A “ratoeira” do Sr. Oliveira!
Não temos por hábito ler opiniões ou pesquisar sobre restaurantes antes de lá irmos a primeira vez. Pedimos sugestões à nossa comunidade e a amigos que partilham o mesmo gosto, e seguimos aquelas que são mais frequentes ou que nos são melhor recomendadas. Sentimo-nos mais seguros com a partilha de opiniões, e sempre foi desta forma que fizemos as nossas escolhas. Porque, no fundo, a melhor coisa que pode acontecer é chegar a um restaurante sem expectativas e sair de lá com uma bela surpresa.
Mas nem sempre é isso que acontece, e há alturas em que nos arrependemos redondamente de não pesquisar o que se diz acerca do restaurante. Foi o que nos aconteceu muito recentemente na Tasquinha do Oliveira, em Évora. Restaurante que nos foi sempre recomendados inúmeras vezes, quando andamos pela zona, como sendo dos melhores de Évora. Mas também restaurante sobre o qual, se tivéssemos perdido uns poucos minutos a ler as críticas do TripAdvisor (por exemplo), teríamos ficado logo de pé atrás. E isso ter-nos-ia preparado para o que nos aconteceu durante o jantar.
Isto porque encontrámos imensas semelhanças entre o que nos aconteceu e episódios descritos nos comentários ao restaurante no TripAdvisor. E atenção: tanto nos comentários maus, como nos bons. Preços demasiado elevados, coisas que aparecem na mesa sem preço de todo, demasiada insistência para comer as entradas, carta de vinhos inexistente para avaliar os preços… e um serviço que parece simpático mas que insiste em trazer-nos mais comida do que pedimos, para nos cobrar no final. Só coisas boas, numa tasca alentejana, não?!
Bom, a primeira decepção na Tasquinha do Oliveira tem mesmo a ver com a designação. Porque de tasca o espaço tem muito pouco, pelo menos agora. Percebemos pelo balcão que ocupa metade do espaço que este restaurante terá sido uma tasca algures no tempo, mas agora não: toalhas brancas de tecido, louça demasiado formal, ambiente silencioso, quase de biblioteca… só cortado pela playlist de música jazz demasiado alta e completamente desadequada a um espaço como este. De resto, cerca de 12 lugares e paredes cheias de fotos e recortes de artigos, assim como alguns prémios. Tudo muito datado, nada com menos de 10 ou 12 anos. Isto promete…
A primeira coisa que o Sr. Oliveira (o dono, que está na sala, enquanto a esposa está na cozinha) nos pergunta quando nos sentamos é se é a primeira vez que lá vamos. Pergunta-nos a nós e também aos restantes casais que vão chegando nessa noite. Só depois vai atrás do balcão e nos traz as ementas. Novamente recorrendo ao que se diz no TripAdvisor, há quem sugira a existência de duas listas, com preços diferentes, consoante o cliente seja habitual ou esporádico. Não sabemos se é verdade, mas o que sabemos é que ficamos mais uma vez um pouco chocados, desta vez com os preços, que nada têm a ver com preços de tasca (e muito menos com os preços praticados nas tascas no Alentejo). Pratos principais a 18€? Ok…
Por isso mesmo, olhamos com mais atenção para a lista de entradas, que mesmo com preços acima da média, podem ser uma alternativa. Isto enquanto nos vão tentando “vender” (várias vezes, insistentemente) as saladas frias expostas na montra. Tudo com bom aspecto, é verdade, mas sem preços. Resolvemos resistir à tentação, por maior que fosse a insistência, porque começamos a somar os preços do que vamos pedir de seguida e percebemos que não vai ser um jantar barato.
Começamos com o couvert, que traz um pão normal e umas tostinhas muito boas, que servem para devorar o queijo amanteigado que pedimos também. Além do queijo, temos direito a um doce de alperce delicioso, feito no restaurante, e que é oferta da casa. Se calhar devíamos ter percebido logo que era a única simpatia da noite.
Ao mesmo tempo, o vinho. Não há carta, perguntam-nos só se gostamos mais encorpado ou ligeiro. Decidimos e perguntamos o preço do que nos vão trazer… e a resposta é um sorridente “Ah, não se preocupe com isso!”. Estão a ver o género?
