OFÍCIO – TASCO ATÍPICO

Atípico sim. Mas tasco nem por isso…

O Ofício já não é o que era. Sim, é verdade, ainda que isto só faça sentido para quem conhecia o “velho” Ofício, um pouco mais abaixo na mesma rua, quando tinha uma ementa quase inteiramente dedicada aos cortes de carne (com destaque para o chambão). Nessa altura estávamos no “boom” dos restaurantes de carne, e a diferenciação do Ofício era mesmo servir um chambão com dois palmos de osso, sendo que tudo o resto era mais ou menos normal.

Ora, mudam-se os tempos… e os restaurante evoluem. O Ofício mudou de sítio (subiu um pouco mais a rua, e fica agora em frente ao Bairro do Avillez) e, mais importante, mudou de conceito, apresentando-se como um “tasco atípico”. E o que é um “tasco atípico”, perguntam vocês? Pois que é mais ou menos isso que fomos lá tentar perceber, num jantar que teve mais altos e baixos do que esperávamos, que teve algumas coisas atípicas mas não necessariamente outras de tasco.

A mudança de conceito surge logo no toldo exterior, mas sente-se efectivamente ao entrar no restaurante. O espaço é mais aberto, mais moderno, melhor iluminado, tem um toque mais sofisticado. A primeira sala é dominada por um balcão de partilha, onde nos podemos sentar simplesmente a beber qualquer coisa e a petiscar, por exemplo, umas ostras. Um “oyster bar”, se quiserem. Atípico? Sim. Tasco? Nem por isso…

Seguimos para a sala interior, onde temos uma fauna que oscila entre grupos de turistas e casais locais. Continuamos no registo sofisticado e minimalista, e olhamos para a ementa já com alguns petiscos escolhidos previamente (estamos na era das redes sociais, é muito complicado ir a um restaurante sem ter visto já alguma coisa sobre ele previamente). A carta tem vários petiscos e depois alguns pratos, mas a o conceito do restaurante leva-nos para a partilha, claramente. Há nomes de petiscos que reconhecemos das tascas e outros que sabemos não pertencerem a esse mundo, mas pronto, seguimos em frente.

ofício tasco atípico croquetes

Começamos com os Croquetes de Alheira, que podiam ser uns simples (e bons!) croquetes de alheira… se não fosse o maravilhoso twist de terem no interior um ovo de codorniz! Uma espécie de “scotch egg” à portuguesa, que faz todo o sentido e que resulta muito bem, tanto pela surpresa como mesmo pelo sabor! Este início de jantar deixa-nos bem impressionados, e percebe-se o que o Ofício quer fazer conceptualmente: pegar num petisco “tasqueiro” e dar-lhe um toque diferente e surpreendente.

Esse registo de “tasco atípico” continua nos Torresmos Crocantes, que nos fazem lembrar as crackers de camarão dos chineses, só que aqui com sabor ao torresmo e com um formato desenfreado e gigante. É um snack, sem dúvida, para ir petiscando durante o jantar todo.

ofício tasco atípico

Mas depois começam os altos e baixos, tanto a nível do encaixar no conceito como mesmo a nível de concepção. Por exemplo, o Choco Frito é claramente um petisco de tasca, e aqui no Ofício até cumpre bastante bem, mas não tem nenhum twist, não tem nada de atípico. E, por outro lado, a Iceberg com Abacate Fumado é só uma coisa estranha… uma espécie de taco feito de uma folha de alface iceberg, com abacate (fumado, mas não se sente) e lascas de amêndoa, que na verdade não criam grande sabor, até porque o “taco” é demasiado pequeno para se perceber alguma coisa.

Agora fazemos uma pausa nos petiscos e pratos principais e falamos da Ostras, que nos acompanharam durante grande parte da refeição… porque pedimos várias, e várias vezes. As ostras são entregues pela Célia Rodrigues, fundadora da Neptun Pearl, e no Ofício podemos pedi-las de várias formas. Para os mais puristas, ao natural, e assim podemos perceber que as bichas são fresquíssimas, fantásticas. Mas depois temos o tal twist, que aqui funciona surpreendentemente bem: as ostras com vários molhos (Barbecue, Bloody Mary e Leche de Tigre) são muito melhores do que esperávamos, principalmente porque os molhos não se sobrepõem ao sabor da própria ostra, apenas complementam-na. A de leche de tigre é de longe a melhor, mas mesmo as outras duas são uma agradável surpresa!

ofício tasco atípico ostras
ofício tasco atípico ostras

Voltando ao resto da ementa, mas agora nos pratos que mais se podem assemelhar aos principais. Começando pelo menos interessante, temos o Cachaço de Bacalhau, servido com um molho de grão e cebola branca e um piso de coentros. Nada a apontar ao bacalhau, mas é um prato normalíssimo, mais nada. Ou seja, voltamos aos baixos…

ofício tasco atípico

… mas, felizmente, passamos rapidamente aos altos, e que alto! Logo com o melhor prato da noite, mas assim de muito longe! O Tártaro de Novilho por si só é já excelente, mas são o resto das palavras na sua descrição que o tornam verdadeiramente fantástico: primeiro, porque no meio da carne há pedaços maravilhosos de tutano, o que enriquece o sabor do conjunto e o leva para um outro nível; e depois, porque o “acompanhamento” é um fenomenal brioche do ISCO, bem torrado. Este prato é o melhor de todo o jantar, de caras, e só é pena ter sido o último a chegar à mesa, quando já estávamos bastante cheios. Senão tinha vindo uma segunda dose.

ofício tasco atípico tártaro

O registo elevado continua nas sobremesas, uma já nossa conhecida e outra que é uma agradável surpresa. A Tarte de Queijo é uma daquelas maravilhas que veio do tempo do confinamento, quando o Ofício se juntou ao The Art Gate (são do mesmo grupo) e serviam menus semanais ao domicílio, onde esta sobremesa era a grande estrela. Tínhamos saudades, por isso não podia faltar, e continua soberba, deliciosa! Do outro lado da mesa uma Panacota de Arroz Tostado coberta de molho de Arroz Doce, uma mistura que parece estranha mas que acaba por resultar, sendo que tecnicamente a panacota estava perfeita.

ofício tasco atípico tarte de queso
ofício tasco atípico

Esta questão dos conceitos dos restaurantes é sempre tricky. Porque ou seguem um conceito já existente e a diferenciação terá de estar no preço, no serviço, no espaço ou noutro desses factores; ou então arriscam a criar um conceito de raiz… e correm também o risco de não cumprir a promessa. No novo Ofício, sentimos mais o factor “atípico” do que o factor “tasco”, e nem a promessa feita pelo neon na entrada (“Revolution”) é cumprida a todos os níveis.

ofício tasco atípico

Ainda assim, o novo Ofício é mais diferenciador que o velho Ofício, e isso é sempre positivo. O tártaro, a tarte de queijo e as ostras são dos melhores exemplares de cada que se comem por Lisboa, mesmo que não sejam comida de tasca. E isso já são vários pontos a favor do restaurante. Mesmo que, no geral, o Ofício seja mais “atípico” do que verdade um “tasco”.

Preço Médio: 30€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua Nova da Trindade, 11 K | 1200-301 Lisboa | 910 456 440

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