não é um pormenor, porque são muitos os restaurantes relativamente novos onde o serviço deita tudo a perder. E isso não acontece aqui. Se estamos habituados a que nas marisqueiras clássicas o serviço seja mais personalizado, ainda que a despachar, aqui estamos num registo acima! Os empregados são todo um espectáculo na sala: vão ao aquário buscar o marisco, explicam aos clientes, exibem-no para as fotos. Perguntam, dão sugestões, com uma simpatia e alegria contagiantes. Para turistas, que não estão habituados a marisqueiras, acredito que a experiência seja ainda mais pitoresca. Mas mesmo para nós, é um serviço de topo!
Resumindo, e correndo o risco de ser repetitivo, é já difícil encontrar marisqueiras mais “clássicas” a abrir em Lisboa. E por isso é que o Pesqueiro 25 se torna ainda mais interessante. Um espaço cool e cheio de pinta, mas onde podemos comer marisco de primeira, cozinhado como deve ser, sem truques nem artifícios. Aqui a estrela é o produto, pela sua frescura e qualidade, e os artesãos estão na cozinha a torná-lo uma perfeição para nós.
Mantendo esta atitude e esta qualidade, o Pesqueiro 25 vai no caminho certo para se tornar uma daquelas marisqueiras emblemáticas de Lisboa. E se calhar mais rápido do que todas as outras.
Preço Médio: 35€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua Nova de Carvalho, 15 | 1200-161 Lisboa | 968 828 492
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