Depois, começa a chegar comida. As Pataniscas de Bacalhau foram das coisas que mais nos recomendaram na Tasquinha do Oliveira, por isso pedimos uma para cada (são cobradas à unidade). Mas nem precisávamos de ter pedido, porque nos disseram logo que já estavam a fritar desde que nos sentámos. “A clássica simpatia alentejana”, pensamos nós. E pensámos o mesmo quando o prato que chega à mesa nos traz 4 pataniscas em vez de 2. Estamos habituados a restaurantes típicos no Alentejo interior, onde as doses são sempre mais do que pedimos, por pura simpatia, sem que isso se reflita no preço.
Sobre as pataniscas, são boas, estaladiças, saborosas, ainda que um bocadinho oleosas. Não são as melhores pataniscas que já comemos, mas são um bom começo de jantar, a nível de qualidade. E quantidade também, pensamos nós, por simpatia.
A mesma situação acontece com a Empada de Perdiz, da qual pedimos uma fatia. Uma fatia… que chega à mesa cortada ao meio. Ou, pelo menos, é isso que pensamos, porque as fatias são bastante fininhas. A empada é bem recheada e bastante gulosa, sem dúvida, com a mistura de carne de caça e o alho francês a resultar muito bem. Nada a apontar.
Para terminar o conjunto de entradas que pedimos para podermos depois partilhar um só prato principal, os Ovos Verdes. Um velho favorito, e que cada vez menos encontramos nas cartas dos restaurantes, mas que quando são bem feitos, são deliciosos! Nesta “tasquinha” são bastante bons, ainda que sejam também um pouco oleosos (como as pataniscas). Ainda assim, o recheio é bom, por isso essa oleosidade passa ao lado.
Nos pratos principais, até por causa dos preços praticados, resolvemos pedir apenas um, para dividir. E, como estamos no Alentejo, a escolha quase óbvia são as Migas, aqui servidas com Entrecosto. As Migas com Entrecosto da Tasquinha do Oliveira são exactamente o que esperávamos, ricas em sabor, bem apuradas, as migas ainda húmidas e soltas, o entrecosto bem frito e temperado. E servidas numa dose que dá perfeitamente para duas pessoas, algo que nos deviam ter dito logo no início, e que assim ajudaria a justificar um bocadinho mais o valor dos pratos. Mas não… e já nem vamos a tempo de avisar outra das mesas, onde se pedem dois pratos principais. Enfim…
Nesta fase já estávamos mais do que habituados ao “esquema”, por isso escolhemos só uma sobremesa, para dividir. Isto mesmo com uma grande insistência para provarmos mais do que uma. E, claro, estão expostas, não têm preços, nem estão em lista nenhuma. Conveniente. Escolhemos as Farófias, mesmo sendo o menos alentejano no meio de todos os outros doces conventuais, porque nos pareceu que seria a dose mais bem servida. Sim, é verdade, mas a quantidade não compensa a qualidade: demasiado doces, ao ponto de conseguirmos trincar o açúcar no meio das claras.
No final, chega a conta… com todos aqueles itens a mais que não pedimos. Comemos, é verdade, e aqui fomos anjinhos, porque acreditámos que o Sr. Oliveira estava simplesmente a ser simpático, como muitos outros donos de restaurantes no Alentejo, aqueles a que voltamos frequentemente. Mas não, está tudo na conta, tudo. E melhor, quando chamamos a atenção para o facto de nos terem sido servidas mais quantidades do que aquelas que pedimos, a reposta é novamente sorridente: “Olhe, pois, nem tinha reparado nisso…” Nem respondemos, pagámos e saímos o mais depressa possível, porque estávamos furiosos.
No fundo, a Tasquinha do Oliveira até pode já ter sido uma tasca, mas hoje em dia sentimos que está muito mais próxima de um “tourist trap”. Não há nada no ambiente que seja convidativo, a música é só absurda, os preços são ridiculamente caros… e depois há todo este tipo de estratagemas para nos fazer consumir mais do que queremos, muitas das vezes sem sequer nos mostrarem os preços. Este era um fenómeno mais ou menos habitual há uns anos, nos restaurantes mais turísticos da capital, mas nunca pensei ir encontrá-lo no Alentejo, nos dias de hoje.
Não duvidamos que exista muita gente que goste da Tasquinha do Oliveira. Lá está, cada um fica com a sua experiência e molda a sua opinião. A nós, o que nos aconteceu foi exactamente o que descrevemos em cima, sem tirar nem pôr. Se calhar, fôssemos nós clientes habituais, a experiência teria sido completamente diferente. Mas isso é algo que nunca vamos conseguir saber… porque nunca seremos clientes habituais de um restaurante assim.
