Optimismo… e comida surpreendente! 🙂
Não é fácil acompanhar as aberturas de novos restaurantes em Lisboa, nada fácil mesmo. Sucedem-se as aberturas de todo o tipo de restaurantes, especialmente em certas zonas mais movimentadas, e as redes sociais e publicações especializadas e blogs são inundados de comunicação e fotos. Por isso, é complicado fazer uma selecção daquilo que queremos ou não experimentar – porque não podemos ir a todo o lado, não há… “disponibilidade” para isso 😉 Por isso, muitas das vezes o que nos chama a atenção é apenas um pormenor, que vemos numa revista ou num post nas redes sociais. E, no caso do Optimista, foi um unicórnio. Sim, um unicórnio. A Pureza (nome do bicho) foi o que nos fez ir até ao Cais do Sodré (e sua confusão inerente) a primeira vez… mas depois foi tudo o resto que nos fez voltar. Porque o Optimista é muito mais do que um unicórnio chamado Pureza.
Se é verdade que quando entramos a parede onde está a Pureza chama logo a atenção – está de frente para a porta – também é verdade que rapidamente começamos a olhar para o resto do espaço. A decoração é minimalista mas de um bom gosto fantástico. Os quadros nas paredes encaixam-se perfeitamente num espaço que consegue aliar o clássico ao moderno sem parecer forçado. Na primeira visita ainda há pouco exposto, mas há medida que o tempo foi passando, a arte foi crescendo… e actualmente entrar no Optimista é quase como entrar numa galeria de arte contemporânea.
As mesas com tampo de mármore dão um ar mais típico ao espaço, em contraste com as cadeiras que nos transportam para um registo mais moderno, e no fundo da sala conseguimos ver a cozinha semi-aberta, com a azáfama habitual mas suficientemente longe para não nos “incomodar” durante o jantar.
Outra das surpresas iniciais é olhar para a carta. Reduzida, com poucas opções, e seguindo uma lógica de cozinha portuguesa. Todos os pratos são nossos conhecidos, e isso é surpreendente porque um espaço com este visual tendencialmente poderia seguir um registo mais moderno, mas de fusão. Durante o jantar até percebemos que há momentos em que a cozinha tradicional de funde com novas técnicas ou empratamentos mais sofisticados, mas a base é o mais genuína possível: comida portuguesa de conforto. Surpreendente e muito agradável, deixem que vos diga.
Ora, as coisas simples e boa do Optimista começam logo no couvert, com uma Foccacia caseira, excelente na textura e no sabor, acompanhada com uma manteiga de ervas novamente… simples e deliciosa.
Ora, na nossa primeira visita ao Optimista, a grande surpresa nas entradas foi o Ceviche de Favas!! Que era uma maravilha… mas que saiu da carta 🙁 Felizmente outras entradas foram adicionadas, e mais do que isso: agora temos uma Tábua Portuguesa, que no fundo é um misto de entradas, com muita coisa da lista e ainda algumas surpresas. A nós calhou-nos uma surpresa fantástica nesta tábua: um Nigiri de Arroz Estufado e Pato Curado, que é só assim uma coisa extraordinária! Mas não é só isso. Ainda n não tínhamos provado os “célebres” Croquetes de Rabo de Boi do Optimista, que vêm nesta tábua e são efectivamente muito bons, mas que não ofuscam a outra surpresa que é o Frito com Xerém e Berbigão, por exemplo.
Ainda completam esta tábua duas entradas diferentes… e que nos geram opiniões contraditórias (e são das que estão na carta). Por um lado, temos o Polvo com Aquachile, Abacate, Maçã, Pickle e Amendoim Picante, que tem demasiados sabores diferentes misturados, sem ser propriamente uma salada de polvo nem um prato sul-americano. É simplesmente confuso. Por outro lado, temos a entrada vegetariana… que é fantástica! Cenoura Assada, Mousse de Requeijão, Noz caramelizada e Pesto de Talos, uma entrada fresca, que nos faz sentir o sabor da horta, que nos deixa quentes por dentro. Vegetariana ou não, uma entrada que vale toda a tábua (juntamente com os nigiris).
