Sushi de Fusão?! Se for deste, então vamos lá! 🙂
Já escrevi várias vezes aqui: não somos adeptos de sushi de fusão. Não se trata de não gostar, tem mais a ver com preferências, e nós preferimos a frescura e variedade do peixe e cortes e rolos bem feitos, com ingredientes simples mas bons. Quando começam a “complicar”, geralmente as peças resultam num emaranhado de sabores que se confundem e acabam por deturpar o sabor final. Sendo que a fusão é também o refúgio mais simples para alguns restaurantes que não apresentam a tal frescura e variedade de peixe de que falei em cima. Por isso, não é a nossa praia.
Dito isto, saímos do Nómada rendidos. Completamente rendidos. Rendidos à qualidade da matéria prima (nem estou a falar só do peixe), rendidos à criatividade dos chefs, rendidos à apresentação dos pratos que nos foram chegando à mesa. Este é um sushi de fusão que comemos de bom grado. Todos os dias!
Aberto a meio do “boom” das hamburguerias e das tascas modernas, o Nómada assumiu-se rapidamente com um dos mais interessantes restaurantes de sushi de fusão de Lisboa. Aliás, neste momento, a par do Yakuza First Floor (que é o nosso preferido, podem ler aqui a review) ou o Tamagoshi (num registo menos sofisticado mas igualmente criativo, leiam aqui), o Nómada continua a ser dos únicos sítios onde vamos comer sushi de fusão. Não é o restaurante de sushi mais barato do eixo Saldanha-Campo Pequeno, mas a verdade é que também não se quer posicionar assim. Porque a qualidade paga-se, e quando terminamos o jantar percebemos o porquê de todos os elogios que sempre foram feitos ao restaurante.
O espaço é simples, com pouca decoração, e este minimalismo acaba por nos fazer sentir bem acolhidos. A iluminação está muito bem seccionada, criando um ambiente engraçado em cada mesa, porque o foco luminoso fica exactamente no centro… onde se colocam os pratos. Ou seja, há aqui um cuidado em promover a partilha de boas fotos nas redes sociais, porque tudo agora acontece nas redes sociais. Mas, mais do que isso, a iluminação favorece e muito as cores de tudo aquilo que vai chegando à mesa… e os olhos também comem.
A ementa tem os típicos combinados, mas uma análise mais pormenorizada abre-nos água na boca, pelas combinações e pelos ingredientes utilizados. Por isso, resolvemos arriscar e pedir sugestões. O serviço, que é bastante jovem e cordial, sugere-nos muita coisa da carta e ainda nos fala sobre pratos especiais que, não estando ainda na carta, estão em período de teste, para ver se se tornam permanentes. E, por aqueles que arriscámos provar, merecem um lugar assim de caras!
Podemos começar com os Cones Crocantes (um com atum marinado e cebola confitada em vinho do Porto e outro com tataki de salmão), que são bons petiscos para abrir as hostilidades. Assim como o são as Gyosas (de frango), boas a nível de massa e também de recheio.
Das sugestões fora da lista que nos são descritas, uma destaca-se imediatamente: um caldo tipo ramen (e isto é reforçado várias vezes, não é mesmo ramen, é só parecido), com barriga de atum, lula, ovo cozido a baixa temperatura, cogumelos e mais uma carrada de coisas. Pedimos, claro, e ainda bem, porque é maravilhoso! O caldo é fantástico, a conjugação de ingredientes também e visualmente é uma delícia. Um prato que merece estar na lista, mas mesmo não estando tem de ser provado!
Mas o Nómada ainda tem mais propostas de pratos para começar um jantar, antes de entrar pela carta de sushi. Como por exemplo o Tártaro de 3 Peixes, com atum, salmão e um peixe branco (no nosso caso foi corvina), coberto por uma folha de arroz, bastante saboroso; ou então o Tempura de Caranguejo, que é tão bem servido que mais parece um prato principal. Acompanhado com maçã verde, alcaparras e uma maionese tipo molho tártaro, é um prato do caraças! A polme está fantástica, crocante, o recheio é excelente e a maçã verde corta o doce do caranguejo, criando o contraste necessário ao prato.
Seguimos depois para os makis, que dominam grande parte da carta de sushi. Podemos perceber a fusão logo na descrição de cada um, e as indecisões voltam… Por isso, pedimos dois da carta e um que é novamente uma sugestão de quem nos serve (que ainda não está na ementa fixa). Os dois mais pedidos do restaurante são, por um lado, o Nómada Roll, com camarão com cebola crocante, envolto em salmão braseado, maçã verde e atum, com tártaro de vieira no topo, com sabores complexos mas que acabam por se complementar muito bem; e o Mexican Roll (tataki de atum, abacate manga e pepino, coberto com nachos, atum e chilli), um maki mais exótico e ligeiramente picante, que não nos remete assim tanto para os sabores mexicanos mas isso nem interessa muito porque é muito bom!
Todos os makis são excelentes e a fusão de ingredientes e texturas faz todo o sentido em cada um. Provamos ainda um maki sugerido, que ainda não está na carta e por isso não tem nome. Mas tem atum, guacamole, salmão, folha de arroz e um pequeno topping de sapateira… e é bom que se farta! As peças são talvez um pouco grandes demais, mas percebem-se a razão, por causa da sua complexidade. Honestamente, o difícil é escolher de entre todos os makis da carta.
E se nos makis a escolha é difícil, esperem até chegar aos gunkan! Na realidade, logo na primeira visita que fizemos ao Nómada, a primeira coisa que escolhemos mentalmente foi o Gunkan de Foie Gras e Atum, com compota de abóbora. Um gunkan fenomenal, onde a conjugação do atum com o foie gras é brilhante e o sabor é do outro mundo. Comíamos disto todos os dias, sem pensar duas vezes! Por isso mesmo, ainda que seja muito interessante, o Gunkan Especial do Chef já não é assim tão surpreendente… Tempura de vieira, lavagante e itogaki, bom, mas nem se compara ao outro.
As sobremesas apresentam-nos também ideias interessantes, ainda que com pouco a ver com o Japão (que, convenhamos, não tem uma gastronomia muito rica neste âmbito). Provamos o Supremo de Mascarpone, que é uma espécie de pudim com mascarpone e chocolate branco, acompanhado de frutos vermelhos, merengue e gelado de morango. Sabores frescos, algumas texturas, numa sobremesa não muito doce, ainda que a descrição o pareça.
Sim, os rolos são um bocadinho grandes, mas a verdade é preciso que sejam para encaixar tanto elemento. Mas não é fusão pela fusão, aqui no Nómada é porque faz sentido. Aquilo que sempre me irritou no sushi de fusão foi perceber que não há qualidade e por isso se recorre a artimanhas. Mas no Nómada, os ingredientes são excelentes (especialmente o peixe) e as ideias de fusão têm todas um conceito por trás, há sempre uma história ou um enquadramento em cada peça.
Desde o início que sentimos que o Nómada veio para ficar (finalmente a piada com o nome do restaurante). E mais do que isso: o Nómada é já uma referência nos restaurantes de sushi (em particular) e cozinha japonesa em Lisboa. Porque a fusão pode ser uma coisa boa. E aqui é excelente!
Preço Médio: 40€ pessoa (à carta, com vinho)
Informações & Contactos:
Avenida Visconde Valmor, 40 A | 1050-240 Lisboa | 917 779 737