AJITAMA SUPPER CLUB

Fátima, Futebol… e Ramen.

13 de Maio de 2017. O Papa esteve em Fátima até há poucas horas e o histerismo foi geral. O Benfica sagra-se tetra campeão de futebol e o histerismo é ainda maior. E, no meio de tudo isto, nós estamos a jantar, descontraídos, em casa de completos desconhecidos. Onze pessoas, à volta de uma mesa comum, unidos por uma coisa apenas: o Ramen.
Minhas senhoras e meus senhores, bem vindos ao Ajitama Supper Club.

Lutamos contra o trânsito benfiquista até chegar à morada que nos deram, na zona de Arroios. Somos os últimos a chegar, mas não há apresentações directas, só um “boa noite” geral. A cozinha é aberta, por isso podemos ver os anfitriões já a preparar a primeira entrada. Uma sakerinha de morango como welcome drink e sentamo-nos à mesa, em lugares aleatórios.

Primeiro, as regras da casa. Porque somos convidados em casa de alguém, então vamos tentar não transportar o barulho para fora da sala, porque há crianças a dormir nos quartos mais afastados. Não há preço para a refeição, mas quem quiser pode deixar um “donativo no final. E o que vamos comer é  fruto da paixão que estes dois amigos têm pelo Japão, paixão essa que querem partilhar connosco.

Uma das maravilhas da comida é que realmente aproxima as pessoas, por isso a timidez inicial transforma-se em conversa divertida assim que começamos a comer. No nosso grupo há todo o tipo de profissões, mas estamos todos unidos pelo mesmo: o ramen.

Começamos com as entradas, que funcionam como ice-breaker: primeiro o sunomono, a conserva de pepino japonesa que tão bem conhecemos dos restaurantes de sushi, e depois um feijão verde com sementes várias, meio crocante, viciante. A conversa é boa, o vinho (e cervejas japonesas) também, e a ideia é não ficar sempre na mesa. Até porque o balcão da cozinha é mesmo ao lado e todo o processo de preparação do ramen merece ser visto.

Isto é outra das coisas muito interessantes no conceito de “supper club”: não estamos num restaurante, por isso sentimo-nos mais envolvidos no processo. Nenhum dos dois mentores do projecto tem formação culinária, mas explicam-nos o trabalho que deu até aperfeiçoarem a receita de ramen que nos vão servir. Isto enquanto compõem a tijela, à nossa frente, de forma metódica mas descontraída.

O ramen que nos servem é o Shio Ramen, o mais salgado das várias variedades de ramen. Três caldos diferentes (galinha, taré e dashi), gordura de porco preto alentejano marinada durante 5 horas, massa fresca feita em casa, barriga de porco marinada em soja, cogumelos, cebolinho e, claro o ovo, vulgo ajitama (por causa do seu tempo de cozedura). Ainda antes de provar, a sala enche-se de um aroma incrível à mistura de caldos, que nos deixa a salivar.

E a verdade é que este é provavelmente o melhor ramen que comemos até hoje! Não somos especialistas, até porque não é um prato muito abundante em restaurantes em Lisboa, mas tudo aquilo que provamos nos faz sentido. A profundidade do caldo, onde se destaca a galinha mas que no fim tem um toque a mar, a massa perfeita, a barriga de porco saborosa e cortada em fatia fininhas para ser mais fácil de comer e o ovo, um ovo fora de série.

O processo de degustação é demorado, porque a conversa está animada e mais do que isso: porque é preciso saborear, e todos o estamos a fazer. A cada nova colherada encontramos uma dimensão diferente de sabor, que é partilhada com o resto da mesa, numa espécie de comunhão que só a comida consegue criar. A boa comida, aquela que é feita com o coração.

A noite termina ainda com uma sobremesa, também muito interessante. A bavaroise de matcha tem a consistência perfeita e mesmo sendo uma sobremesa, deixa-nos de consciência tranquila por não ser demasiado doce.

A noite já vai longa, porque o tempo passa depressa quando nos estamos a divertir. Há conversas cruzadas, brindes e parabéns repetidos aos anfitriões pela ideia e pela concretização. Na cozinha vemos os despojos de várias horas de trabalho, que resultam num jantar inesquecível e num ramen que fica para a história.

Depois de mais de 4 horas a partilhar uma mesa com desconhecidos, já somos todos amigos, porque partilhámos algo especial. Os dois anfitriões recebem os elogios de forma tímida, mas nós dizemo-los de forma sentida.

E num dia em que houve Papa em Fátima, tetra campeonato para o Benfica e ainda a vitória no Festival da Eurovisão, aquilo que realmente nos ficou na memória foi este jantar no Ajitama Supper Club. Pelo conceito muito bem conseguido e, claro, pelo fantástico ramen.

Preço Médio: (não há, cada pessoa deixa o que quer)
Informações & Contactos: as marcações devem ser feitas através do mail ajitamalisbon@gmail.com

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