PIGMEU

Porco, de toda a maneira e feitio. E não só!

É difícil resistir a fazer trocadilhos quando o Pigmeu desde sempre nos recebeu com o quadro que podem ver na fotografia em baixo. Vou tentar não fazer nenhum, porque este é realmente o melhor de todos!

Mas é preciso compreender parte do contexto desta piada. O Pigmeu abriu no boom das “ias”, há uns anos atrás, quando por Lisboa víamos abrir hamburguerias, petiscarias, cevicherias… e muitas outras coisas acabadas da mesma forma. Alguns desses exemplos sobreviveram ao longo dos anos até hoje, outros nem por isso. E, no meio deles, esta “Porcaria” soube evoluir a sua oferta e a sua comunicação, soube reposicionar-se sem perder o seu conceito base, soube retrabalhar a sua comunicação. No fundo, o Pigmeu… tornou-se um porco adulto. 🙂

Estou sempre a repetir que gosto muito de restaurantes com conceito, com uma ideia por trás que depois é aplicada de forma transversal ao restaurante. E aqui no Pigmeu a ideia é muito simples (e muito inovadora para a altura em que abriu): “de tudo um porco“, utilizado também com hashtag pelo restaurante, que na realidade significa que tudo o que se come aqui deriva do porco. Começando no couvert… e quase terminando na sobremesa. Mas já lá vamos 🙂

manteiga de porco e cenoura à algarvia

A oferta do Pigmeu foi crescendo ao longo do tempo, para não excluir ninguém, mas a base continua a mesma: explorar ao máximo todas as partes do bicho e tentar incluir isso em pratos mais ou menos esperados… e outros muito longe disso. Porque numa ementa relativamente grande, temos pratos que saltam à vista e que escolhemos quase automaticamente, mas também outros que nos fazem perguntar sobre o que são. E que acabam por nos fazer voltar.

croquetes (porco preto) e pastéis de massa tenra (com coração de porco estufado e kimchi)

Há clássicos que têm acompanhado as várias alterações na ementa do Pigmeu, e isso acontece porque são dos best-sellers da casa: os Croquetes de Porco Preto, que cumprem, e os Pastéis de Massa Tenra, feitos com coração de porco e kimchi, que são fantásticos. Melhores com um pouco do picante da casa do que com a pasta de gengibre que os acompanha, mas mesmo sem nada… fantásticos. E ainda nos petiscos, daqueles que saem à rua no Verão, os Caracóis, aqui com pedaços de toucinho fumado, e mais intensos por causa disso.

caracóis… com toucinho fumado

Curiosamente, a evolução do Pigmeu foi no sentido de explorar cada vez mais as miudezas do porco e, em simultâneo, criar pratos com conjugações inesperadas e mesmo algumas opções vegetarianas (ou muito próximas disso). Ou seja, o porco não é necessariamente o centro de cada criação, ainda que esteja presente em quase todas.

salada de tomate com papada de porco
couve tostada com molho de pimentos fermentados

A Salada de Tomate com Papada de Porco é muito boa, mas a Couve Tostada com Molho de Pimentos fermentados (um dos pratos vegetarianos, onde não há porco) é dos melhores pratos da carta! O molho é fantástico e intenso, a couve ainda chega estaladiça à mesa… uma maravilha!

Ainda nos tomates (que bem que isto soou…), outra das opções vegetarianas é a Sopa de Tomate, intensa e saborosa, com uns fios de azeite a rematar, para acentuar ainda mais o sabor. E para completar a secção dos “vegetais”, a Courgette com Toucinho. Simples e eficaz.

sopa de tomate
courgette com toucinho

Mas voltemos ao porco, e à forma como os pratos do Pigmeu o usam e encaixam com outras matérias-primas. Por exemplo, nos Ovos À Aníbal, que podia ser uma simples omelete mas não é, porque o recheio é de cérebro de porco. Sim, cérebro, mas quem não saiba come à vontade, porque o sabor é excelente.