Preço Médio: 35€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua Cândido dos Reis, 45 | 7000-524 Évora | 266 744 841
45 euros por pessoa, acham caro???
Há uma ferramenta muito interessante em todos os estabelecimentos que servem o publico
– Livro de Reclamações
Há uma ferramenta muito interessante em todos os estabelecimentos que servem o publico
mas afinal amigos quanto deu a conta?, ninguem disse , estou tentando fazer reservas por lá, gostaria de saber o preço da “ratoeira”?????
A conta deste almoço ficou nos 45€ pessoa. E basta ver pela descrição do que comemos, que talvez não justifique…
Resido no Brasil
Já por duas vezes a este restaurante .A comida é boa , mas falta objetividade no diálogo com o atendente , que por vezes parece querer confundir o cliente para faturar mais alto . Como relativamente pouco e não adianta colocar na mesa um mundo de coisas e na hora de saborear o prato principal já não há mais espaço para concentração do sabor. Não sou miserável para gastar , quero preços acessíveis e não gosto de ser explorado o que ocorre na Tadquinha Oliveira quando o cliente por cerimônia aceita tudo e paga caríssimo .
Tem toda a razão. Desde sempre o esquema foi esse .Nada de cartas (ao inicio nem de comida) . E a isso juntasse o facto de o dono ser de uma antipatia que envergonha qualquer alentejano. MAs ele já era enquanto foi empregado no Restaurante Fialho.
Uma pena…
Um desafio ao dono deste blog. Porque não montas tu um restaurante? Ou serás daqueles que como tens um blog queres comer à pala, como eu já assisti noutros restaurantes?
Conclusão : Recomendo este restaurante. Simplesmente magnifico e só fui lá uma vez. Mas deram-me listas de tudo. Paguei bem mas não lamentei o dinheiro que gastei.
Ainda bem que é a excepção à regra, José 😉
Tem razão!E’um restaurante com muita qualidade.Sempre que vamos a Évora,não deixamos de visitar a Tasquinha.Atendimento 5estrelas e a comida excelente.
Quanto fui a Evora andei uma hora procura restaurante achei tudo muito caro e aterrei no Quarta feira em boa hora
Uma excelente escolha!
Gostei do texto. A ratoeira está lá para quem quiser cair nela.
Obrigado por partilharem
Com pandemia a condicionar a vida do pessoal, dou por mim a ter saudades de sair sem destino, quase sempre o Alentejo, mas infalivelmente onde se possa comer em português, beber bem, seja surpresa ou velho amigo, mas deixando as estrangeirices da moda, imaginadas por estrelados chefes, entregues ao palato da novel sociedade consumidora e dedicada a menus plenos de exotismo e heterogeneidade.
Isto só para dizer que , logo haja responsavelmente liberdade de circulação, vou tentar marcar almoço na “Tasquinha do Oliveira”
Pois já lá pode ir, pois está aberto como pode comprovar no meu “post” de 23/04/2021
Já não vou à Tasquinha do Oliveira para aí há uns 8 anos. Das vezes que lá fui, comi opiparamente bem e paguei lautamente. Enfim, por vezes para se comer bem tem que se pagar igualmente bem. Este comentário sobre a “ratoeira” do Sr. Oliveira deixou-me algumas dúvidas. Em primeiro lugar a dúvida de que a tasquinha do Oliveira se terá assim degradado tanto. Mas, curiosamente os comentários são muito contraditórios. Tratou-se duma ratoeira, mas as pataniscas “boas e estaladiças” (tal e qual como eu me lembro), “tostinhas muito boas, que servem para devorar o queijo amanteigado” (suponho que saboroso), “a empada é bem recheada e bastante gulosa”, “as Migas com Entrecosto da Tasquinha do Oliveira são exactamente o que esperávamos, ricas em sabor, bem apuradas, as migas ainda húmidas e soltas, o entrecosto bem frito e temperado. E servidas numa dose que dá perfeitamente para duas pessoas” (pelos visto pagar 18 € por uma dose que dá para duas pessoas não é exagero). Oh diabo! Será que se tudo isto fosse imprestável não se trataria de uma ratoeira, mas de uma sublime refeição Gourmet, daquelas que “Pour L’Épater le Bourgeois” se comem nos restaurantes Michelin?
