Vale pela vista… o resto é de evitar!
Ainda há uns dias estava a jantar com uns amigos meus e estávamos a falar acerca da razão de ter começado com isto do Onde Vamos Jantar? Estava a explicar – mais uma vez – que tinha a ver com o facto de saber que a maioria das pessoas não arrisca a experimentar restaurantes novos para não correr o risco de levar grandes “banhadas”, e por isso acaba por ir sempre aos mesmos sítios. Eu, por outro lado, gosto de experimentar sítios novos, mesmo tendo em conta que podem não ser tão interessantes como estávamos à espera. Aliás, podem mesmo ser um estrondoso “fail”. Mas só experimentando é que podemos saber…
E isto leva-nos ao Okah. Porque o Okah foi esse estrondoso “fail” que nos acontece às vezes (felizmente, menos vezes do que seria de esperar). Um restaurante acerca do qual tínhamos algumas expectativas e que, na realidade, tem vários motivos para dar certo. Mas que depois falha no mais básico dos básicos de um restaurante: na comida, no serviço e no preço. E nós até fomos brandos, porque o casal que nos acompanhou nesse jantar… simplesmente detestou.
O espaço não promete à entrada mas depois revela-se. E tudo por causa da vista. O Okah fica no Edifício LACS, na zona de Santos mas do lado rio da linha de caminho de ferro, o que significa que tem uma vista desafogada para o Tejo. E como não tem nada à volta, temos direito a um pôr-do-sol fantástico!
Quando começa a anoitecer vamos então para dentro, onde praticamente todas as mesas ficam junto das janelas amplas e por isso partilham da mesma vista do exterior. O espaço não esconde aquilo que é, ou seja, um conjunto de contentores seguidos, formando um longo corredor envidraçado de um dos lados. Este aspecto mais industrial, aliado à pouca mas sóbria decoração e ao mobiliário moderno, dão ao Okah um ar trendy e contemporâneo. Um restaurante que não estaria desenquadrado num bairro nova iorquino, por exemplo. Até aqui, tudo excelente.
E ainda não é quando nos sentamos e olhamos para a ementa que tudo começa a descambar, porque a maioria das coisas parece-nos interessante. A oferta tem aquela espécie de fusão entre a cozinha portuguesa e influências asiáticas, um registo que está muito na moda e agrada a todo o tipo de público. Ou seja, que resulta. Mas só resulta quando é bem executado. E o principal problema do Okah está exactamente aí, na execução dos pratos. Não pelos sabores, mas porque nos aparecem na mesa diferentes do que está descrito na ementa.
Mas vamos então a isso. Não começamos mal, com o couvert, que sendo relativamente simples, entretém. A ementa tem sopas/caldos, entradas e pratos principais (além de sushi, uma área para a qual não vamos de todo), por isso pedimos coisas variadas para agradar a todos.
E os problemas começam logo nas entradas. Um deles até admitimos que seja uma questão de percepção, e tem a ver com o Suimono de Amêijoa que está na parte das “sopas e caldos”. Sim, sei bem o que é um suimono (é aquele tipo de caldo japonês servido numa tacinha pequena, geralmente de miso). Mas estaria à espera que aqui fosse servido numa dose ligeiramente maior e não exactamente na mesma tacinha que temos nos japoneses de buffet. E sim, tinha lá duas amêijoas dentro, mas só isso, de resto era um caldo assim mais ou menos desenxabido.
