Um fim-de-semana inesquecível. E um restaurante que deixa Saudade!
Acho que muita gente só percebeu que temos muitos restaurantes de Estrela Michelin no Algarve quando essas estrelas começaram a ser atribuídas a restaurantes em… Lisboa. Mas a verdade é que há alguns restaurantes na zona “central” do Algarve que mantêm a sua Estrela (ou Estrelas) há bastante tempo, e que são procurados por gente de todo o País. E de outros países também. Por isso, deve ser complicado para outros restaurantes à volta lidar com isso. Não só pela sazonalidade da região, mas porque há sempre outros nomes a chamar mais a atenção na zona.
Esta foi uma das primeiras perguntas que fizemos ao Chef Rogério Gago, que lidera a cozinha do Restaurante Saudade Saudade, quando o conhecemos – se a competição (ou aquele tipo de competição em especial) o incomodava ou condicionava. E a resposta foi um imediato “Não!”, seguido da explicação: “não incomoda porque não estamos a competir, porque eu faço aquilo que me dá prazer e aquilo que os meus clientes pretendem, sempre com o meu toque pessoal.” Nessa altura ainda não sabíamos porquê, mas as 3 refeições que se seguiram nos dois dias que passámos no Dunas Douradas Beach Club mostraram-nos exactamente aquilo que o Chef queria dizer.
O Restaurante Saudade e o Chef Rogério Gago
O Saudade é o restaurante do Dunas Douradas Beach Resort, e é um espaço que se consegue transformar em ambientes diferentes ao longo do dia. Sendo que grande parte da responsabilidade disso é a carta, da autoria do Chef Rogério Gago. Mas já voltamos ao Chef.
O Restaurante Saudade fica mesmo junto à recepção do resort e também à piscina, ou seja, na zona mais acessível de todas. Além disso, tem uma entrada directa vinda do exterior, para quem não queira passar pela recepção (o que, na nossa perspectiva, é sempre uma excelente ideia). Junto à entrada temos uma zona de bar, depois uma área mais preparada para restaurante e ainda uma zona exterior de esplanada coberta, excelente para o Verão (tanto ao almoço como ao jantar).
À frente da cozinha está então o Chef Rogério Gago, de formação francesa e cuja experiência o fez passar pelo Crowne Plazza de Vilamoura ou o Cais d’4 em Leça da Palmeira. A sua cozinha é de clara inspiração no receituário nacional, mas não deixa de apresentar um twist em cada prato: ou a nível técnico ou “simplesmente” pela utilização de produtos sazonais e regionais, muitos mesmo de fornecedores da zona. Acima de tudo, o Chef Rogério Gago é alguém com quem se simpatiza facilmente, passados poucos minutos de conversa, e em quem percebemos que há uma paixão enorme pela cozinha, pelos ingredientes e por criar sensações em quem visita o Saudade. Seja a que hora e em que situação for.
Nos dois dias que passámos no Dunas Douradas fizemos três refeições no Saudade, e todas elas foram diferentes, porque a carta permite isso mesmo: nunca repetir a mesma coisa. Vamos a isso?
Os Cocktails e os Vinhos
Um dos destaques na carta do Saudade são os cocktails, e começamos por eles porque merecem mesmo esse destaque. Há desde os clássicos até às criações próprias, sendo que temos cocktails que se ajustam na perfeição a cada uma das horas do dia. Mais leves para acompanhar uma tarde na piscina, mas consistentes para beber à refeição ou mais “arrojados” para terminar a noite.
Ao mesmo tempo, a garrafeira do restaurante é bastante interessante (e tem o destaque necessário na sala), com referências mais “normais” e depois outras que nos eram completamente desconhecidas, como os vinhos da Quinta do Barranco Longo (algarvios, uma excelente surpresa, tanto branco como tinto) ou o fenomenal Blush, um rosé que consegue agradar a todo o tipo de públicos.
Neste aspecto (assim como em praticamente todos os outros no Saudade) é deixarem-se ir pelas sugestões do staff. Ficam em excelentes mãos!
As Entradas
Numa carta muito completa e, como já escrevemos, onde se conseguem fazer muitas refeições (em momentos diferentes do dia) e não repetir pratos, vamos seguir assim tipo “página a página”. Para ser mais fácil para todos 😉
As entradas na carta variam consoante se tratar de dia ou noite, para serem mais ajustadas ao mood da altura. Começando de trás para a frente, à noite temos, por exemplo, as Vieiras com Crosta de Amêndoa torrada e Crocante de Presunto, boa conjugação de sabores, um prato sofisticado mas ao mesmo tempo muito acessível; ou então os Camarões tipo “à Guilho”, mas com um toque de gengibre da autoria do Chef, que dão a esta entrada um sabor menos tradicional e mais exótico, ideal para um público mais internacional.
Ainda na carta do jantar, um maravilhoso Carpaccio de Novilho, com parmesão e balsâmico na quantidade certa, onde a adição dos pinhões além das alcaparras é uma ideia muito boa!
