Dá nas vistas. Mas depois…
Não podemos dizer que não gostámos nada do Selllva. Mas também não conseguimos dizer que gostámos. É verdade que estávamos à espera que fosse muito pior, que fosse só fachada e nada se aproveitasse… lá está, expectativas baixas para restaurantes tipo discoteca na zona do Marquês de Pombal. Mas a verdade é que não é tão mau como esperávamos – de todo. Mas também não conseguimos ficar fãs. E acho que são um conjunto de pequenos pormenores que, isolados, não são nada de mais, mas que todos juntos fazem a diferença.
O Selllva tem mais “l”s do que devia ter, mas isso faz parte daquilo que o espaço é: trendy, virado para malta jovem, e como está na zona do Marquês de Pombal/Avenida da Liberdade, muito turístico. E só “Selva” era redutor. Ok, não sentimos esse peso muito turístico quando entramos, mesmo num Sábado à noite. O restaurante está cheio, é verdade, mas a maioria dos cliente são nacionais. Ainda assim, sou o último do grupo (grande) a entrar… e dão-me as boas vindas em inglês. É o que é.
O espaço em si é interessante, e aqui temos a representação clara do conceito “selva” que o nome promete. As paredes laterais estão completamente decoradas com pinturas relacionadas com a selva, temos alguma vegetação artificial a decorar o bar, enfim, é uma decoração bem trabalhada. Por outro lado, a sala é demasiado aberta e o pé direto é muito alto, o que significa que tanto o barulho normal da pessoas a conversar como o da música ambiente tornam-se ainda mais elevados, ao ponto de ser desconfortável em determinados momentos do jantar. Se estivéssemos numa discoteca, era uma boa playlist. Mas ao jantar, é só chato.
Mas então o que é que se come na Selva? Desculpem, no Sellllllllllva? Pois que é daquelas ementas que vai um pouco para todo o lado… maioritariamente estamos num registo asiático, mas depois há referências africanas, sul-americanas e mesmo europeias. No fundo, esta Selllva tem tudo, ou de tudo um pouco. O que lixa um bocado o conceito, mas na realidade não achamos que isso seja o mais importante para o restaurante. “É para ter muitas opções? Ok, nós temos!”
E começamos nas entradas, onde vamos ao Vietname e ao México… mais ou menos. Os Crepes Vietnamitas são maiores do que o habitual, mas são muito bem recheados e o molho que os acompanha tem aquele toque agridoce que é preciso para complementar a frescura dos próprios crepes. E depois temos uns “Tacos” de Alface com Tártaro de Atum, que misturam a gastronomia mexicana com a japonesa… e fazem-no de uma forma muito boa! Porque a emulsão de kimchi que lhes serve de topping dá-lhes esses sabores asiáticos que são precisos para tornar esta entrada num dos pontos altos da noite. Mas assim de caras!
Última entrada, mas sem ordem nenhuma porque o grupo era grande e foi tudo para partilhar. Batata Doce Selvagem, acompanhada com uma Emulsão de Kimchi. A emulsão é fantástica… mas a batata doce, cortada de forma grosseira e irregular, tem pedaços pequenos crocantes e que resultam muito bem, mas depois outros pedaços maiores que acabam por ficar mais moles. Aquilo que sentimos é que há aqui uma boa ideia, mas depois a execução é assim estranha.
Neste momento, uma palavra para o serviço. Não há dúvida nenhuma que é simpático, mas também é demasiado irregular. É certo que a música está tão alta que os vários empregados que vêm à mesa raramente percebiam os nossos pedidos à primeira… Mas depois há outra coisa: somos um grupo grande, numa mesa de grupo, mas a verdade é que somos nós que começamos a juntar os pratos para a recolha ser mais rápida, porque nas primeiras duas viagens são levantados apenas dois pratos… O que faria com que o nosso jantar durasse o triplo do tempo.