Mas se neste primeiro caso pode até ser uma questão de percepção, no caso do Camarão ao Alho Picante já não é. Porque na ementa podemos ler “camarão tigre, alho, azeite…” e não interessa mais o quê. Camarão tigre, ok? Sabem o que é? Nós por acaso até sabemos. E não é – de todo! – aquilo que nos foi servido, como podem ver na foto em baixo! Sendo que, quando fazemos a pergunta ao empregado, há um encolher de ombros e uma resposta “pois, já houve outras pessoas a queixarem-se…” Olhamos em volta para ver se há câmaras escondidas e estamos num programa de apanhados. Mas não… Ah, e de picante também não tem nada, este “camarão tigre”…
Ok ok, já me esquecia. Também comemos o Escabeche da Costa, que de escabeche tem muito pouco e onde o peixe é servido tipo panado. É muito diferente do que estávamos à espera mas, em benefício do prato, há ali sabor e texturas. Foi a melhor das entradas, de longe.
Nesta altura já estávamos a antecipar que se calhar os pratos principais também não iam ser tão lineares como estávamos à espera. Mas é curioso que dois deles até são, completamente lineares, completamente aquilo que esperávamos, sem nenhuma surpresa. Falamos do Tataki de Novilho (que na descrição tem foie gras mas no prato que nos chega à mesa nem por isso… mas ainda assim tem bons sabores) e do Nosso Bife, que é exactamente aquilo que a ementa descreve: um bife da vazia com alho e louro, ovo a cavalo e batata wedge. O prato mais completo da noite, e também o mais simples de todos.
Mas o que é bom não dura muito tempo… e aqui no Okah dura ainda menos. O que significa que a Salada de Tofu frito com Pêssego é mais um daqueles casos onde a descrição é muito melhor (e mais completa) que o próprio prato. Na ementa o prato tem tofu frito, pepino, beringela grelhada, courgette grelhada, pêssego grelhado… e depois uma carrada de folhas verdes: rúcula, salada mista e espinafres. O problema é que o prato que nos chega à mesa tem literalmente 2 pedaços (finos, muito finos) de cada um dos ingredientes que não são salada ou derivados. E pedaços pequenos. Ou seja, a proporção entre as verduras e todos os outros ingredientes é completamente errada!
Bem sei que pode parecer uma questão de opinião, mas como podem ver pelas fotos em baixo, é realmente demasiada verdura para o resto dos ingredientes. Tanto que inevitavelmente acabamos com um prato cheio de uma mista de “alfaces”… Não são as proporções certas, e tendo em conta tudo o resto que estava a acontecer no jantar, foi só mais um factor negativo.
E deixámos o “melhor” para o fim: o Bacalhau Negro do Alaska. Curiosamente o melhor tanto a nível de sabor… como a nível do ridículo! Ok, vou começar por dizer que sei que o black cod é muito mais caro que o bacalhau normal, por isso já estava à espera de um prato a atirar para o fine dinning. O que eu não esperava era receber um prato como este que podem ver na fotografia em baixo: uma micro posta de bacalhau acompanhada de 3 fatias ultra finas de cenoura, courgette e beringela, que assim enroladas até disfarçam, mas eram mesmo só 1 fatia de cada… tipo carpaccio. E a couve pak choi é só mesmo este quarto que aparece na fotografia. Sim, um quarto de uma rama, um quarto. Estão a ver o quanto se ganha com este prato?! É que se a posta é pequena, depois nem sequer temos direito aos legumes inteiros!
Não está aqui em questão o sabor do prato, deixemos isso claro. O bacalhau em si já é excelente, por isso era difícil estragá-lo, e os acompanhamentos só pecam mesmo por escassos. Aliás, tudo no prato é escasso…
Ok, vamos só ver mais uma fotografia, desta feita com a minha mão ao lado para podermos perceber as dimensões. Gigante, não acham? Pois… mas sabem o que é mesmo mais interessante? Pedimos ao empregado que nos serviu a noite toda (coitado, sempre que se aproximava da mesa já estava meio encolhido) para ir perguntar à cozinha quantas gramas de proteína tinha este prato. A nossa aposta era 100gr, da cozinha veio a informação que eram 120gr. Não levei a minha balança por isso aceito, mas não deixo de achar completamente absurdo. Qualquer posta de bacalhau que se coma numa só garfada é uma vergonha para toda a classe das postas de bacalhau!