E seguindo na onda das opções vegetarianas (actualmente tão em voga… mas geralmente sem grande sabor nem interesse), chegamos ao primeiro prato que escolhemos, ainda antes de sequer chegar ao Optimista, porque nos pareceu efectivamente muito interessante. Estamos a falar dos Sacchettis com recheio de Queijo de Cabra e Espinafres, Maçã em calda, Cogumelos, Molho de Cebola Queimada e Lascas de Queijo, um prato cujos sabores e texturas nos afastam completamente daquilo a que estamos habituados nos pratos vegetarianos. Um prato de uma densidade fantástica, que nos faz terminar a pensar que se toda a comida vegetariana fosse assim… se calhar havia muito mais gente “convertida”. 🙂
No registo oposto, temos um belo naco de carne! O Bife do Espelho da Pá (um corte que não conhecíamos), acompanhado de um interessante Mil Folhas de Batata, Ovo a baixa temperatura, Pickles e Ketchup Caseiro, é um belo exemplar de como trabalhar a carne, ainda que nos geral não seja tão surpreendente como o prato anterior. É mais consensual, talvez, e por isso é um dos best-sellers do Optimista, nesta sua versão com nova carta.
Tanto num prato como no outro, independentemente das suas (muitas) diferentes, estamos a falar principalmente de sabor e de conjugação muito bem pensada de todos os ingredientes. Lá está, coisas simples mas bem trabalhadas, com um toque diferente e mais actual. No fundo, estes pratos são a representação perfeita daquilo que é o Optimista.
Tudo até este momento é uma maravilhosa surpresa neste jantar, por isso a expectativa para as sobremesas é bastante grande (ainda que, pessoalmente, não seja a minha parte preferida da refeição). Isto porque, se no começo do restaurante, este era o ponto mais fraco, hoje em dia as sobremesas estão completamente ao nível dos pratos principais, a nível de criatividade, sabor e apresentação.
O Bolo de Chocolate com Gelado de Banana, Mousse de Amendoim e Caramelo Salgado é assim uma espécie de Snickers mas muito mais elaborado, guloso e decadente. Mesmo eu, que não sou dado a sobremesas, comia mais do que um! Por outro lado, temos o Creme de Erva-Príncipe e Chocolate Branco, com Pistácios, Ameixa, Granizado de Maçã e Gelado, uma sobremesa mais complexa mas muito fresca e cheia de contrastes, a fazer lembra o Verão que nos vai abandonando lentamente.
Outro ponto que continua igualmente bom no Optimista é o serviço, sempre presente, prestável, eficiente e muito simpático. E tivemos a oportunidade de dizer isso mesmo a quem nos atendeu e, durante todo o jantar, foi sempre explicando os pratos e tentando obter feedback da nossa parte (e das mesas que estavam à nossa volta, conseguimos perceber isso perfeitamente).
Fazendo uma piada fácil, desde o primeiro dia que saímos muito optimistas do Optimista. Porque continuamos a perceber que há uma ideia por trás do restaurante, e uma ideia baseada naquilo que Portugal tem de melhor: a sua tradição gastronómica. Há uma simplicidade complexa em todos os pratos que provámos desde a primeira visita, que nos fizeram sentir reconfortados e, ainda assim, surpreendidos. Ou seja, há muito mais aqui do que um unicórnio pendurado numa parede.
O Optimista é, nos dias de hoje, um dos melhores (novos) restaurantes da zona do Cais do Sodré… e quiçá de Lisboa. Pela consistência, pela criatividade, pelos sabores criados nos pratos, pelo espaço espectacular e pelo serviço 5 estrelas. Mais do que optimistas, estamos seguros: o Optimista veio para ficar… e durante muito tempo!
Preço Médio: 25€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua da Boavista, 86 | 1200-068 Lisboa | 21 346 0629