Lentidão, encontrões, altos e baixo… e azeitonas, claro.
A curiosidade em ir ao Maria Azeitona era muita, e já há algum tempo! Porque quando estivemos no vizinho do lado – o Happy Comida Caseira (sobre o qual escrevemos aqui) – várias pessoas nos escreveram a dizer que tínhamos mesmo de experimentar o Maria Azeitona, porque era fantástico. E a verdade é que – e isto vale o que vale – o restaurante tem a mesma classificação no Zomato que o Belcanto, por exemplo! 😛
Enfim, tantas recomendações para um restaurante fora do centro de Lisboa despertaram a nossa atenção e de que maneira! É regular irmos à Amadora visitar familiares mas quase nunca para jantar fora, mas estávamos dispostos a abrir uma excepção. E, curiosamente, foi num almoço de família que acabámos por ir para ao Maria Azeitona. E – spoiler alert! – até gostámos… mas não adorámos! De todo!
Por acaso sabíamos onde ficava o restaurante, porque quem não sabe talvez tenha problemas em encontrá-lo. Não por estar escondido, porque até está mesmo à beira da estrada, mas sim porque por fora quase nem se percebe que se trata de um restaurante. Enorme fachada cinzenta, janelas reduzidas e apenas uma placa minúscula com o nome. Como podem ver pela foto de capa.
Felizmente, e à primeira vista, o cenário muda quando entramos no restaurante, que tem aquele look “tasca moderna com decoração vintage e mobiliário de cores diferentes”. Já está visto, é verdade, mas fica sempre bem. O que já não fica tão bem, e que se percebe assim que entramos, é o facto de haver demasiadas mesas para o espaço disponível. Muitas mesas. Mesmo. O que resulta não só em estares a partilhar conversa com a mesa do lado (e não no bom sentido) mas, pior do que isso, estares sempre a levar encontrões dos empregados e pessoas em geral que se movimentam entre as mesas. Desagradável, no mínimo.
Por falar em empregados, são claramente poucos para uma sala cheia de gente (e ainda por cima com dificuldades em movimentar-se entre as mesas). A nossa experiência foi ao almoço, e o serviço foi bastante demorado. Nada a apontar à simpatia, de forma nenhuma, mas realmente não têm mãos para tudo… Talvez seja diferente ao jantar, mas se nos dizem que o restaurante está sempre cheio, só muda se realmente houver mais empregados.
Seguindo em frente, e para a comida. A ementa tem uma página inteira de petiscos, composta basicamente por tudo aquilo que temos em todas as outras tascas modernas (e não há nada de errado com isso); outra página com os pratos e sobremesas e ainda há dois pratos do dia, ao almoço, carne e peixe. Somos quatro, por isso podemos pedir um bocado de tudo.
Para começar, duas entradas: os Peixinhos da Horta são bastante bons, feitos no momento, grandes, boa polme, mas maionese fraquinha; e o Choco Frito à Moda de Setúbal, que é só choco frito, porque em Setúbal é bastante melhor.
Para pratos do dia, a opção de peixe foi o Cremoso Bacalhau com Natas à Moda do Chefe, nome ambicioso e pomposo para um bacalhau com natas perfeitamente normal. Cremoso, sim, sabor razoável, sim, dose bem servida, sim. Mas não percebemos o que era a “moda do Chef”. Por outro lado, a opção de carne: Carne de Porco Rosa do Montado Alentejano à Portuguesa com Batata Frita Caseira.
Novamente, um nome muito longo e elaborado para dizer “carne de porco à portuguesa”. Boa a carne, tenra, saborosa, sem dúvida nenhuma. Pena esta triste moda de servir a carne de porco à alentejana/portuguesa com batata palito em vez dos tradicionais cubos, mas este está longe de ser caso único.
Sem haver uma opção completamente vegetariana de prato principal (e a desculpa de “a carta está a mudar” tem mesmo de acabar, tanto aqui como noutro restaurante qualquer, quando se aponta uma falha na ementa), pedimos o Risotto de Camarão e Cogumelos Frescos… que podia ser só de camarão, porque os cogumelos nem se sentem. Mas, pior do que isso, vem já com queijo ralado em cima (em vez de à parte, para colocarmos a gosto) e, na base, a textura está muito longe de um risotto. É um bom arroz de camarão, cheio de caldo, mas não é isso que está escrito na ementa.
O último prato principal que nos chegou à mesa é o melhor de toda a refeição, de longe: o naco de Vitela à Mirandela. Que não é uma posta, atenção, nem um naco alto. É um belo bife, de uma carne super tenra e servida no ponto perfeito, regada em azeite e alho, acompanhada por uma simples mas excelentes batatas a murro e um esparregado pouco interessante. Mas a carne… que maravilha!
Com muitas esperas pelo meio, lá conseguimos chegar às sobremesas. Talvez fosse este o momento em que percebíamos todo o buzz em torno do Maria Azeitona… mas não. As opções são muitas e pedimos quatro, mas ficámos desiludidos. A tarte de maçã e canela é muito diferente daquilo que esperávamos, quase uma espécie de cheesecake, ainda que com bom sabor; o próprio cheesecake é bastante bom e tem a textura certa; o doce da casa, mesmo que servido num pote fechado (cliché cliché…), é igual a todos os outros doces da casa no Mundo; e o crème brulée é bastante fraco, muito granulado, sem grande sabor.
Não foi um final perfeito para uma refeição perfeita. Nope. Foi um almoço perfeitamente normal, com altos e baixos na comida, um espaço desconfortável e um serviço fraquinho. Muito longe do que esperávamos de um restaurante recomendado por tanta gente e com uma classificação tão alta em algumas plataformas. Claro que cada opinião é uma opinião, e por isso cada uma vale o que vale. Nós queríamos muito experimentar o Maria Azeitona e ficámos bastante desiludidos, e a nível geral.
E se a apreciação da comida até pode entrar no campo da subjectividade, as falhas e atrasos no serviço e o desconforto de haver demasiadas mesas e muito próximas são factores objectivos. Se calhar ainda não houve demasiada gente a queixar-se, mas para nós foi o pior deste almoço no Maria Azeitona. O resto foi apenas normal. E a “normalidade” é uma chatice em qualquer restaurante.
Uma nota final: chateiam-me um “bocadinho” restaurantes que não têm multibanco. Compreendo mais ou menos em pastelarias e outros sítios onde dificilmente se consome mais do que um valor monetário baixo, mas não num restaurante. E muito menos num restaurante que está sempre cheio, tanto ao almoço como ao jantar. Honestamente, não percebo mesmo, e acho um desconforto para os clientes. Mas, como tudo o que escrevemos em cima, pode ser apenas a nossa opinião.
Preço Médio: 16€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua Alfredo Keil, 16 | 2700-036 Amadora | 21 406 6261