Seguindo em frente, para os pratos principais. E começamos logo com o Hambúrguer, que é vegetariano. Sim, um hambúrguer “Beyond Meat”, que ainda não conhecíamos e estávamos muito curiosos por experimentar. Bom, bastante bom. A textura é parecida com a da carne, e o sabor acaba por disfarçar quando misturado com todos os outros ingredientes. Para carnívoros, vão perceber que não é carne… mas não ficam chocados com este hambúrguer!
Depois, os pratos mais “exóticos”. Que de exóticos não têm nada, sejamos honestos. O melhor de todos os que provamos é claramente o Nasi Goreng, um prato indonésio, aqui no Selllva servido com camarão, ervilhas tortas, malaguetas, chalotas, pak choi, shitake, caju e cebolinho, servidos sobre uma base de arroz basmati e com um ovo estrelado por cima. Se é o melhor nasi goreng que já comemos, mesmo em Portugal? Nope, nada disso. É bom, mas falta-lhe sabor, falta-lhe aquele punch dos pratos asiáticos. Mas… se é o melhor prato da noite? Sim, é, sem dúvidas! É o melhor dos pratos que pedimos, e pedimos muitos.
Entre esses muitos pratos há ainda um Tataki de Atum envolvido num molho teriaki que cumpre bastante bem, e também outros pratos mais reconhecidos dos vários restaurantes internacionais que temos conhecido nos últimos anos em Lisboa. Em primeiro lugar, o Pad Thai, que aqui no Selllva é servido sem qualquer proteína na sua base, sendo que depois podemos acrescentar essa proteína… mas, claro, com um custo extra. Enfim. Mas pior do que essa questão do valor do prato, é o facto de todos os ingredientes do pad thai serem servidos de forma separada. Ou seja, recebemos o prato fundo com tudo separado, sem qualquer integração. Isto faz com que tenhamos de misturar tudo já na mesa e que seja quase impossível que os sabores fiquem integrados como se quer neste prato. Aliás, nem percebo bem esta lógica de separar os ingredientes, quando a ideia base do pad thai é cozinhar tudo junto no wok… Estranho.
Outro dos pratos que vem para a mesa é o Bowl Brazil, que é uma forma mais fashion de descrever uma moqueca de camarão. Ora vejam: camarão salteado, espinafres, arroz integral, molho de moqueca e farofa. Isto lembra alguma coisa? Pois, é uma moqueca de camarão… mas se lhe chamarmos “bowl” é mais trendy, não é? Sem comentários… É bom? Sim, é bom, quando se mistura tudo bem, porque é servido também de forma pouco integrada. Mas misturado é efetivamente saboroso, nada a dizer sobre isso.
Ou seja, há aqui mixed feelings. Porque as ideias são boas, as execuções variam entre pratos, mas nada nos convence realmente. Ainda assim, há sobremesas. Como por exemplo o Cheesecake de Iogurte, com um topping de frutos vermelhos e lascas de coco, nada a apontar a nenhum dos elementos, mas que também não nos parece ser uma sobremesa que valha 6€.
Enfim, é aquela história dos mixed feelings de que falámos no início… Não há nada no Selllva de que não tenhamos gostamos em absoluto – talvez à excepção da música demasiado alta. A grande maioria das coisas teve pontos bons e outros nem por isso, o que torna qualquer avaliação muito mais complicada de fazer. O serviço é estranho, o ambiente é giro mas demasiado aproximado de uma discoteca, a comida tem uma boa ideia de base mas depois as execuções pecam por falta de sabor ou falta de integração. O Selllva dá nas vistas, sem dúvida, e tenta chegar a todo o lado… mas como sabemos, quando se tenta chegar a todo o lado, geralmente não se chega a lado nenhum. Aqui não é bem assim… mas também não estamos muito longe disso.
Preço Médio: 35€ pessoa (com um cocktail)
Informações & Contactos:
Rua Mouzinho da Silveira, 32 | 1250-302 Lisboa | 21 599 88 14