Uma experiência inesquecível!
Quando, há uns anos atrás, surgiu a moda das tabernas 2.0 (ou tabernas modernas, como quiserem chamar-lhes), tivemos uns primeiros 6 meses muito interessantes. Depois, como acontece em todas a “modinhas” deste género, foi-se caindo no exagero, com espaços do género a abrir em todo o lado… e com a qualidade a cair a pique. Era tudo igual, desde o espaço até à comida, e a verdade é que a qualidade também era genericamente igual: má.
E só faço este enquadramento porque quando entramos na Taberna Ó Balcão sentimos que estamos a entrar numa dessas tabernas modernas que cresciam do chão como cogumelos há uns anos atrás. Mas, felizmente para nós (e para todos os seus clientes), a Taberna Ó Balcão é tão diferente de tudo aquilo que conhecemos que se torna numa experiência única. E maravilhosa!
Já há muito tempo que temos a Taberna Ó Balcão na nossa lista (interminável) de restaurantes a visitar. E a razão deve-se a tudo o que ouvimos acerca do Chef Rodrigo Castelo e da forma como está a pegar na gastronomia tradicional da zona e a reinterpretá-la à sua maneira. Era demasiada gente que conhecemos e cujas opiniões respeitamos a dizer-nos que tínhamos de ir a Santarém… mas ficava sempre “para outro dia”. E isto foi-se arrastando durante longos meses…
Felizmente, num regresso a Lisboa, resolvemos fazer um pequeno desvio até ao centro de Santarém para ir conhecer finalmente o que se serve nesta Taberna Ó Balcão. E podemos dizer, com toda a segurança, que foi um almoço tão marcante que vai entrar para as melhores experiências de 2018. Assim de caras! 😉
Todo o espaço parece ter sido pensado para nos fazer reviver a experiência de uma taberna. A decoração vintage, os apontamentos que vamos descobrindo ao longo da refeição, tudo aponta para uma tasca moderna – porque as tabernas a sério (as antigas) não são tão cuidadas. E quando nos recebem à porta, percebemos que até os empregados se encaixam nesse registo trendy das tascas modernas, da cabeça aos pés. Honestamente, numa primeira abordagem, temos algum receio de que a Taberna Ó Balcão seja só “fogo de vista”… mas rapidamente percebemos que não.
Quem nos atende não só está perfeitamente à vontade com todos os pratos da carta, como sabe perfeitamente quando é que nos deve abordar, quando é que nos deve servir, e como é que a abordagem deve ser feita. Há clientes habituais sentados em algumas mesas e outros (como nós) que entram no restaurante pela primeira vez, mas todos somos tratados de uma forma simpática e informal. E que se vai tornando mais próximo à medida que os minutos (e os pratos passam). É isso que se quer em qualquer restaurante: um serviço que nos deixa à vontade, mas que sabe perfeitamente o que nos está a servir.
A carta é-nos entregue, mas também está escrita numa ardósia gigante numa das paredes do restaurante. É sempre bom ficar completamente indeciso sobre o que escolher, porque tudo nos soa tão bem, e aqui na Taberna Ó Balcão o difícil para qualquer pessoa vai ser mesmo escolher. Talvez por isso a ementa tem a opção de uma espécie de menu de degustação, um com 5 momentos e outro com 7. Parece-nos muito bem e está alinhado com aquilo que queremos, que é experimentar o máximo possível, por isso escolhemos os tais 5 momentos. Qualquer um melhor que o outro!
Começamos com a Tábua de Queijo e Enchidos, que parece simples mas serve para “dar cabo” do pão que vem no couvert. O destaque é o paté de bode capado, com pedras de sal em cima… que maravilha!
Mas este, sendo muito bom, foi provavelmente o momento mais normal dos que nos foram aparecendo à frente neste almoço na Taberna Ó Balcão. A seguir, um daqueles petiscos que íamos sempre pedir à carta, e que provou ser ainda melhor do que esperávamos: o Coscurão do Rio até ao Mar. Um cone que nos aparece na mesa e que nos é descrito como tendo atum, fataça, camarão desidratado (mini camarão), dentro de uma massa de coscurão. Gente, não há palavras para descrever a profundidade do sabor deste pequeno cone, o sabor a mar (ou rio, se quiserem), a quantidade diferente de texturas que cabem neste cone, onde até a massa é uma delícia. Uma delícia!
Depois, a Sandes de Bode Capado. Esta é uma surpresa, porque esperamos mesmo uma sandes, e não podíamos estar mais longe. Num tronco aparece-nos à frente uma base feita de massa de aguardente, crocante, onde é colocada a carne de bode capado e ainda pickle de beterraba, maionese picante e amêndoa ralada. Um snack, para comer à mão e de uma vez, mas onde se consegue perceber o sabor guloso da carne, ao qual o toque ligeiramente picante consegue dar toda uma outra dimensão.
