Pesadelo?! Muito longe disso. É um sonho dos bons!
Há por aí muito chefs mediáticos, desde os que têm Estrelas Michelin ou o outros que possuem verdadeiros “impérios”. Assim como há muitos restaurantes que vão estando na moda e por isso estão sempre cheios e a aparecer nas revistas e tal. Temáticos ou não, com djs ou música ao vivo, restaurantes que pagam para estar nos tops das apps de restauração em Lisboa. Honestamente, nunca fui de modas, e então quando diz respeito à comida, acho que a maioria das vezes estas modas até acabam por ser grandes “banhadas”. A qualidade prova-se pela comida, pela invenção, pelos conceitos por trás dos espaços, e é tudo isto que acaba por transformar um restaurante numa verdadeira referência. E num caso de sucesso que perdura no tempo.
Dito isto, o Bistro 100 Maneiras é claramente um desses restaurantes. Assim como o Chef Ljubomir Stanisic é, sem qualquer dúvida, o chef mais mediático do País. Muito apoiado no sucesso de audiências que é o programa “Pesadelo na Cozinha“, é verdade, mas nem só por isso. Pela sua irreverência, pela forma como se movimenta no panorama gastronómico português, pela sua maneira de ser, honesta, directa, com um grau de exigência fora do comum. E aquilo que o Chef Ljubomir conseguiu fazer do Bistro 100 Maneiras foi transformá-lo num local de culto em Lisboa, um daqueles restaurantes que vem referenciado em todos os guias, blogs, publicações, e que vai passando de boca em boca até que, pelo menos uma vez, toda a gente lá queira ir.
Até porque um jantar no Bistro 100 Maneiras é uma experiência de luxo… mas acessível. Estamos a falar de um restaurante de Chef, mas que tem um ambiente muito mais descontraído do que seria de esperar. Não deixa de ser sofisticado, especialmente a nível do espaço e da decoração, mas o ambiente geral é menos elitista do que acontece noutros restaurantes do género. Os espelhos diversos nas paredes e tecto fazem a sala parecer maior do que é na realidade, além de darem ao espaço um feeling de “street art”. A mudar alguma coisa, retirávamos algumas mesas da sala, porque estão demasiado próximas umas das outras. E como o restaurante está sempre cheio, basta haver um grupo um pouco mais ruidoso e o ambiente transforma-se rapidamente num de cantina.
Mas voltemos à experiência em si, que passa muito pela comida. A ementa do Bistro 100 Maneiras não é “complicada”, não tem pratos que não consigamos perceber o que são, e isso é uma das grandes vantagens do restaurante: conseguir mostrar a comida portuguesa a um target que inclui muito estrangeiro, mas ainda assim fazê-lo de uma forma criativa e sofisticada. Ou com toque de autor, se quiserem. E é esse equilíbrio que transforma este restaurante do Chef Ljubomir num espaço (quase) único em Lisboa.
Ora, a experiência começa logo com o couvert,onde temos um azeite e uma azeitonas nacionais, do mais tradicional (e bom!) que pode haver, e depois um hummus fantástico, que serve para repetir várias vezes os inúmeros tipos de pão que nos são apresentados.
A ementa começa com as entradas, que também abrem as hostilidades com os nomes engraçadotes do menu: No Picanço. Há imensa coisa que dá vontade de pedir, e arrisco dizer podíamos ficar mesmo só por esta parte da lista, petiscando várias coisas, e ficaríamos muito bem servidos! Mas como há muito mais para provar no resto da ementa, daqui pedimos só duas entradas.
A Enfrascada tem cogumelos, espargos e ovo escalfado, e vem servida dentro de… um frasco, claro. Isso cria um momento teatral, em que o frasco é aberto à nossa frente e é tudo misturado, para que os sabores se unam num todo. Esta teatralidade resulta, mas mais do que isso, o que resulta é o sabor, que é fantástico. A conjugação é clássica, mas aqui há ainda um toque de trufa que torna o conjunto ainda mais intenso. Os cogumelos são fantásticos, o ovo envolve-os na perfeição, os espargos dão alguma textura, enfim… a não perder!
Ainda nas entradas, outro dos ex-libris do Bistro 100 Maneiras são os Croquetes de Cozido, servidos com um molho com base de iogurte. O molho é bom, mas esperamos mais intensidade nuns croquetes de cozido. Há ali um toque de sabor que nos remete para a carne do cozido, sim, mas é muito ténue, fica lá no fundo mesmo… Numa ementa feita de sabores intensos, estes croquetes são assim uma pequena desilusão. Enfim.