pigmeu restaurante
ovos à aníbal (isto é, uma omelete com cérebro de porco)

Ou então o Pica Pau… que no Pigmeu é Pica Pau de Tubarão. “Tubarão mesmo?!” perguntam vocês. Não, claro que não é tubarão, ainda que as primeiras letras sejam as mesmas. Pica pau de túbaros, servido com um molho intenso, cebola e batata frita, demasiada coisa a sobrepor-se à carne em si, na nossa opinião.

pigmeu restaurante
pica pau de tubarão (ou seja, túbaros)

Seguem-se os pratos da ementa e, mesmo que nem todos sejam bem conseguidos (na nossa opinião), todos têm alguma coisa que os torna diferentes daquilo que esperaríamos. O “Tártaro” de Porco Preto não é exactamente um tártaro, porque a carne está ligeiramente cozinhada, o que, honestamente, torna o sabor menos intenso do que aquilo a que estamos habituados. E a Salada de Fígados, ainda que tenha um molho fenomenal, falha por causa da textura dos próprios fígados, demasiado passados. Ainda assim, um conjunto bastante interessante.

pigmeu restaurante
tártaro” de porco preto
pigmeu restaurante
salada de fígados e cachaço de porco preto

Mas depois há outros pratos que voltam a elevar a fasquia e são claramente vencedores de entre os vários da ementa do Pigmeu. Como é o caso do “simples” Cachaço de Porco Preto, carne com 30 dias de maturação, grelhado e fatiado, puxado ao sal como se quer; ou da Raia com Pézinhos de Coentrada, uma combinação que até parece estranha mas que na realidade funciona muito bem, com as diferentes texturas e sabores a complementarem-se. Um dos melhores pratos da carta!

pigmeu restaurante
raia com pézinhos de coentrada

E para terminar, a “sobremesa”, onde o porco também está presente 🙂 Nada mais nada menos que a bifana do Pigmeu, a já célebre Porcalhona. Porquê o nome? Porque o que se pretende é que as pessoas se divirtam a comê-la, e se sujem à vontade. Carne desfiada dentro do pão que está dentro do próprio molho da carne, para ficar assim ensopado e ainda mais guloso. Para comer com as mãos e para lamber os dedos a seguir. Se só puderem comer uma coisa no Pigmeu, comam a Porcalhona. É perfeita!

pigmeu porcalhona
a “célebre” porcalhona!

Nas sobremesas a sério não há toques de porco, e depois de tudo o resto também não há assim grande inovação. Há um Brownie de Chocolate e uma Mousse de Lima que, não sendo maus, também não estão nem à altura do conceito do restaurante nem da criatividade que encontramos em quase todos os restantes pratos da carta. Ou seja… é terminar a refeição com a Porcalhona 😉

brownie de chocolate e mousse de lima

O Pigmeu é, nos dias de hoje, muito mais do que as sandes e pequenos petiscos de porco que era no início. É um restaurante com uma oferta diversificada, mais abrangente, mais ajustada a novas tendências. Há mais criatividade na cozinha e uma tentativa ainda mais de usar ao máximo o que o porco dá, assim como outros ingredientes, numa lógica de sustentabilidade que faz cada vez mais sentido nos dias de hoje.

Se é verdade que nem todos os pratos são bem conseguidos, é. Mas também é verdade que o que continua a ser interessante no Pigmeu é a tentativa de fazer coisas diferentes, principalmente com parte do porco menos nobres. Na altura da sua abertura, foi um percursor nesse movimento, que depois arrastou as miudezas para as cartas de muitos restaurantes da nova geração em Lisboa. Hoje em dia continua a ser um porto seguro para quem gosta de petiscos… e de porco, claro!

Preço Médio: 25€ pessoa (mas pode variar muito consoante o vinho escolhido)
Informações & Contactos:

Rua 4 da Infantaria, 68 | 1350-274 | 218252990

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