TOSCO

Uma tasca moderna que precisa de ser mais genuína…

O Tosco é uma tasca moderna que tenta ser uma tasca à antiga. É o que se propõe, foi o que lemos em vários sítios aquando da sua abertura, é o que nos parece quando entramos no pequeno espaço, quase vazio ao jantar num dia de semana. Para um jantar que teve pontos altos e outros nem por isso, mas que não ficou na memória.

Porque o problema é que não basta ter as mesas e cadeiras em madeira, a linha de azulejos na parede, os quadros típicos ou as ardósias, enfim, este tipo de clichés para se recriar uma tasca a sério. É preciso, acima de tudo, criar-se ou ambiente tasqueiro, dar-se vida à casa. E, se calhar ainda antes, é preciso ter alma de tasqueiro… e foi exactamente isso que sentimos no Tosco. No ambiente e, claro, na comida.

tosco restaurante

À hora de almoço o Tosco serve pratos do dia, que vão mudando diariamente, mas a ementa dos jantares é diferente. Estamos no registo da partilha, com vários petiscos, sempre com uma base de cozinha tradicional, ainda que com um ou outro twist. Não é nada que já não tenhamos visto, aliás, este conceito da tasca moderna até foi uma moda que passou há uns anos, mas pronto. Aqui falta uma coisa essencial, que é o vinho da casa, pelo menos ao jantar. Só servem vinho engarrafado, e mesmo que os preços não sejam demasiado elevados, uma tasca deveria servir vinho da casa, em jarro. Enfim…

mesa

Começamos com os Croquetes de Cozido, com um puré de maçã completamente dispensável. Os próprios croquetes são bons, saborosos… mas sabem a cozido? Não, nem por isso. Temos essa expectativa mas recebemos apenas dois croquetes de carne bons, mas só isso. Ao mesmo tempo, os Ovos Rotos com Farinheira, e estes sim cumprem a promessa. Boa batata frita, 2 ovos bem estrelados, farinheira de qualidade, tudo para misturar e comer sem ter receios do colesterol.

tosco restaurante

Depois, o melhor petisco da noite e outra pequena decepção. Parece que vinham aos pares… O melhor petisco da noite é o Pato, Moelas e Alho Francês, que é basicamente aquilo que é descrito, sendo que o alho francês surge na forma de topping. O que está por baixo é viciante, com excelente molhanga, a carne tenra e saborosa. Por acaso não pedimos pão, porque era aqui que acabava todo.

tosco restaurante

Até porque o molho do Chambão e Castanha não é tão interessante… esta é uma combinação que nos pareceu fazer sentido, mas quando provámos tivemos aquela sensação de ser apenas “nin”. Nada a apontar à textura da carne, mas esperávamos um sabor mais intenso, mais apurado. Como sempre, é uma questão de expectativas e de gostos, sabemos disso. Mas foi o que sentimos…

tosco restaurante

Um dos petiscos que se destacou na ementa logo numa primeira leitura foi a Cabidela do Mar. Que nos explicam que não é bem uma cabidela, aliás, não tem nada a ver. É no fundo um arroz com tinta de choco que depois leva lulas, mexilhões e duas gambas a decorar. O nome desperta interesse, mas precisa mesmo desta explicação, porque no fundo é um arroz de marisco com tinta de choco. Nada a apontar ao ponto do arroz nem à quantidade de bichos, mas talvez devesse ser servido logo acompanhado do picante caseiro, porque precisa desse “kick”.

cabidela do mar

Finalizamos com um dos pratos principais, que são apenas 3 na ementa, porque o resto são petiscos. O Bacalhau à Brás é bem servido, especialmente se considerarmos o preço (10,50€). Segue a linha da versão deste prato servida nas tascas modernas um pouco por toda a Lisboa (como no Velho Eurico ou na Taberna Sal Grosso, por exemplo), onde os ovos e o bacalhau ficam mais envolvidos e não ficamos com aquela sensação de estar a comer ovos mexidos. Sendo um bom prato, achámos que lhe faltava um pouco de tempero, além de que a textura estava mais próxima de uma açorda, assim um bocado em papa. São pormenores, é verdade.

tosco restaurante bacalhau à brás

Nas sobremesas, das três mousses que existiam, escolhemos a Mousse de Amêndoa, que é um doce de amêndoa, sem rigorosamente nada a apontar. Com o café ainda nos é oferecido um digestivo, uma aguardente suave, um gesto simpático e que está alinhado com o conceito de tasca moderna que o Tosco quer seguir.

tosco restaurante sobremesa

Uma pequena conversa com um dos donos, que explica que o espaço ainda está mais ou menos no início (abriram em Abril de 2022) e que ainda se estão a habituar à zona. É verdade, esta zona de Alcântara não é a mais fácil, parece que é só de passagem… mas não nos parece que o principal problema do Tosco seja o local onde está o restaurante. Aquilo que sentimos foi que falta ambiente à casa, falta alma tasqueira, que não vimos no serviço nem na comida. Há bons petiscos, mas depois há coisas sem grande coração, e é esta genuinidade que constrói um restaurante. No Tosco sentimos que existe uma ideia do que pretendem ser, mas depois falta aquela alma que nos faz querer voltar…

Preço Médio: 25€ pessoa (2/3 petiscos e vinho)
Informações & Contactos:

Rua de Alcântara, 14 A | 1300-026 Lisboa | 21 590 95 01

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