Um asiático despretensioso… e concorrido!
A comida asiática é uma das nossas preferidas, e isto tem a ver com diversas viagens que fizemos àquele continente e que nos marcaram imenso, a todos os níveis. Por isso, é perfeitamente normal que estejamos sempre à procura de restaurantes que explorem esses sabores, para tentarmos fazer uma viagens através deles. Para nos despertar memórias, se quiserem. E se há uns largos anos atrás estávamos limitados a restaurantes chineses, japoneses (de sushi, aliás), indianos e um ou outro tailandês, fomos lentamente assistido a um aumento da oferta e, em especial, à criação de um novo tipo de restaurante temático mas generalista: o restaurante asiático no geral, que apresenta pratos de vários países. Essa tendência começou a ser tendência a sério com o Boa Bao e o Soi, por exemplo, e depois foi-se assumindo cada vez mais. E isto leva-nos ao Patuá, na zona dos Anjos, um restaurante que andávamos para visitar desde antes da pandemia.
Uma coisa engraçada no Patuá: foi quase tão difícil arranjar lá mesa para duas pessoas para jantar… como em vários restaurantes com Estrelas Michelin em Lisboa. Não tem nada a ver mas é verdade! Desde o início do ano tentámos, pelo menos, umas 5 vezes, entre quinta-feira e sábado, e a ligar com 2 a 3 dias de antecedência. A resposta foi sempre a mesma: “estamos cheios”. E ainda é mais curioso que na 6ª tentativa, quando finalmente conseguimos só porque houve uma desistência, não só temos mesa como temos mesas por onde escolher. Pode ter sido coincidência… mas não deixa de ser curioso.
A realidade é que o Patuá enche, com um misto de pessoas claramente ali da zona dos Anjos (ou pelo menos clientes habituais) e turistas para quem parece ser a primeira vez. Este tipo de restaurante pede mesmo isso, um misto de culturas, porque a ementa reflecte uma mistura de influências de vários países asiáticos: há pratos tailandeses, macaenses, indianos, japoneses… enfim, de tudo um pouco. E esta abrangência de escolhas acaba por atrair muita gente de todo o lado.
A ementa é curta à leitura, mas extensa se pensarmos na origem dos pratos. E esta viagem à Ásia pode começar logo na sopa Tom Yum, um clássico asiático, uma sopa picante e muito aromática, com vários legumes e camarão. Aqui no Patuá é surpreendentemente boa, até porque já comemos maus exemplares mesmo em alguns países asiáticos… mas aqui há um equilíbrio muito bom no picante, o que faz com que a sopa seja muito saborosa sem nos deixar a arder. E se querem uma entrada picante, é escolher o Camarão do Diabo. Sim, isso mesmo! Um camarão frito com um molho que mistura todo o tipo de malaguetas… yap, é tudo o que estão à espera, mas é um picante cheio de sabor! Para acompanhar com a Mandioca Frita, que pelo menos atenua ligeiramente o picante do prato.
Mas há mais que comer no Patuá, e mesmo com poucos pratos, custa ter de decidir entre eles. Pedimos o Dong Po Rou, que é uma barriga de porco quase caramelizada, cozinhada até ficar tenra mas com a pele mais ou menos crocante, servida sobre arroz. A proporção é sempre lixada, porque queremos mais porco do que arroz… mas é a tradição. A barriga de porco está muito saborosa, o arroz não tem nada que se lhe aponte, ou seja, é um prato bem conseguido.
Outro prato que por lá provámos e que não está na ementa fixa (porque todos os dias há sempre 2 pratos diferentes) foi o Peito de Borrego À Tia Maria. Um borrego cozinhado a baixa temperatura com muitas especiarias, que resulta num molho espesso e cheio de sabor, para ser acompanhado pelo Arroz Temperado com algas e sésamo tostado, que é também uma delícia!
E ainda melhor é o clássico – e inevitável no Patuá – Minchi de Carne. Um prato atribuído à gastronomia macaense (e por nós tudo bem), que teoricamente é uma adaptação do nosso bitoque: uma base de arroz com uma mistura de carne e batata frita em cima. E, claro, um ovo estrelado a terminar, porque senão não seria um bitoque. Seja qual for a analogia, já comemos minchi em vários restaurantes, em Portugal e no estrangeiro, e este do Patuá não é nada mau! Está tudo bem temperado, o ovo está perfeito, e mesmo estando muito longe da referência (que é o bitoque), já comemos minchis muito piores e a pagar muito mais.
É verdade que ainda pedimos a (boa!) Mandioca Frita para picar enquanto os pratos não chegavam, mas mesmo assim sentimos que as doses são muito bem servidas, o que significa que levamos comida para casa. E isto dá-nos logo uma perspectiva completamente diferente em relação ao preço dos pratos, que já não achávamos elevado mas que assim se torna muito interessante mesmo.
Não esperávamos sequer pedir sobremesas, porque sabemos que é daquelas coisas em que a grande maioria dos países asiáticos falha mais redondamente. Mas no Patuá voltamos a ter uma carta de sobremesas curta… e interessante. Por isso, não conseguimos resistir ao Aluá, uma sobremesa macaense com batata doce, amêndoas e côco, uma espécie de almôndega mas com uma explosão de sabores muito surpreendente!
Temos ainda uma versão ligeiramente diferente do habitual da Bebinca, mais pastosa e sem se perceberem bem as camadas todas, servida com raspas de coco por cima. E também o Leite Creme Vegan, que para nós é quase como um desafio: deixa lá ver se conseguem fazer uma sobremesa vegana mas tão decadente e deliciosa como um leite creme. E a verdade é que conseguem! Leite creme de banana, caramelização perfeita, sabor fantástico… Vegan ou não, é uma sobremesa do caraças!
Não há no Patuá uma tentativa de rodar mesas, independentemente de irem aparecendo pessoas para jantar que são informadas que não há espaço. Não quer dizer que o restaurante em si seja confortável, mas a cozinha é pequena, os pratos são feitos no momento, por isso as coisas demoram o seu tempo. E isso é perfeitamente normal, atenção, só que o facto de haver só uma pessoa na sala faz com que tudo seja um pouco demorado. O que provoca também que aquilo que escrevemos no início: é difícil conseguir uma mesa no Patuá.
Ainda assim, vale a pena tentar. A comida é saborosa e bem feita, os preços são bastante acessíveis e, claro, há aqui a possibilidade de fazer uma pequena viagem a vários pontos da Ásia através da comida. E isso é muito bom e muito conveniente. 🙂
Preço Médio: 15€ pessoa (com cerveja)
Informações & Contactos:
Rua da Ilha de Sao Tomé, 10 A-B | 1170-185 Lisboa | 935 021 077