De casa para… um império de Ramen!
Ramen… uma moda? Sim, talvez. Mas como toda e qualquer moda gastronómica, aparece assim mais ou menos do nada, instala-se e começa a crescer até ficar demasiado comercial e a oferta começar a ser tanta que a discrepância de qualidade torna-se abismal. Por cá o ramen é uma moda relativamente recente, só no ano anterior à pandemia é que se começou efectivamente a falar deste prato japonês, esta espécie de sopa que tem muito mais variantes do que se imagina. E se é verdade que actualmente há imensos restaurantes japoneses/asiáticos que servem o prato, no início não havia assim tantos. E depois havia o Ajitama Supper Club, que nem era um restaurante… e onde tivemos uma das nossas primeiras experiências com o ramen.
Ora, quando conhecemos o Ajitama pela primeira vez, pouco (ou mesmo quase nada) sabíamos sobre ramen. Quando ainda era um supper club, fomos dos primeiros a ir ao Ajitama e a perceber a complexidade por trás daquele maravilhoso caldo – podem ler aqui o texto que escrevemos na altura. Mas depois do Ajitama, a moda do ramen foi crescendo em Lisboa (e não só) e tivemos oportunidade de provar vários tipos, uns bons outros nem por isso. Se tiverem curiosidade, podem ver aqui várias sugestões.
Mas a verdadeira experiência que tivemos com ramen foi durante a nossa viagem ao Japão, onde provámos de tudo um pouco. E como adorámos, voltámos com aquela vontade de voltar ao Ajitama, onde tudo começou para nós. Felizmente, o António e o João conseguiram abrir o Ajitama Ramen Bistro, perto de Picoas, que rapidamente se tornou um sucesso.
Esta versão 2.0 do Ajitama era um upgrade a todos os níveis. A mudança para um espaço próprio permitiu pensar no design do restaurante, que é dominado por dois elementos: o balcão onde podemos ver os cozinheiros a trabalhar (como acontece nas “ramen joints” no Japão); e o tecto, onde foram instaladas várias estruturas feitas de madeira suspensas, que remetem para o tradicional ovo do ramen (o tal “ajitama”), num trabalho meticuloso e que tem um efeito visual espantoso.
O menu também cresceu desde a versão “caseira”, e no Ajitama Ramen Bistro podemos escolher o que queremos comer e temos mais opções, tanto nas entradas (desde típicas gyozas até ao Naso Dengaku, beringela com miso) como nas sobremesas (boas, mas menos interessantes, como o Bolo de Matcha com Chocolate e a Tarte de Abóbora de Hokkaido). E, claro, mais opções no próprio ramen. Aliás, o objectivo da abertura de um restaurante era esse mesmo, mostrar-nos que o ramen tem imensas variantes e quais são as diferenças entre elas.
Temos aqui estudiosos do Ramen e das suas diversas técnicas, fruto de vários cursos no Japão, por isso todos os ramen do Ajitama seguem as receitas originais e os métodos de confecção mais clássicos. Isto significa que temos caldos que cozinham durante longas horas, e isso está refletido no seu sabor. Por exemplo, o Hakata Tonkotsu, o célebre ramen com um caldo à base de porco, cozinhado durante 18 horas (no mínimo), que não é tão denso como o comemos no Japão, mas é muito apurado e consegue sentir-se perfeitamente o sabor a carne. Depois leva barriga de porco (que foi o que achámos menos interessante), negi (que é cebolo), cogumelos pretos kikurage e, claro, o ovo ajitama que deu nome ao projecto. O melhor que se come em Lisboa, de caras!
Temos também o Miso Ramen, com a base de caldo de galinha com miso (o que lhe dá um fantástico contraste), onde aparecem a boiar o ajitama, um misto de carne picada e barriga de porco, rebentos de soja e ainda couve lombarda. Um ramen menos intenso mas com mais nuances de sabor, mais camadas. O Shio Ramen foi primeiro que a dupla fez, e que era servido no “supper club”, com um caldo onde se mistura galinha e peixe, e onde depois são acrescentadas fatias de barriga de porco, ovo ajitama, cogumelos enoki, cebola frita, negi e ito-togarashi (que são fios de malagueta desidratada, mas infelizmente nada picantes). Uma escolha sempre segura.