Seguimos em frente, e começamos a entrar no registo dos pratos que não estão na ementa mas que são feitos propositadamente para este tipo de menu. A Sopa da Pedra traz consigo a teatralidade de nos apresentarem um prato sem caldo, que depois despejam lá. Gimmicks à parte, esta sopa da pedra sabe realmente à sopa da pedra tradicional, ainda que com uma apresentação mais moderna. O caldo é menos espesso do que esperávamos, mas não influencia o sabor… e isto só prova que na cozinha do Chef Rodrigo Castelo há efectivamente um conhecimento profundo dos nossos sabores tradicionais. E depois há a criatividade para os trabalhar de forma diferente.
A seguir, a Fataça na Telha, onde provavelmente está o elemento menos bem conseguido de todos os pratos que nos passaram pela frente neste fantástico almoço: as batatas, um pouco encruadas demais. O que é uma pena, porque o peixe está fantástico, com a cebola caramelizada a dar-lhe um toque doce excelente. Mas depois chegamos às batatas…
Felizmente, quando provamos o prato seguinte, esquecemo-nos do que falhou no prato anterior. O Acém maturado, com Xarope do Cartaxo, Brócolos e Puré de Inhame é um prato novo na lista e acredito que se vai tornar um dos mais pedidos! A carne excelente, os apontamentos do xarope de vinho do Cartaxo, o puré de inhame, com uma textura maravilhosa… no fundo, uma conjugação de sabores que não nos é muito estranha, mas que nos mostra como podemos trabalhar sabores tradicionais de forma moderna e criativa.
Mas no meio de todo este menu de degustação, percebemos que há duas coisas da lista que não nos vão passar pela frente, e que vemos ser servidas nas outras mesas… Por isso, resolvemos pedir a quem nos serve se nos arranja um dose pequena ou do Croquete de Touro e do Choco Frito. Só porque queremos mesmo experimentar. E, passados uns minutos, o que nos servem é isto:
Sim, por simpatia (e sem cobrar na conta), servem-nos um croquete de touro – que é simplesmente magnífico, assim como a maionese que o acompanha!!! – e uma peça de choco frito – muito bom a nível de textura, com um molho cítrico excelente. A ideia era experimentar e somos surpreendidos com a simpatia do staff. É por isto que as pessoas voltam a um restaurante, seja de que tipo for. Porque se sentem acarinhados.
E, para terminar este longo almoço, uma sobremesa: Nem Tudo é Limão. E porque é que nem tudo é limão? Porque esta sobremesa também tem lemon curd, caramelo, amêndoa e pipocas de tendão de vaca desidratado (sim, isso mesmo!!) além do gelado de limão.
Esta vai ser provavelmente uma das sobremesas a entrar no top de 2018, porque é assim uma coisa fora de série. Sabores contrastantes, texturas diversas e, claro, uma apresentação irrepreensível. Um final perfeito para uma refeição perfeita!
Para acompanhar a sobremesa ainda nos oferecem um excelente abafado, que completa na perfeição a degustação de 3 vinhos que é uma das opções da carta no que respeita às bebidas. Bem servidos, os copos, e completamente alinhados com os pratos que nos servem. Até aqui há um cuidado enorme em proporcionar uma experiência única a quem visita a Taberna Ó Balcão.
Este texto já vai longo, assim como foi longo o nosso almoço na Taberna Ó Balcão. E não foi longo por ser lento, nada disso, porque o serviço é completamente equilibrado e tudo tem o seu tempo. O almoço foi longo porque aqui o que se quer é proporcionar uma experiência. Experiência essa que vale o preço e que o ultrapassa por muito.
Todos os elogios que tínhamos ouvido ao Chef Rodrigo Castelo são completamente merecidos, e saímos da Taberna Ó Balcão completamente rendidos e fidelizados. Mas não foi só pela criatividade e pela qualidade da comida. Foi por tudo, desde o espaço ao serviço 5 estrelas. Tudo!
Preço Médio: 40€ pessoa (com menu degustação e menu de vinhos)
Informações & Contactos:
Rua Pedro de Santarém, 73 | 2000-223 Santarém | 243 055 883
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Infelizmente as últimas idas ao Ó Balcão têm sido dececionantes. Quando abriu era de facto excecional, mas cada vez mais corresponde menos ao que promete. A carta tem falhas, os empregados não são muito perspicazes e o preço elevado não se justifica, as batatas fritas, por exemplo, são de pacote e de má qualidade. Seria bom que o chef repensasse a estratégia pois Santarém merece e apresenta uma oferta cada vez mais variada e de qualidade😒