Tudo estava bem… até chegar a conta!
Sou daquele tipo de pessoas que não se importa de gastar dinheiro com um jantar. Mas, claro, se perceber que o que estou a gastar é justo. E isso aplica-se tanto a uma tasca onde pago 10€ ou a um restaurante todo xpto onde pago 100€. O importante para mim é sentir que o preço foi ajustado à experiência. Ora, saltando já para o final, n’O Frade sentimos que fomos “roubados”! O termo pode parecer demasiado agressivo mas foi com este feeling que de lá saímos. E passo a explicar porquê…
Mas antes, um enquadramento. As tascas modernas, que tiveram o seu boom há uns 3 anos atrás, nunca desapareceram por completo. Eram todas iguais a nível de espaço e do mobiliário utilizado, tinham todas ementas muito parecidas (os ovos com farinheira, os pimentos padrón, os peixinhos da horta e o pica pau…)… no fundo, como com as hamburguerias, encontrou-se um modelo base e quem veio a seguir foi simplesmente replicando. Ora, esse cenário está a mudar nos dias de hoje, com o aparecimento daquilo que podemos quase chamar de “Tasca Moderna v2.0”: espaços que seguem a mesma linha, mas em vez dos petiscos focam-se mais nos pratos tradicionais de alguma zona do país, usando técnicas mais modernas e com um toque de sofisticação a nível do empratamento.


O Frade é um destes espaços, que têm aberto em Lisboa no decorrer deste ano. Fica mesmo no início da Calçada da Ajuda e é basicamente um balcão, que partilhamos com as outras pessoas que lá tiverem e com quem está atrás dele a dar últimos toques na comida e a servir. Madeiras, mármores, azulejos, iluminação com pinta, cadeiras confortáveis para comer ao balcão, o que é muito importante. Malta nova na cozinha, simpática, informada. Bom começo.

A lista d’O Frade é baseada em petiscos (diferentes dos habituais) e depois há três pratos principais. Como somos 3 pessoas, perguntamos quantos pratos pedir, por não saber a dimensão das doses. O que nos sugerem são 5 petiscos e 1 prato principal. Parece-nos um pouco exagerado, mas efectivamente não sabemos (ainda) se é muita ou pouca comida.

Começamos com a trilogia clássica: pão, manteiga e azeitonas, enquanto vemos o pessoal atrás do balcão a ir buscar ingredientes e a começar a empratar aquilo que julgamos ser para nós. E é nessa altura que começam a chegar os pratos, quase sempre aos pares. Os primeiros são o Coelho de Coentrada e o Pato de Escabeche, duas escolhas imediatas quando olhámos para a ementa. Ambos muito bons, ainda que no caso do escabeche goste dele mais apurado… mas gostos são gostos. Um começo muito simpático, sim senhor.


Nesta altura também já percebemos que as doses não são pequenas como seria de esperar quando te sugerem tanta comida… e ainda faltam (muitas) coisas. A Muxama de Atum com Ovos é talvez o elo mais fraco da noite, muito por causa das proporções (são demasiados ovos para tão poucas e tão finas fatias de muxama). Este prato já não terminamos.
E depois chegam mais duas entradas. As Lulas com Grão, um prato tipicamente algarvio, que podia ter mais um pouco de sal, mas que não deixa de ser saboroso e interessante. E a Galinha Acerejada, outro clássico do Sul do País, que foi claramente o melhor dos petiscos, com o seu sabor intenso e pele crocante… mas que chega depois de outros 4 pratos, quando já estamos bastante cheios. A sugestão desta quantidade de comida foi claramente exagerada, e ainda nos falta o prato principal.

Lá está, não há grande coisa a apontar à confecção dos pratos, mas não era preciso tanta comida. A nível de sabor, o Arroz de Robalo que escolhemos como prato principal é de longe o melhor prato da noite, mas de muito longe. O arroz tem o sabor perfeito, boa proporção de peixe e amêijoas, sabor a coentros puxadinho… enfim, um prato do caraças! Mas outro prato que não acabamos por estar demasiado cheios da quantidade exagerada de petiscos que nos recomendaram anteriormente.

Ainda antes de falar sobre as sobremesas, uma palavra para os vinhos. O Frade só serve vinhos da talha, que são feitos através de um processo muito antigo onde as uvas são colocadas dentro de talhas de barro e a fermentação acontece automaticamente, sem ser provocada. Isto é tudo muito engraçado… mas quando não tens opção e só existe este tipo de vinho, é para aí que tens de ir. E quando pedimos uma sugestão de bebida, sugerem-nos uma das referências existentes (a mais cara) e a copo. Ou seja, com o passar do jantar acabamos por beber uma garrafa… mas servida copo a copo, ao preço do copo. Estão a ver onde vamos chegar?
De qualquer forma, terminamos com 3 sobremesas, também bastante recomendadas: a Encharcada e o Requeijão com Mel fazem parte da carta permanente e são gulosas, é verdade, ainda que não muito bem servidas (em comparação com o resto do que nos foi servido); e uma Aletria, um especial do dia, talvez a mais normal das três, assim como a melhor servida. O que é indiferente, porque não a acabamos.

Com o café, um miminho: um cannelé, uma espécie de bolo da região de Bordéus, de uma pastelaria apenas uns metros ao lado. E uma aguardente de pêra-rocha, deliciosa.

Mas depois veio então a conta… e pagamos 43€ por pessoa. Pois é. Ficamos assim um bocado chocados, mas ao analisar a conta percebemos o que se passou. Os 6 copos de vinho que nos foi sugerido ficam substancialmente mais caros do que se tivéssemos pedido uma garrafa, e a sugestão de aguardente que nos fizeram custa 7,5€ o copo. Servido ligeiramente abaixo da marca, diga-se. Isto para além de claramente nos terem sugerido demasiada comida para 3 pessoas. O truque dos restaurantes para turistas. Algo que não esperávamos de um restaurante onde nos receberam com tanta simpatia. E sim, podíamos ter perguntado o preço de tudo o que nos estavam a sugerir… mas quando a simpatia com que nos recebem parece ser genuína, acreditamos que não nos vão tentar fazer pagar mais do que o devido. Pensávamos nós…
Por isso, o sentimento de frustração ao sair d’O Frade é geral, e a opinião dos 3 é a mesma: o que comemos não justifica o preço que pagámos. Foi-nos sugerida demasiada comida, foram-nos sugeridos vinhos sem nos dizerem os preços, foi-nos sugerida uma aguardente “caseira” mais cara do que alguns dos pratos. Este tipo de atitude é de restaurante na Baixa lisboeta, onde os turistas só vão uma vez e por isso podemos sugerir muita coisa, eles pagam e nunca mais voltam. Como nós não vamos voltar.
Preço Médio: 25€ pessoa (mas peçam só uma entrada e um prato, bebam uma cerveja… e fujam!)
Informações e Contactos:
Calçada da Ajuda, 14 | 1300-598 Lisboa | 939 482 939
Só um reparo: Se as amêijoas são as da foto estão travestidas de berbigão.
Manel,
Porque as nossas reviews não se fazem sozinhas. Pedimos sempre entrada prato e sobremesa para garantir que podemos escrever sobre uma experiência completa.
Se era comida a mais porque é que foram comer sobremesas?