PRADO

Este é, sem dúvida, um dos melhores (novos) restaurantes de Lisboa!

Lembro-me bem quando, há cerca de 2 anos, começou a surgir em Lisboa o boom dos restaurantes de Chefs jovens, vindos ou não de outros restaurantes mais conceituados, mas que abriam espaços novos, com posicionamentos mais ou menos semelhantes: foco no produto, sazonalidade, cuidado na apresentação, vinhos biológicos, preço médio a rondar os 40€ pessoa. Sei que estou a generalizar, porque nem todos os restaurantes desta fornada se encaixaram no mesmo perfil… mas a generalidade seguiu esta linha. E se o percursor foi o Chef António Galapito e o “seu” Prado, os restantes foram os seguidores.

Nunca tínhamos ido ao Prado, mas nem foi por nenhuma razão em especial. Não fomos logo no início e depois passou, como passam muitos outros restaurantes, por causa da quantidade de espaços que vão abrindo em Lisboa ao longo do ano. Os foodies de Lisboa relatavam-nos tudo o que estávamos a perder, e tudo aquilo que outros restaurantes estavam a “copiar”, e isso muitas vezes até nos deixava um pouco desconfortáveis. Tanta insistência para quê?

Pois que não tínhamos mesmo ideia daquilo que estávamos a perder. Colocámos o Prado num “bolo” que incluía vários restaurantes que achámos ser do mesmo género, mas bastou uma visita (tardia!) para percebermos que se trata de um restaurante único no panorama gastronómico de Lisboa.

E a verdade é que ficámos surpreendidos (e completamente apaixonados) desde que entrámos porta dentro. O espaço amplo, que já tantas vezes tínhamos visto em fotos nas redes sociais, parece ainda maior, por causa do pé direito alto. As janelas gigantes deixam a luz natural entrar num dos lados da sala e a “vegetação” suspensa do tecto ajuda-nos a perceber o posicionamento do Prado: um restaurante onde os ingredientes vêm directamente da origem e o produto é a estrela absoluta.

Este posicionamento do “farm to table” pode até estar presente no espaço, mas onde se consegue mesmo perceber é na ementa (e depois na comida, claro). A carta do Prado é completamente sazonal, ainda que alguns pratos se vão mantendo, com ligeiras mudanças. Entre esses pratos estão alguns com os quais já nos tínhamos cruzado nas redes sociais e que nos tinham sido recomendados, por isso já levávamos escolhas feitas. Mas a carta – e especialmente a forma como os pratos nos são descritos – é tão interessante que nos apeteceu experimentar quase tudo! Não o fizemos, até porque assim podemos voltar regularmente! 😉

Começamos com o couvert, onde temos pão da Gleba (como se tornou habitual neste tipo de restaurantes, ainda que não seja propriamente a nossa cena), uma manteiga de cabra com sal fumado e uma pasta de gordura de porco, com alho e paprika. Coisas assim a atirar para o moderno, mas muito saborosas, que nos entretêm até ao primeiro prato, que chega rapidamente à mesa. Estamos a falar do Camarão de Espinho, com Hibiscus, servido com uma Maionese de Alho Francês. Ora… que começo fantástico! O camarão é delicioso e a maionese… não há palavras!

Por isso, depois deste fantástico começo, o prato que se segue é o menos interessante da noite, mas a escolha foi nossa. E nem tem nada a ver com ser um prato vegetariano, ou pelo menos não é isso que nos faz achar o prato fraquinho. Curgete, Requeijão de Ovelha e Azedas, uma combinação que nos pareceu interessante no papel, mas que resulta num prato com poucos contrastes a nível de sabor. O que não é nada positivo, comparado com tudo o resto que nos foi servido durante o jantar no Prado.

