Um bom indiano numa terra de pescadores.
É perfeitamente normal que tenhamos determinadas expectativas – ou ideias pré-concebidas, se calhar é melhor – sobre o tipo de restaurantes a quem vamos em determinadas zonas. Ou seja, assumimos que em certas zonas se come só aquilo que é típico de lá, e então nem sequer concebemos outras alternativas. Pensem em ir a uma cidade italiana… o que é que vão procurar comer? Pastas, pizzas… porque faz parte do contexto do local. Mas isso não significa que esses sítios só tenham essas tipologias de restaurantes, ou sequer que sejam os melhores. Às vezes temos surpresas…
Ora, quando se pensa na Nazaré, pensamos automaticamente em peixe. Aliás, em restaurantes que servem peixe e marisco (e petiscos, claro). Porque estamos mesmo em cima do mar, porque é um terra de pescadores, porque o turismo da zona leva para aí. Mas a verdade é que – como acontece em todas as localidades – há sempre excepções à regra, que geralmente são aquelas que acabam por se destacar. E no caso da Nazaré, a excepção é um restaurante de comida indiana: o Swagat.
O Swagat não fica na rua principal da Nazaré, junto ao paredão, mas sim numa rua paralela, atrás dessa confusão e do barulho que advém de muitos restaurantes e bares e milhares de pessoas. É curioso que, basta passar para a rua de trás e estamos num ambiente muito mais calmo, sem barulho, sem confusão. E entrar no Swagat é isso mesmo: chegar a um pequeno oásis de calmaria no meio do caos. O restaurante tem uma sala de dimensões consideráveis, mas a decoração bem trabalhada transmite-nos um sentimento acolhedor (o que nem é muito comum nos restaurantes indianos). O espaço é dominado pelo bar a um canto da sala, com tons dourados, e por uma parede com uma pintura representativa da Índia, muito bonita. De resto, decoração pontual e com bom gosto, étnica o suficiente mas também sofisticada.
Os tons dourados transitam para as mesas, nomeadamente nos talheres e guardanapos, aliás, toda a louça mostra novamente esta procura do Swagat em ser mais do que um simples indiano, mais requintado e sofisticado. E não ficamos por aqui, já que assim que os nossos pratos começam a chegar à mesa, percebemos que também existe um cuidado extra no empratamento. Ou, se quiserem, no “embelezamento” dos pratos. Mas já lá vamos.
Numa primeira análise da ementa, não encontramos grandes inovações em relação aos pratos normais de um restaurante indiano. Divisão por proteína, entradas clássicas, pratos com variantes de caril, o habitual. Por isso, pedimos algumas entradas e depois os pratos principais, também sem inventar – até porque é mais fácil comparar qualidade quando estamos habituados a pedir mais ou menos os mesmos pratos.
Começam por chegar à mesa as Chamuças de Frango e os Dahi Puri, e percebemos então que aqui no Swagat há também um cuidado extra no empratamento e decoração dos pratos. Talvez as flores comestíveis sejam um pouco exageradas, mas a verdade é que a composição dos pratos transporta-nos para quele nível de requinte a que não estamos habituados na generalidade dos restaurantes indianos – outra das excepções a essa regra é o Oven, em Lisboa.
Chamuças com recheio muito bom, compacto e já ligeiramente picante, ainda que a massa pudesse ser um pouco mais crocante. E os Dahi Puri são muito bons, com um recheio que equilibra muito bem o doce e ácido. Já são servidos recheados, por isso perdemos aquela parte de sermos nós a colocar o recheio, mas por outro lado estão muito bem recheados. E isso conta mais 😉
O Cheese Garlic Naan é outro dos pratos que pedimos sempre num restaurante indiano, mas aqui no Swagat foi o menos bem conseguido de todo o jantar. Demasiado seco e com pouco sabor a queijo, tanto que não acabámos o cesto, nem com o molho dos pratos principais. É pena.
Seguindo então para os principais, um dos pratos que nos chamou a atenção foi o Railway Chicken Curry, descrito na ementa como o “autêntico caril de frango tradicionalmente vendido nos comboios da Índia”. A descrição ajuda na venda, ainda que não tenhamos sentido essa diferença quando provamos o prato. Mas é um caril de frango muito bom, apurado, com muitos pedaços de carne bem cozinhados. Mesmo sem recorrer ao naan, o molho desaparece todo do prato, o que é um sinal que é mesmo bom.
Melhor ainda é o molho do Lamb Madras – um caril com cebola, coco, limão e molho de tomate. Ainda mais apurado, picante, também desapareceu todo. O elo mais fraco deste prato foi mesmo a proteína, porque o borrego estava um pouco rijo. Sabemos que não é uma carne fácil de cozinhar, mas foi uma pena estar assim, porque este madras merecia muito melhor.
Ainda pedimos um terceiro prato principal, porque tínhamos curiosidade. E também porque, pelo menos para nós, a comida indiana é um pouco como a chinesa, onde ficamos sempre melhor se pedirmos várias coisas para partilhar. As Seekh Kebab são uma espécie de almôndegas, neste caso de frango, com uma mistura de especiarias e depois grelhadas no tandoori. O sabor é fantástico, a textura é perfeita, é o prato mais simples e o melhor da noite. Novamente, não precisa de toda a decoração, mas percebemos que faz parte do conceito do Swagat.
Terminamos com a sobremesa clássica dos restaurantes indianos. A Bebinca do Swagat é muito boa, servida assim morna como é suposto, e faz o check nas 10 camadas que é suposto ter. Bom travo a coco e a canela, nada a apontar de negativo. Aliás, aqui a “decoração” do prato até funciona bastante bem, porque os frutos vermelhos servem para contrapor o sabor da bebinca, e tornam a sobremesa ainda mais interessante. E depois, um rum indiano, algo que eu nem sabia que existia e que me impressionou muito, aromático, com um toque de especiarias, muito bom.
O Swagat é a prova que na Nazaré não há apenas restaurantes de peixe e marisco, virados especialmente para turistas. Nem há apenas restaurantes na rua principal, em frente ao mar, e basta passar para a rua paralela e encontrar espaços mais calmos, mais requintados… e com maior qualidade. No Swagat há isso mesmo: um espaço com requinte, acolhedor e romântico, e comida indiana bem feita e bem apresentada, a preços muito justos para a zona. E isso faz logo com que a visita valha a pena!
Preço Médio: 25€ pessoa (com cerveja)
Informações & Contactos
Rua Branco Martins, 25 B | 2450-172 Nazaré | 920 090 520