Comida de (con)fusão…
Sempre achei interessante o fenómeno de mistura de gastronomias num só restaurante. Já eram antigos os indianos-italianos, depois apareceram os chineses-japoneses, e mais recentemente apareceram os famosos asiáticos. E estes últimos resultaram (ainda resultam!) muito bem por causa do boom que a comida asiática em geral teve na Europa. Por isso mesmo, não seria de estranhar que, mais cedo ou mais tarde, começássemos a ver ementas ainda mais esquizofrénicas: comida asiática misturada com comida europeia ou com comida sul-americana ou africana… enfim, vale tudo para apresentar uma oferta muito abrangente a quem se senta à mesa de alguns restaurantes. Mas se a variedade é muita, depois temos de olhar para a qualidade da execução…
É nesse contexto que encaixamos o Trópico do Cais, que se assume como um restaurante de fusão gastronómica, onde as influências asiáticas se misturam com toques da América do Sul. Parece-nos, logo assim de cabeça, que estamos a falar de demasiadas coisas, e que tudo isto pode resultar numa confusão. Por outro lado, permite ao restaurante fazer basicamente o que lhe apetece a nível de carta, o que é sempre confortável. Mas para o cliente, só é bom se as coisas forem bem executadas ou fizerem sentido. Senão, a fusão transforma-se em… confusão.
Ora, aquilo que mais nos ficou na memória sobre o Trópico do Cais não foi o espaço nem a comida… foi o serviço. E não pelas melhores razões. Começa atabalhoado, com pedidos trocados e muito esquecimento, sem sequer grande conhecimento sobre a carta. É certo que, com o passar do tempo, as coisas vão melhorando, e quem nos atende acaba por tentar compensar as falhas iniciais (inclusivamente oferecendo uma sobremesa). Mas o jantar fica na mesma marcado pela inconsistência do serviço.
E se há inconsistência no serviço, na comida acabamos por sentir o mesmo. As entradas são mais seguras, não há grande invenção, por isso são mais consistentes: os Spring Rolls são iguais a todos os spring rolls que já comemos em restaurantes asiáticos, a as Gyosas de carne também não passam do registo normal. O mais interessante são as Pipocas de Camarão, pequenos pedaços de camarão bem fritos e saborosos, acompanhados por uma também boa maionese com toques de lima. Não percebemos bem qual é a influência para este prato, mas resulta bem.
No entanto, as coisas começam a ficar mais confusas quando entramos nos pratos principais, ou pelo menos nos que se parecem mais com isso. E começamos pelos dois piores, por razões diferentes: o Tataki de Atum está no ponto mas o atum é seco, não parece a coisa mais fresca do mundo; e o Ceviche de Salmão é só estranho, com demasiado molhos mais orientais a tirarem o sabor ao peixe. Pode ser só de mim, mas se querem chamar ceviche a um prato, façam-no como é suposto fazer um ceviche. Ou então chamem-lhe “peixe marinado com cenas”…
Melhor o Caril Verde, ainda que menos intenso do que devia ser. Se calhar porque se trata de um restaurante com tanta (con)fusão, aquilo que sentimos é que nada está verdadeiramente apurado, ou picante, ou mesmo com os sabores que seriam de esperar. Este caril devia ser mais intenso, ter mais picante, ou pelo manos um toque mais asiático. Na mesa houve quem dissesse que parecia strogonoff, por isso…
E deixámos para o fim o melhor prato da noite! O Nasi Goreng é provavelmente o prato confeccionado da forma mais correcta, porque também não tem muito que enganar: frango, arroz, legumes, num salteado apurado, completado com um ovo estrelado em cima, para misturar tudo. O ovo passou um bocado o ponto, é verdade, mas tendo em conta tudo o que nos passou pela frente até ali, damos essa de graça.
Nas sobremesas voltamos a sentir o mesmo que nas entradas, ou seja, consistência mas ali num registo mediano. O Brownie de Paçoca podia ser um brownie de amendoim (e, na verdade, é mais ou menos isso), que para nós parecia o mesmo; e o Parfait de Chocolate e Amendoim cumpre, mas sem sem surpreender. Por isso, acabamos por terminar a refeição como passámos o tempo todo: um bocadinho indiferentes…
No fundo, é como diz o ditado: “quem tudo quer, tudo perde”. No Trópico do Cais podem nem tudo estar perdido, é verdade, mas é um daqueles exemplos de restaurante que tenta ir a tanto lado… que não consegue especializar-se em nada. Nada do que provámos foi inesquecível ou sequer razão para uma nova visita. E mesmo com o atendimento a melhorar substancialmente a partir de meio do jantar, tudo ficou assim mais ou menos… normal. Aquela mediocridade que acaba por fazer com que tantos restaurantes caiam no esquecimento.
Preço Médio: 25€ pessoa (com cocktails)
Informações & Contactos:
Rua da Moeda, 2 A | 1200-275 Lisboa | 21 403 88 20