Porque um italiano nunca passa de moda…
As modas da restauração vão e vêm, mas há alguns pilares base que se mantêm inalteráveis. Não estamos sequer a falar de restaurante icónicos ou de Chefs conhecidos, estamos mesmo a falar de tipologias, independentemente do restaurante em si. Já houve fases em que os chineses estavam na moda, outra em que era o sushi, a moda dos petiscos ou hamburguerias e, mais recentemente, a moda dos asiáticos (com ênfase para o ramen). Mas, no meio disso tudo, os restaurantes italianos foram sempre sobrevivendo. Aliás, mais do que isso, foram sabendo adaptar-se constantemente, ajustando a sua oferta e assegurando que continuam sempre válidos. Não acontece com todos, é verdade, mas acontece com a grande maioria.
E o motivo é simples: comida despretensiosa e com a qual toda a gente se identifica! Sejam pizzas, pastas ou pratos mais elaborados e modernos, há sempre uma opção para todos os gostos, o que faz com que um restaurante italiano seja sempre uma escolha segura. Em Lisboa, há desde os mais clássicos até aos mais sofisticados, e as novas aberturas têm procurado destacar-se através de uma oferta mais curta e um look & feel mais contemporâneo – podem dar uma vista de olhos aqui para um apanhado dos nossos italianos preferidos.
Parece um grande enquadramento quando apenas queremos falar sobre a nossa experiência num dos novos restaurantes italianos de Lisboa, mas é necessário que o façamos. Porque o Mano A Mano é um restaurante italiano que não tem nenhum factor completamente diferenciador da alguns outros italianos em Lisboa… mas ao mesmo tempo é tão convidativo e satisfatório como muitos deles. Parece complicado? Não é.
O Mano A Mano fica mesmo no início da Rua do Alecrim, quando se começa a subir para o Chiado, o que à partida é sempre bom, porque pelo menos a clientela internacional passa por lá (e pára). Mas lá está: sendo um italiano, à partida nem é preciso depender disso. Por exemplo, nós fomos lá almoçar a um Domingo e o restaurante estava quase cheio, entre casais, turistas e famílias com crianças. Unidas em torno da comida italiana. O espaço é amplo e as janelas amplas deixam entrar muita luz natural, o que o torna extremamente acolhedor. A utilização me muito mármore e madeiras dá-lhe um toque simultaneamente rústico e sofisticado, resultando num espaço mesmo agradável. Mesmo em frente à entrada, o forno das pizzas “recebe” quem entra e deixa antecipar o que vamos depois ver na lista.
A carta tem então pizzas e pastas, além de tudo o resto que estamos à espera num restaurante italiano. Oferta longa e variada, onde nos chamou a atenção o facto de podermos escolher a pizza na sua versão napolitana (com massa mais alta e fofa) ou romana (mais fina e estaladiça). Não é muito habitual nos restaurantes italianos, que geralmente especializam-se numa das versões, mas talvez seja a razão do nome Mano A Mano. Seja como for, é uma boa ideia.
Começamos por pedir um Aperol Spritz para acompanhar as entradas, que é bastante bem servido e quase dá para a refeição toda. O Crostini Mano a Mano apresenta-se com o pão bem torrado e um topping de nduja (um salame picante), mozzarella de búfala e tomilho, muito bom por sinal. E ainda melhores são os Arancini, com o tamanho perfeito e um recheio excelente: arroz com toque de açafrão, queijo scamorza e orégãos frescos, para molhar ainda num delicioso molho de tomate. Provavelmente os melhores arancini que comemos num italiano em Lisboa.
Para pratos principais, uma pizza e uma pasta, para tirar as teimas. Em relação à pizza, escolhemos a massa tipo romana para a Diavola, com molho de tomate, mozzarella de búfala e fiordilatte, ventricina (que é uma espécie de salsicha, também picante) e orégãos. A massa é boa, estaladiça nas bordas mas um pouco fina de mais no meio, porque não aguenta o recheio. Ainda assim, os ingredientes são bons e tudo resulta bem, é uma boa pizza, sim senhor.
Nas pastas, depois de muito olhar para a Cappelli (com cogumelos, creme de grana padano e trufas negras, que fica para uma próxima visita), a nossa escolha recaiu no clássico e (aparentemente) simples Spaghetti Carbonara. Isto porque a maioria dos restaurantes italianos em Portugal ainda insiste em fazer uma carbonara inundada em natas… Felizmente, no Mano A Mano podemos ler logo na carta que esta é feita “à moda tradicional romana”, com as gemas de ovo a envolverem a massa, o queijo pecorino e o guanciale (que é um bacon… italiano). O spaghetti está al dente, como se quer, o ovo envolve bem o conjunto e todos os ingredientes são muito bons, tudo numa dose perfeita (a carbonara corre sempre o risco de, em grande quantidade, se tornar um pouco enjoativa). Uma excelente carbonara! Ou seja, neste “mano a mano”, ganharam as pastas 😉
Outro dos (muitos) ex-libris da cozinha italiana são as sobremesas, por isso nunca podem faltar. Também neste campo há escolhas mais ou menos conhecidas de todos, mas cada uma tem um pequeno twist. No nosso caso, escolhemos a Pana Cotta com a opção de Calda de Caramelo Salgado (porque tudo, mas tudo mesmo, fica melhor com caramelo salgado!). A sobremesa vem servida em taça, mas ainda assim dá para perceber que a textura da panna cotta está boa, sendo que a o caramelo salgado por cima dá à sobremesa aquele toque decadente que todas as sobremesas deviam ter! A outra sobremesa escolhida foi o Cheesecake de Nutella… que foi uma pequena desilusão. Porque nem a textura é de cheesecake (é mais um quase gelado) nem a cobertura é Nutella mas sim chocolate. Não é uma má sobremesa, só não é o que estava descrito.
Ou seja, tudo revisto e almoço terminado, saímos do Mano A Mano bastante satisfeitos. Porque a comida italiana também tem disto, deixar as pessoas satisfeitas. Todo o tipo de pessoas. Aqui não estamos num registo sofisticado e premium, nem no registo contrário de “italiano manhoso”. Estamos sim no registo do italiano familiar e descomprometido, e por isso vai resultar de certeza. Mesmo com preços um pouco acima da média, de certeza motivados pela frequência turística na zona…
O Mano A Mano podia ser outro tipo de restaurante, mas sendo um italiano faz ainda mais sentido. A localização ajuda muito, mas o cuidado com a matéria-prima e a confecção fazem tudo o resto. Fazem as delícias de miúdos e graúdos, de famílias e grupos de amigos. De toda a gente.
Preço Médio: 25€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua do Alecrim, 22 | 1250-014 Lisboa | 914 054 273
“porque tudo, mas tudo mesmo, fica melhor com caramelo salgado!”
não podia concordar mais 🙂