A GALÉ DOS MANOS

Uma tasca daquelas mesmo boas!

O tema é recorrente por aqui, e agora com esta onda de gente a exagerar acerca do tema da “crise generalizada na restauração”, torna-se ainda mais premente chamar a atenção para uma realidade muito simples: os restaurantes bons estão sempre cheios. É simples. Seja de que género forem, tenham os anos que tiverem, pratiquem os preços que quiserem… os restaurantes bons estão sempre cheios. E isso acontece por razões simples: servem boa comida a preços ajustados ao que servem, e fazem-no com aquela simpatia que nos faz querer regressar. Ora, este é o enquadramento perfeito para A Galé dos Manos.

a galé dos manos

A Galé dos Manos é um “tasco” mesmo à séria! E percebemos isso assim que entramos: paredes com azulejos e quadros pendurados com mensagens sobre as especialidades da casa, mesas com toalhas brancas de papel, azáfama dos empregados na sala e aquele barulho agradável de gente a divertir-se. Família dividida entre a sala e a cozinha, como ainda é habitual neste tipo de sítios – felizmente! Sentimo-nos bem, porque existe aquela simpatia contagiante de quem gosta de receber.

a galé dos manos

A especialidade da casa são as carnes de Vitela Mirandesa, e aos almoços de dias de semana há ainda pratos especiais como Cabidela, Arroz de Pato, Cozido, etc. Como vamos a um sábado, ficamo-nos pela ementa “normal”, e ficamos muito bem! Até porque somos logo surpreendidos com um prato que à partida não pediríamos numa tasca – o Arroz de Peixe com Camarão. Mas isto de ir almoçar com os pais leva-nos a estas decisões… e ainda bem, porque este Arroz de Peixe com Camarão da Galé dos Manos é um prato incrível! Arroz no ponto, cremosidade e textura, cheio de sabor, muito peixe e bem cozinhado, até os camarões estão no ponto. Um prato de conforto, servido numa dose que dá à vontade para duas pessoas, e por um preço muito simpático.

a galé dos manos

Para o resto da mesa, grelhados. Por um lado, uma boa Lula, bem grelhada, óptima textura, acompanhada de uns simples brócolos, também cozinhados no ponto. E do outro lado da mesa, uns Miminhos de Vitela Mirandesa, para provar a carne especialidade da casa. Excelente carne, diga-se, tenra e cheia de sabor, puxada ao alho, o que é sempre bom. Salada mista e batata frita caseira, como se quer. Aliás, na Galé dos Manos tudo é como se quer: simples e bem feito.

a galé dos manos

Sobremesas caseiras também, como não poderia deixar de ser. Não conseguimos ficar com a última fatia da Torta de Laranja, porque a mesa de jovens que estava ao nosso lado antecipou-se – ainda que, porque o ambiente é propício a isso, se tenham oferecido para a partilhar connosco. Ficamo-nos pelo Bolo de Bolacha, bom mas a precisar de mais café, e o Leite Creme, que mesmo sendo queimado no momento e tendo um bom sabor, peca um bocado pela textura demasiado líquida. Não é surpreendente encontrar uma tasca muito boa onde depois as sobremesas não estão à altura dos pratos principais, e na realidade não há mal nenhum nisso. Desde que a comida seja honesta, ficamos sempre felizes.

a galé dos manos

E é mesmo esse sentimento de felicidade que nos acompanha enquanto saímos da Galé dos Manos, depois de um café com “cheirinho” e uma conta que é cada vez mais difícil de encontrar em Lisboa. Porque estamos a falar de uma tasca à séria, que vai sempre estar cheia, por mais modas que vão aparecendo e desaparecendo. Porque quando se tem qualidade e preços justos, é impossível que o cliente não fique feliz.

Mas também é importante ter a noção de uma coisa: a Galé dos Manos é uma daquelas tascas que estão a desaparecer lentamente, não por falta de clientela mas porque os donos vão deixando de ter vontade de trabalhar tanto (ou morrendo, vá). E salvo raras excepções – como o que a Leonor Godinho fez com A Vida de Tasca – ninguém pega neste tipo de sítios. A malta mais nova procura conceitos, decorações vintage, fórmulas pré-feitas e viradas para o cliente internacional, que têm padrões mais fáceis de agradar. E assim se vão perdendo verdadeiros pedaços da história da restauração lisboeta, e da própria cidade.

a galé dos manos

Preço Médio: 18€ pessoa (com vinho da casa)
Informações & Contactos:

Estrada do Calhariz de Benfica, 182 | 1500-288 Lisboa | 21 774 2817

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