Segunda dúvida: será que o comensal responsável por esta crítica “à ratoeira do Sr. Oliveira” pensava que esta casa era uma tasca daquelas de chão de terra batida, mesas corridas cobertas por toalhas de papel e em que o empregado que serve à mesa tem um lápis na orelha e avental cheio de nódoas de gordura e vinho (está bem. estou a exagerar um pouco) e com custo ao preço da uva mijona? Então enganou-se no restaurante. A tasquinha do Oliveira foi durante alguns anos Garfo de Ouro do Boa Cama Boa Mesa e quase unanimemente considerado um dos melhores restaurantes do País.
Terceira dúvida: será que a tasquinha deixou de ter carta de vinhos ? Das vezes que lá fui pedi, e foi-me sempre gentilmente entregue, uma carta de vinho soberbamente recheada, sobretudo, mas não só, com vinhos da região. Havia somente uma lacuna nesta carta: faltavam vinhos do Porto, mas podia-se beber um excelente licoroso do Mouchão.
Está bem. Segundo percebo a ratoeira esteve a ver com o preço final da refeição e de não haver carta de vinhos. Acho que vou, talvez, cair na ratoeira e ir de novo à Tasquinha para desfazer as dúvidas. Mas irei preparado para pagar mais do que numa tasca, pois a tasquinha é (pelo menos na minha memória) um restaurante a sério e de alta qualidade.
Olá, Vitor
O segredo para todas as suas questões está no início da sua resposta “8 anos”.
Regresse e depois conversamos!
Nunca dissemos que a comida estava má, apenas dissemos que o Sr. Oliveira tenta, e infelizmente connosco foi bem sucedido, enganar os clientes. Ao não ter doses de vinho e ao trazer mais doses do que aquelas que foram pedidas sem avisar.
Só vimos depois, mas o tripadvisor está cheio de críticas iguais às nossas.
É passar pela “Ratoeira”, mas leve estas dicas e evita uma situação chata.
Obrigado pela simpática resposta e pela sugestão. Lá irei, logo que a pandemia me o permita. Depois colocarei aqui a minha crítica
Pois regressei a esta monumental Tasquinha, logo que houve um abrandamento do confinamento (dia 21/04/2021) e pude comprovar que eu tinha razão: continua ter uma cozinha magnífica. Logo que nos sentámos foram-nos colocadas 3 folhas plastificadas, uma com a entradas frias, outra com a entradas quentes e uma terceira com uma lista curta dos pratos principais (a pandemia assim “obriga”). A última vez que lá fui, há uns bons 8 a 9 anos, a mesa já se encontrava preenchida com inúmeras entradas. Desta vez não. Como entradas provámos as estupendas pataniscas de bacalhau, um escabeche de perdiz (muito bom; está bem não vou adjetivar mais os pratos, pois estavam todos magníficos), e um ovos com espargos. A acompanhar um vinho tinto (Ponte do Mouchão). Como pratos principais um borrego no forno (que maravilha!!! Está bem abro aqui uma exceção) e uma bochechas de porco. Doses bem avantajadas acompanhadas por um soberbo Mouchão 2013. Nas sobremesas provamos uma sopa dourada e umas farófias acompanhadas com um Licoroso do Mouchão (muito concentrado na cor, aveludado no palato, uma boa alternativa a um Porto). De referir ainda que a carta de vinhos que nos foi apresentada constava de uma folha igualmente plastificada com uma relativamente curta lista de vinhos, mas reparei que haviam vinhos à vista que não constavam nesta carta (entre os quais o Mouchão). Existia uma outra lista de vinhos mais completa. Os vinhos estão a um preço um pouco puxados, infelizmente algo vulgar em muitos restaurante o que não ajuda à divulgação dos nossos (cada vez mais) excelentes vinhos. Claro que o preço final não se compara ao de uma vulgar tasca, como aqui já referi uma “tasca daquelas de chão de terra batida, mesas corridas cobertas por toalhas de papel e em que o empregado que serve à mesa tem um lápis na orelha e avental cheio de nódoas de gordura e vinho”. Mas, quem tiver disponibilidade financeira, pelo menos uma vez na vida deve lá ir, antes que o maldito vírus dê cabo destes pequenos mas muito bons restaurantes.
NÃO. Não se trata de uma ratoeira.
Tinham ido ao Fialho que fica ao lado, que é simplesmente o melhor restaurante do alenteno!
Olhe que não, olhe que não
boa publicidade 🙂 🙂 🙂