Felizmente voltamos ao registo muito acima da média com dois pratos dos quais já tínhamos ouvido falar antes, e para os quais estávamos com enormes expectativas. Por um lado, o Tártaro de Marinhoa e Couve Grelhada, com a carne a surgir envolvida na couve crocante. Mais do que um prato, é um snack, mas um excelente snack. O sabor da carne é fantástico, a couve dá-lhe o elemento de portugalidade, e o conjunto todo é tão bom que se percebe o porquê de permanecer numa ementa que varia consoante a sazonalidade.

prado
prado atum patudo

Por outro lado, temos o Atum Patudo, com Framboesa, Coentros e Bordalesa, uma combinação que até parece improvável mas que funciona muito bem ao palato. O atum é delicioso e a framboesa dá-lhe assim um toque que quase leva o prato ao registo de uma sobremesa. Só que não. 😉

Mas os dois pratos mais surpreendentes de uma noite que nada teve de normal ficaram para o fim do jantar. Surpreendentes pela conjugação de sabores e ingredientes, pratos onde a terra se alia ao mar e onde todos os sabores e texturas funcionam na perfeição. Primeiro, a Lula dos Açores, com Cebola Primavera e Caldo de Porco, uma primeira abordagem no jantar a uma espécie de “surf & turf”, com a lula servida em fios tipo fettuccine, cozinhada na perfeição, e depois o caldo com um intenso sabor a carne, que nos surpreende e acaba por ficar na boca no final do prato. Maravilhoso!

Depois, a Presa de Porco Alentejano com Berbigão e Coentros. Se quiserem, um parente muito afastado de uma carne de porco à alentejana. E, também se quiserem, o melhor prato da noite, no meio de outros pratos excelentes. A carne é deliciosa, o berbigão está saboroso, os espinafres dão ao prato um toque de campo e o molho tipo pesto acaba por agarra tudo e criar um conjunto fenomenal. Um prato de conforto, com base nas nossas tradições, mas aqui retrabalhado e dando forte destaque à matéria-prima. Aliás, como todos os pratos que provámos neste jantar.

prado Presa de Porco Alentejano com Berbigão e Coentros

Desde cedo no jantar que ficámos rendidos ao Prado. Ao espaço, à comida e também muito ao serviço, que mesmo seguindo aquela linha jovem presente na maioria dos restaurantes com este posicionamento, aqui tem um conhecimento muito mais aprofundado sobre o que está a ser servido. E ainda bem, porque a experiência no Prado precisa de quem nos acompanhe, quem nos guie pelos pratos e pelos diferentes sabores, que nos saiba aconselhar. Por isso, não hesitámos em ouvir (novamente) os conselhos em relação às sobremesas. E ainda bem!

Não conseguimos pedir duas diferentes, porque o jantar até ali já tinha sido muito “longo”, por isso ficámos pelo Gelado de Cogumelos, Cevada, Dulse e Caramelo. À vista parece uma espécie de arroz doce, mas não tem nada a ver. Uma base de um gelado surpreendente por saber mesmo a cogumelos, coberto por cevada húmida, com molho de caramelo e ainda alguma canela assim só porque tinha de ficar ainda mais gulosa. É uma sobremesa verdadeiramente surpreendente e, como todos os outros pratos que tivemos oportunidade de provar, onde tudo faz sentido junto, mas também onde podemos sentir cada ingrediente em separado. Um final feliz… e perfeito!

prado sobremesa

Correndo o risco de ser repetitivo, demorámos demasiado tempo a ir ao Prado. O buzz à volta do espaço, promovido pela comunidade foodie de Lisboa, não ajudou nada, aliás, foi o que nos afastou durante tanto tempo. Porque o Prado é uma moda, não o podemos negar. Mas quando lá vamos, percebemos que a sua fama é inteiramente justificada!

O Prado é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores restaurantes de Lisboa. Especialmente quando falamos desta nova “leva” de restaurantes que surgiram nos últimos anos, mas na verdade é um dos melhores restaurantes da cidade… de sempre. Há muito poucos restaurantes que consigam dar tanta importância à matéria-prima e que a consigam trabalhar de forma tão consistente e delicada. Um jantar no Prado é uma viagem pelos nossos sabores, pelos nossos produtos, pela nossa capacidade de criar bons momentos. É uma experiência que tem de ser vivida uma vez… e repetida vezes sem conta.

Preço Médio: 35€ pessoa (com vários pratos para partilhar, e vinho)
Informações & Contactos:

Travessa das Pedras Negras, 2 | 1100-404 Lisboa | 21 053 4649

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