OFICINA DO DUQUE

Uma Oficina que procura coisas Extraordinárias!

Gostamos de ser surpreendidos num restaurante. Gostamos de não ter qualquer expectativa e sair satisfeitos, ou então de ter expectativas baixas e sair com a certeza que estávamos enganados. Infelizmente, é cada vez mais difícil que isso aconteça, e acho que não é só connosco. Numa altura em que a restauração em Lisboa está tão “na moda” que parece que já toda a gente foi a este ou àquele restaurante – e também numa fase em que se escreve em todo o lado sobre restaurantes – é inevitável que quando comentamos com alguém que vamos experimentar o restaurante “x”, nos digam que conhecem alguém que teve uma experiência assim ou assado (ou que já leram alguma coisa em qualquer lado).

Esta questão de sermos surpreendidos – e ainda mais a questão das expectativas – encaixa-se neste texto porque as nossas duas experiências prévias no Oficina do Duque foram surpresas… negativas! Sempre num registo de Rota de Tapas, é importante dizer isso, mas foram. Ou porque o serviço foi péssimo (infelizmente os restaurantes ainda não perceberam que eventos como esse ou a Restaurant Week são oportunidades para ganharem novos clientes) ou porque as tapas não tinham rigorosamente nada a ver com as imagens apresentadas na comunicação. Ou seja, não era um restaurante que estivesse no topo da nossa lista de sítios onde ir jantar.

oficina do duque restaurante

Mas recentemente ouvimos dizer que o espaço tinha mudado de mãos e estava agora sob a alçada do Chef Rui Rebelo. Um Chef que passou pelo programa Top Chef mas, acima de tudo que teve uma formação feita entre o Brasil e Espanha, onde trabalhou com Chefs como Ferran Adrià ou Ramon Morató. Um currículo impressionante e que nos fez pensar novamente na Oficina do Duque. E que, honestamente, nos fez começar a criar expectativas. Das boas! Por isso, descemos as Escadinhas do Duque e entrámos na Oficina para jantar. 😉

Um bom primeiro impacto, pelo menos em relação ao que nos lembrávamos do espaço. Depois de uma primeira sala mais perto da entrada, mas que parece ser mais apoio do bar, passamos à sala do fundo, onde o que nos chama à vista é uma parede inteira cheia de utensílios vários. No fundo, estamos numa oficina, por isso esta parede faz todo o sentido, assim como faz sentido a cozinha aberta. Para que possamos ver os artesãos a trabalhar.

oficina do duque restaurante

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Não estranhamos ver só malta jovem na cozinha (o próprio Chef é relativamente novo) nem na sala, porque se encaixa no mood da zona e do espaço. Até porque o conceito do restaurante pretende mostrar-nos que nem tudo é o que parece. Sob o mote de “o ordinário é extraordinário”, o que o Chef Rui Rebelo se propõe a fazer é trabalhar com ingredientes e referências que conhecemos muito bem… e depois dar-lhes um twist, ou antes um boost para uma coisa diferente. Mais elaborada, mais internacional, mais moderna. Mas vamos por partes.

O couvert traz dois tipos de pão e um paté de pato, sem manteiga ou coisas do género. Muito bom, o paté, muito bom mesmo, mas acredito que não seja do agrado de toda a gente.

oficina do duque restaurante

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Somos um bocadinho “enganados” com a palavra “petiscos”, pelo menos quando nos chegam os pratos à mesa. Porque os petiscos na Oficina do Duque têm doses consideráveis, quase de pratos principais (acreditem que já comemos pratos principais menores do que estes “petiscos”).

A Curgete, Beringela e Queijo é uma mistura desses legumes assados, cobertos de lascas de Queijo da Ilha, um prato excelente tanto para vegetarianos como para carnívoros. Legumes frescos, bem trabalhados e com o toque do queijo a dar-lhes um sabor mais rico.

Menos interessante (aliás, o prato menos interessante da noite) é o Frango, Cerveja e Limão. Quando pedimos dizem-nos logo que não são só asas, que é um peito e a asa… mas nunca pensamos que seja mesmo um peito de frango, inteiro, apenas marinado em cerveja, limão e louro. Nem mesmo as muito poucas chips que estão no prato lhe dão maior interesse. Está bem cozinhado e tem algum sabor, é verdade, mas não deixa de ser um peito e asa de frango. Só.

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Felizmente esquecemos rapidamente o frango, porque os pratos principais não demoram muito a chegar à mesa. Há poucas escolhas na lista mas todas parecem muito interessantes, por isso vamos para uma escolha nossa e uma sugestão de quem nos está a servir.

A nossa escolha foi a Corvina, Arroz e Coentros: um lombo de corvina em cima de um arroz de tomate, coentros e gengibre. Começando pelo arroz, fenomenal! Um sabor super equilibrado, sem ser demasiado doce por causa do tomate, uma maravilha. O peixe está no ponto e é muito bom também. Espectacular!

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A sugestão que nos deram para prato de carne foi o trio Rabo de Boi, Pêra Rocha e Chícharos. Que é como quem diz uma “bola” com rabo de boi desfiado acompanhada de um puré de pêra e ainda de chícharos. Comida de conforto, ingredientes que conhecemos muito bem, mas com toques de inovação e uma apresentação mais contemporânea.

(pouco depois de sermos servidos, chegaram o borrego confitado com couscous e gelado de hortelã à mesa do lado… e ficámos com muita inveja!)

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Nas sobremesas, novamente nomes com 3 palavras e depois as explicações, que nos ajudam a decidir o que queremos experimentar. Ovos, Baunilha e Lima é um pudim tipo doce de ovos com espuma de limão. Tudo bom e também muito interessante a conjugação, talvez se devesse repensar apenas nas proporções, porque a espuma é claramente insuficiente para quebrar o doce do pudim. Um bocadinho mais e ficava uma sobremesa perfeita.

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Por outro lado temos Gema de Ovo, Citrinos e Açúcar: um leite creme que esconde um gelado de caramelo em baixo, assim como um xarope de citrinos. Gente, é brutal!!! O leite creme em si é excelente, mas depois ganha imenso com a mistura de texturas, temperaturas e sabores. Lá está, uma base tão nossa, mas uma forma de a trabalhar tão fora do comum. Ou, se preferirem, tão extraordinária.

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É verdade que nem tudo o que provámos na Oficina do Duque foi “extraordinário”, para utilizar o termo que está na base do conceito do restaurante. Mas ficámos muito surpreendidos com as ideias e com a execução de quase todos os pratos. Muitas vezes levamos com a re-invenção de receitas tradicionais, mas que tenta ser tão à frente que perde a identidade e o sabor. Felizmente, isso aqui não acontece.

Na Oficina do Duque conseguimos sentir quase um tributo à nossa tradição, mas pelas mãos de gente mais jovem e viajada. No fundo, trata-se de uma experiência, que funciona tanto para nós que somos de cá como para os turistas. Porque o Chef Rui Rebelo baseia a sua cozinha em coisas simples, poucos ingredientes mas bons, conhecimento das nossas raízes e vontade de criar. E só assim é que se chega ao extraordinário.

Preço Médio: 20€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Calçada do Duque, 43 A | 1200-155 Lisboa | 210 996 354

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