O Ajitama tornou-se rapidamente um sucesso estrondoso, e foi realmente um dos impulsionadores da moda do ramen em Lisboa… mas depois veio a pandemia, onde tudo fechou. Mas, curiosamente, também aqui o Ajitama foi pioneiro! Porque foi dos restaurantes que mais rapidamente ajustou a sua oferta e a toda a sua logística para o take-away e o drive-through. Por isso, continuou a ser um habitual para nós, até porque das várias opções que fomos testando, era o que menos perdia as suas qualidades na viagem e no terminar em casa.
Corta para 1 ano e meio depois, e na reabertura de tudo, o Ajitama, volta a surpreender. Porque o João e o António tinham voltado do Japão cheios de ideias, nomeadamente algo nunca visto por cá: uma carta de ramen de Verão! Que nos deu completamente a volta ao preconceito de que não se pode comer ramen frio!
O Cold Shoyu Ramen ou o Spicy Hiyashi Chuka são pratos cheios de sabor e texturas, o primeiro com caldo frio mas muito saboroso e o segundo sem caldo, mas com uma pasta picante deliciosa. Foi também nesta altura que o Ajitama introduziu novos cocktails na ementa, assim como refrigerantes japoneses e variedades mais típicas de sake.
No fundo, todas estas novidades e inovações que esta dupla foi trazendo para Lisboa, com o objetivo de mostrar que a cultura do ramen no Japão é muito mais extensa do que as 3 ou 4 referências que são mais conhecidas e servidas em todos os restaurantes (e a maioria das vezes, sem grande qualidade), serviram de aperitivo para a grande novidade deste ano: a abertura de um segundo Ajitama!
O novo restaurante abriu esta semana, no início da Rua do Alecrim, perto do Cais do Sodré. E, logo à entrada, destaca-se exactamente pelo mesmo motivo que o primeiro espaço: o tecto. Aqui o trabalho meticuloso nas madeiras simula o elemento principal do ramen, os noodles. E os espelhos nas salas tornam o espaço ainda maior, assim como maximizam o efeito visual desta decoração. É, no mínimo, hipnotizante.
Com mais espaço do que o primeiro restaurante, e pormenores deliciosos como a parede com peças de madeira com agradecimentos de clientes, ou as casas de banho “inteligentes” (tão tipicamente japonesas), também a carta do novo Ajitama traz algumas novidades. Nomeadamente, o primeiro ramen completamente vegan – Rustic Vegan – ou o Shoyu Ramen, que já tinha saído da carta. Ainda pratos para além do ramen, como o Gyudon, outro prato típico e preferido no Japão: fatias de carne de vaca marinada cortadas muito finas, sobre uma base de arroz japonês, acompanhada de um ovo cozido a baixa temperatura.
Mas o grande destaque é mesmo um dos ramen novos, o Kashunattsu Tantanmen, com um caldo espesso e intenso cozinhado durante quase 20h, cremoso e com um sabor assumido a caju. É dos melhores que já comemos, sem qualquer dúvida, e um ramen perfeito para as noites de Inverno que se aproximam.
Há entradas novas também, assim como cocktails específicos para este restaurante, e cada vez mais interessantes. É normal, já que estamos numa zona da cidade que é extremamente turística. No fundo, temos uma carta que tem o melhor de 3 anos de Ajitama (para os clientes habituais) e outras referências que são um claro piscar de olho ao turista que passa na rua.
E agora, para acabar, a pergunta que se quer fazer: o ramen do Ajitama é o melhor ramen de Lisboa? Pois que provavelmente sim. É, pelo menos, o mais consistente. Nota-se perfeitamente que os mentores do projecto levaram a sério o seu processo de aprendizagem no Japão e isso faz toda a diferença no sabor especialmente dos tipos mais clássicos de ramen.
Por isso mesmo, é natural que o Ajitama Ramen Bistrô seja (ou continue a ser) um caso sério de sucesso, amplificado agora pela nova abertura. Pelo “passa palavra” que existiu na sua “outra vida” e que ainda hoje continua a existir, que faz muito mais pelo restaurante que as partilhas em redes sociais. É por isso que, já desde o tempo do “super club”, os fãs do Ajitama foram sempre fiéis e os principais impulsionadores dos novos clientes do espaço. No fundo, somos uma grande família, reunida à volta de uma mesa, a comer uma “sopa” que nos aquece o coração.
Preço Médio: 25€ pessoa (com um cocktail)
Informações & Contactos:
Avenida Duque Loulé, 36 | 1050-091 Lisboa | 967 761 997
Rua do Alecrim, 47 A | 1200-014 Lisboa | 965 268 635