Na carta de dia as entradas são diferentes, mais frescas, menos “substanciais”. Temos um Pão de Alho, uma espécie de focaccia mas feita com base de pizza, simples mas que serve para entreter enquanto saboreamos um cocktail, ou o Gravlax de Salmão, com cebola roxa e alcaparras, servido sobre pão de mate, mais nórdico, mas que funciona muito bem nos dias de calor, por ser uma entrada fresca e muito saborosa.
Hambúrgueres e Saladas
Outra parte da carta, completamente ajustada não só ao Verão com a um espaço inserido neste tipo de resort, é a dos Hambúrgueres e Saladas (são duas diferentes, mas vamos falar delas em conjunto). Começando pelas últimas, há muitas opções na carta mas experimentamos apenas duas: a Saudável, com uma excelente mini mozzarella caseira, morangos, alfaces diversas, palmito e amêndoa laminada, uma salada fresca e muito leve, muito boa para comer entre mergulhos; e a Saudade, com presunto, uvas pretas, queijo de cabra, amêndoa laminada e um maravilhoso vinagrete de laranja, esta sim a vencedora do “duelo”, pela sua também frescura mas acima de tudo pela mistura de sabores e texturas, que resultam na perfeição.
No caso dos hambúrgueres, provámos o que tem também o nome do restaurante. O Saudade tem alheira, rúcula, cebola caramelizada, maionese e tomate. Tudo bom, mas nada disto é o destaque… o destaque é a carne espectacular, cozinhada no ponto perfeito, muito suculenta. E também o pão, tipo brioche, semi torrado o suficiente para não ficar seco mas conseguir aguentar o resto dos ingredientes e ainda os sucos da carne. É assim que todos os hambúrgueres deviam ser servidos em todas as hamburguerias da moda. Simples e perfeito!
Pastas
Outra parte da ementa que nos parece resultar melhor durante o dia, para almoços a horas normais ou mesmo aqueles mais tardios. Há alguma escolha, e na generalidade são pastas cujos nomes reconhecemos, como por exemplo o Pappardelle de Camarão, servido al dente e com camarão da costa, envolto num molho rico que sabe mesmo ao bicho.
Ou, por outro lado, o Linguini Vongole, uma pasta que habitualmente não peço porque é quase sempre servida demasiado seca ou sem tempero… mas que nas mão do Chef Rogério Gago se transforma num fantástico Bulhão Pato! O método é o mesmo, o sabor é fenomenal e a pasta fica de comer e chorar por mais! Seja a que horas for, um prato que têm mesmo de provar no Saudade!
Os Risottos
Numa zona da carta de maior influência italiana, temos também alguns risottos, mais tradicionais durante o dia e outro mais arrojado ao jantar: o Risotto de Bacalhau é servido com uma posta de bacalhau fresco e tem um excelente equilíbrio de sabores, com o queijo e o bacalhau a não entrarem em conflito. Um prato que pode servir de introdução aos sabores mais nacionais para o cliente estrangeiro do restaurante, sem que lhe seja completamente desconhecido. Ou seja, uma excelente ideia, materializada de forma exímia.
Os Peixes
A carta tem algumas opções de peixe, assim como cataplanas ou massinhas de peixe, mas nós optámos por um dos pratos mais pedidos da carta, que é o Caril de Camarão à Goesa, servido com arroz basmati e papadums. É difícil encontrar um caril que seja servido exactamente no ponto certo, picante sem ser agressivo, ou picante mas ainda saboroso. No Saudade o caril é muito rico em sabor, mas tem aquele picante que nos envolve sem ficar a queimar na garganta. Fantástico!
As Carnes
Para terminar, as carnes, claro! Curiosamente, só provámos um dos pratos desta secção nestas três refeições. O “best-seller” Frango Piri Piri fica para outra oportunidade. Ao jantar provámos o Bife à Portuguesa, um belo naco do lombo, com um molho rico em alho e… rabo de boi. Pois, isso mesmo. O que o torna mais espesso e maravilhosamente delicioso! Parabéns, mais um toque inesperado e que transforma completamente o prato!
As Sobremesas… e o Melhor Arroz Doce do Mundo (quase igual ao da minha Avó!)
O Arroz Doce é sem dúvida a sobremesa que mais me custa pedir num restaurante. Não porque não goste, antes pelo contrário, mas porque o melhor que já comi era feito pela minha avó… e nenhum sequer chegou lá perto. Bom, até provar o Arroz Doce do Chef Rogério Gago. Que me fez ficar sem palavras durante longos segundos. A textura certa (não demasiado cremoso nem demasiado seco), o sabor no ponto (sem exagerar no leite ou no açúcar, com o toque cítrico que se quer)… enfim, o melhor arroz doce que comi fora de um jantar de família, sem qualquer sombra de dúvidas! Acompanhado de um gelado de canela, a dar-lhe aquele remate final, uma sobremesa tão clássica e que nos traz exactamente aquilo que é o nome do restaurante: Saudade.