Felizmente os croquetes são apenas um pequeno lapso na viagem que é um jantar no Bistro 100 Maneiras, porque o registo dos pratos principais é altíssimo! Na ementa estão divididos em 3 categorias: “Os Melhores” (que são os best-sellers do restaurante, os pratos mais pedidos), “O Resto é Conversa” (todos os outros pratos principais) e “Para os Corajosos” (uma área que tem apenas dois pratos, fígados e tártaro). Isto ajuda, pelo menos, a orientar a escolha para os mais indecisos, que ficarão pela primeira categoria. Todos os pratos têm nomes com trocadilhos, mas ao ler as descrições começa a crescer a água no boca. Nada é demasiado complexo, é tudo reconhecível… mas soa bem como o caraças!
Um prato a não perder é o Risotto de Cogumelos com Camarão Selvagem. É um dos mais pedidos no restaurante porque é realmente fantástico! E não é só pelo risotto, onde o sabor a cogumelos é intenso e o arroz está cozinhado como todos os risottos deviam estar. O camarão selvagem é delicioso e, curiosamente, encaixa-se aqui que nem uma luva, trazendo um “quê” de mar à terra. É difícil de explicar esta conjugação de sabores, mas talvez seja exactamente por causa disso que é dos pratos mais icónicos do Bistro 100 Maneiras (e do Chef): porque é brilhante!
Mas se o risotto é brilhante, então nem há palavras para descrever o Acém do Bem. QUe é como quem diz, o Bife Tártaro do Bistro 100 Maneiras. Que é como quem diz… O MELHOR BIFE TÁRTARO DE LISBOA! Mas assim de longe… e de caras! Carne do acém ligeiramente fumada, pickle de cogumelos, alcaparras, uma gema de ovo perfeita, tudo para ser misturado e ficar com um sabor fenomenal. Se gostam de bife tártaro, não podem perder este! E se não gostam… é muito provável que depois de provarem este passem a gostar!
E o que é mais engraçado neste prato é que ficamos muito indecisos se o melhor é o tártaro… ou as batatas que o acompanham! Que são viciantes ao ponto de acabarem antes do tártaro! Fritas em formato palito, crocantes, cobertas por óleo de trufa e lascas de parmesão. Sim, leram bem: óleo de trufa e lascas de parmesão. É assim que todas as batatas fritas deviam ser! Magníficas!
Depois destes pratos principais, as sobremesas podem sempre ser um desafio… mas o Bistro 100 Maneiras é mesmo feito disso, de desafios. Por isso, quando olhamos para a descrição das sobremesas, há muitas coisas que nos chamam a atenção, por parecerem simples mas depois, na descrição, percebermos que se calhar não é bem assim. É o caso da Mousse de Chocolate de S. Tomé e Príncipe, aqui servida com Frutos Silvestres, densa e gulosa.
Ou ainda o caso da mais surpreendente de todas: o Gelado Magno. Um biscuit gelado barrado com manteiga de amendoim e com um recheio de semifrio de banana. Uma sobremesa que primeiro se estranha, por causa dos contrastes de doce e salgado, mas que depois começamos a assimilar e terminamos a pedir por mais!
Antes de terminar, uma palavra final para outro aspecto que faz maravilhas da experiência no Bistro 100 Maneiras: o serviço. Talvez fosse de esperar um serviço muito mais formal, mas só quem não conhece o Chef Ljudomir pensaria nisso. A malta da sala é jovem, tem bom ar, fardas assim a atirar para o arrojado, mas isso não interessa muito. O que interessa é que são de uma simpatia extrema e conseguem um equilíbrio perfeito entre o formal e o informal, deixando-nos completamente à vontade durante o jantar, mas ao mesmo tempo estando sempre presentes.
No final do jantar, faltam adjectivos para descrever o que achámos da refeição e da experiência em geral no Bistro 100 Maneiras. Porque não há aqui rigorosamente nada que não seja pensado ao pormenor para criar uma experiência fantástica e agradar a (ou fidelizar) qualquer cliente. Desde a decoração ao serviço, passando obviamente pela comida, tudo é 5 estrelas.
E sim, até pode ser o Ljubomir mais “comercial”. Mas e qual e o problema disso?! Quando olhamos para outros Chefs com vários restaurantes, é normal que o mais “comercial” seja uma desilusão. E aqui não acontece nada disso. Antes pelo contrário: um jantar no Bistro 100 Maneiras faz-nos querer ainda mais conhecer a cozinha do Chef Ljubomir, e passar aos seus outros restaurantes. O que significa que é uma experiência marcante. Muito marcante. Inesquecível!
Preço Médio: 55€ pessoa (com entrada, prato, sobremesa e vinho)
Informações & Contactos:
Largo da Trindade, 9 | 1200-466 Lisboa | 910 307 575