Nesta altura a experiência de jantar no Okah já estava estragada. E nem era só para nós, porque o casal que nos acompanhava estava a achar tudo simplesmente surreal. Porque a questão do sabor dos pratos até pode ser subjectiva – gosta-se mais ou menos – mas quando não nos servem o que está descrito ou aquilo que nos aparece na mesa claramente não vale o preço que é cobrado, então lá se vai a subjectividade toda. E a paciência também...
Ora, foi no meio desta mesma conversa que o empregado, a medo, se aproxima da mesa para perguntar se queremos sobremesas. Que por acaso até queremos, mesmo sabendo que isso pode correr mal… mas queremos porque estamos com fome. Pronto. E é ao explicar exactamente isso que o empregado nos sugere as duas sobremesas melhor servidas. Duvidamos, mas alinhamos.
Felizmente – e mesmo que não transformem o Okah numa experiência positiva – as sobremesas acabam por ser o melhor da noite. Mesmo que se estranhem… e depois entranhem. Por um lado temos os Suspiros por Pêssego, uma sobremesa onde estão todas as outras fatias de pêssego que faltavam na salada de tofu! Agora a sério, é um suspiro grande, recheado com pêssego assado coberto de mel trufado, que primeiro é estranho ao sabor, mas depois se percebe que complementa tudo o resto. Exótica mas muito bem conseguida. E a outra sobremesa provada foi a Três Tristes Brullés, uma trilogia de (adivinharam!) creme brullé mas com sabores mais orientais: temos um de sésamo, outro de chá verde e outro de yuzu, o melhor de todos.
No final, quando dizemos ao empregado que as sobremesas estavam boas, quase conseguimos ouvir um suspiro de alívio. O que foi mais do que nós fizemos. E o serviço foi mesmo o menor dos males do nosso jantar no Okah. Sim, podia ser mais informado ou podia antecipar os erros da carta, mas o principal problema foi mesmo a comida. Tanto na sua confecção como na diferença idiota que existe entre o que está descrito na ementa e o que nos é servido. E até percebo que a maioria das pessoas pode ler só o nome do prato e por isso não percebe. Mas a isto chama-se enganar o cliente. Propositado ou não, não há outra forma de o descrever.
Ainda assim, o Okah vai continuar a encher nestas noites de Verão. Porque a vista é realmente muito boa (podem ler aqui restaurante com boa vista que recomendamos), mas principalmente porque a maioria das pessoas não se quer chatear. “Ah e tal, o meu prato é diferente daquilo que estava descrito… mas pronto, como na mesma, se calhar fui eu que li mal”. É por causa deste tipo de atitude passiva que continuamos a ter abertos bastantes restaurantes que deviam estar fechados há muito. Mas enfim… para nós, o Okah está completamente riscado da lista.
Preço Médio: 35€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Edifício LACS | Cais Rocha Conde de Óbidos | 1350-352 Lisboa | 914 110 791
Olá. Como está? Lemos o seu artigo e lamentamos que a sua experiência tenha sido menos positiva. Nossa nova carta havia sido lançada há poucos dias na data em que esteve no OKAH, portanto, é natural que precise ser ajustada. Também, todos temos dias bons e outros nem tanto. É possível que esse dia não tenha sido um dos nossos melhores.
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De toda maneira, as suas críticas e sugestões – bem como as de todos os nossos clientes – mereceram a melhor das atenções. Por isso, analisamos, identificamos os pontos de mudança e melhoramos a ementa. 😊
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Teremos todo o gosto em recebê-la novamente, como a todos os nossos clientes, certos que poderão viver uma experiência gastronómica no OKAH seja para almoçar ou jantar. Esperamos por si novamente. Quando vem jantar ou almoçar connosco?
Daniele Coutinho
Responsável de Comunicação e Marketing
OKAH Restaurant & Rooftop