Nesse mesmo almoço, provámos também a Mousse de Chocolate caseira, também muito boa, mas que teve o “azar” de ser servida ao lado do tal arroz doce.
Ainda servidas aos almoços, outras duas sobremesas vencedoras, uma mais “clássica” (a Tarte de Maçã tépida com Gelado de Baunilha, com maçã a sério, muito boa!) e outra mais “internacional: a Tartelete de Framboesa com Sorvete de Lima, outra sobremesa excelente, que pode não nos fazer lembrar de serões em família mas que, só por si, deixa muitas saudades!
À noite, sobremesas mais elaboradas a nível de apresentação, porque o jantar pede sempre um final especial. Por um lado, o Cheesecake Saudade (o folhado que vêm na foto em baixo), feito com creme mascarpone, amendoins, chocolate crocante, fruta silvestre, e caramelo salgado.
Por outro lado – e para fãs incondicionais de chocolate – a Trilogia de Chocolate, um bolo cremoso de chocolate negro quente, com bola de chocolate de leite e ganache de chocolate branco, uma verdadeira bomba, onde ainda assim se conseguem distinguir os diferentes sabores
Houve muitas mais coisas interessantes na carta que não tivemos oportunidade de provar, mas fica de certeza para uma próxima oportunidade. Porque o Saudade é um restaurante ao qual temos a certeza absoluta que vamos voltar!
O Staff, daqueles que também deixa saudades!
E além da comida, outro motivo que nos leva a querer voltar ao Saudade é o excelente staff. Seja qual for a hora do dia, somos sempre recebidos com um sorriso, com uma palavra amiga, e isso acontece com toda a gente que entra no restaurante, seja qual for a língua. Um destaque (e agradecimento) especial não só ao Chef Rogério Gago – que podemos ver a percorrer as mesas depois das refeições servidas, a recolher feedback – mas também ao João Dias, provavelmente o chef de sala mais simpático com quem já nos cruzámos desde que começámos o Onde Vamos Jantar?
O Dunas Douradas Beach Resort
Mas não podíamos falar só do restaurante Saudade, porque o espaço onde está inserido foi também uma surpresa tão grande que também nos deixou imensas… saudades. Sendo que isso não é nada habitual para nós quando falamos do Algarve, porque geralmente só nos lembramos de muita gente, praias cheias, confusão…
Ora, felizmente o fim-de-semana que passámos no Dunas Douradas Beach Club, em Vale do Lobo, foi ainda anterior ao maior “boom” turístico da zona. O resort estava muito bem composto, mesmo assim, mas principalmente com turistas estrangeiros, o que nos deu um pouco a sensação de estar fora de Portugal. Mesmo que só por dois dias.
O Dunas Douradas Beach Club é um resort de luxo, mesmo sobre a praia do Garrão Poente. Por fora, aliás, mesmo na entrada, não dá para ter a noção da dimensão do empreendimento. E, ao contrário de outros espaços do género, aqui as habitações não estão todas em cima umas das outras, há muito espaço e, acima de tudo, espaços verdes.
Estamos a falar de vivendas com dois pisos, em grupos de duas no máximo. Diferentes tipologias, mas todas com áreas muito grandes. Uma sala enorme, um quarto fantástico com uma casa de banho espaçosa, cozinha e cada uma com uma pequena varanda. Varanda essa onde há um barbecue, claro… mas em algumas delas até há um jacuzzi. Sim, um jacuzzi privado. Pois. 🙂
O resort tem acesso directo à praia, com uma zona reservada para hóspedes, mas tem também duas enormes piscinas (e ainda outra para crianças). Ginásio também, mas na piscina é que se está bem! 😉
E em resumo…
Foram dois dias muito bem passados no Dunas Douradas Beach Resort. Mas mais do que isso, foi uma experiência fenomenal no Restaurante Saudade, um restaurante que tem um potencial enorme e que pode facilmente sair do “ninho” e tornar-se um conceito vencedor mesmo fora do resort. A cozinha do Chef Rogério Gago é suficientemente familiar mas, ao mesmo tempo, cheia de twists surpreendentes, que nos fazem pensar duas vezes enquanto estamos a provar cada prato.
O Restaurante Saudade é um excelente restaurante, numa zona onde há restaurantes com muito mais história ou muito mais sonantes. Mas a razão para o Saudade estar praticamente sempre cheio (com tantos clientes do resort como clientes de fora) tem a ver com pormenores que são o mais importante em qualquer restaurante: comida genuína, feita com amor, e um serviço de eleição.
Um restaurante que deixa Saudades, e onde vamos voltar em breve de certeza!
Preço Médio: 25€ pessoa (ao almoço, com cerveja) ou 40€ pessoa (ao jantar, com vinho ou cocktail)
Informações & Contactos:
Vale Do Lobo | 8135-170 Loulé | 289 351 300
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