De Itália. Com Amor.
A questão da genuinidade de um restaurante é algo quase sempre presente no que escrevemos. Porque é mesmo importante sentires que quem te serve tem gosto por aquilo que faz, ou seja, que o faz de alma e coração. E numa altura em que há tantos restaurantes com fórmulas pré-formatadas de sucesso, é excelente sermos surpreendidos num restaurante onde sentimos que tudo é genuíno. O espaço, o serviço e a comida, claro. E isto é o que nos acontece repetidamente quando jantamos (ou almoçamos) no Il Matriciano, em São Bento.
E sim, é verdade que se calhar até há uma ou outra coisa que não é exactamente como se serve em Itália. É perfeitamente normal, mas também é normalíssimo que não sejamos as pessoas ideais para avaliar isso… porque não somos italianos! Mas é inquestionável que nos sentimos no Il Matriciano como se estivéssemos num pequeno restaurante italiano, algures por lá. E mais do que isso: sentimo-nos em casa. Sentimos que a comida nos é servida como se fôssemos da casa. E sentimos que é feita com amor. E não há nada mais reconfortante do que isso. Nem perfeito.
Mesmo em frente à Assembleia, com um pequeno pátio no exterior, o primeiro impacto que temos ao entrar no Il Matriciano são as boas vindas em italiano, acompanhadas por um flute de vinho frisante. Percebemos que parte da equipa de sala é composta mesmo por italianos, mas mesmo quem não é domina a língua. Aqui há um serviço com uma simpatia extrema, mas daquelas genuínas, sempre a tentar explicar o melhor possível os pratos, a dar recomendações, ou simplesmente a querer saber se estamos a gostar. Sem ser intrusivo, sem pressionar, nos timings certos. No panorama da restauração em Lisboa, onde cada vez é mais difícil encontrar um bom serviço de sala, aqui no Il Matriciano temos um serviço 5 estrelas.
E se o serviço é 5 estrelas, o espaço é igualmente fantástico. Sem grandes opulências nem aquela decoração standard e franchisada dos restaurantes italianos, tudo aqui é bastante simples, com pequenos pormenores de decoração e iluminação que tornam o Il Matriciano num espaço muito romântico. Não há referências óbvias à Itália mas, não sei bem porquê, sentimo-nos em casa de italianos. Lá está, é aquela coisa fantástica que já escrevemos em cima sobre o Il Matriciano: sentimos que tudo é genuíno sem ser óbvio.
A ementa está impressa nos individuais de mesa, e basta uma breve análise para querermos provar basicamente… tudo! Não há aqui pizzas, há principalmente pastas e depois pratos de peixe e carne, e ficamos realmente indecisos sobre o que devemos pedir. O ideal é ir diversas vezes, para provar o máximo possível de pratos. porque é tudo fantástico!
Ou então peçam sugestões, porque o serviço além de muito simpático é extremamente conhecedor dos pratos. Nós, em várias visitas, tivemos oportunidade de começar os jantares ou com um das várias Bruschettas da casa, ou com a fantástica Melanzane alla Parmigiana – beringelas com queijo parmesão, mozzarella e molho de tomate, tudo no forno, assim tipo uma lasanha mas sem ter nada a ver, um prato que “grita” Itália e comida da avó.
Podem ainda ficar por uma escolha “segura”, a Burratta Ai 4 Sapori, que é uma excelente burratta acompanhada por anchovas (deliciosas), trufa (que fica sempre bem em qualquer prato), bottarga (que é uma espécie de ovas secas, uma coisa fantástica) e um pesto genovese maravilhoso. Mistura-se tudo e é uma entrada que não vão querer que acabe, acreditem!
Ou ainda podem experimentar outra entrada mais fora do comum, que é o Carpaccio de Robalo com “perfume” de Trufas. E o “fora do comum” tem a ver com o facto do robalo ser um peixe menos habitual num carpaccio, mas não há nada de errado no prato em si: é fresco, sabe a mar (mesmo com as trufas a aquecer um pouco o conjunto), passa até a ideia de ser saudável!
E se as entradas já surpreender, é impossível não ficar apaixonado pelo Il Matriciano quando provamos os pratos principais. Tanto as pastas como os risottos são absolutamente fantásticos, e há desde os mais parecidos com aquilo que provamos noutros italianos até aos que nos são desconhecidos… e surpresas fantásticas! Como por exemplo o Risotto Tallegio Pera e Noci, um risotto de queijo tallegio com pêra e nozes. Novamente, sem palavras. O queijo é intenso, mas que não abafa o sabor fresco da pêra e a crocância das nozes, o arroz está no ponto certo… Tudo aquilo que um risotto deve ser, e aqui parece tão simples. Um prato brilhante!
Como excelente também é uma pasta que na descrição parece demasiado simplista… mas cuja escassez de ingredientes faz apenas destacar a pasta em si, que é nada menos que fenomenal. Estamos a falar da Pasta Fresca Al Tartufo con Doppio Burro di Normandia – pasta fresca com trufa (sim, mais uma vez) e dupla manteiga da Normandia. Sim, é isso, pasta fresca, cozinhada com manteiga. E não há adjectivos que descrevam o seu sabor, não há mesmo. É aquilo que a cozinha italiana faz melhor: poucos ingredientes, mas ingredientes fantásticos.
E mais um destaque – de uma ementa que só tem destaques porque tudo é fantástico – é o Tonnarelli Cacio e Pepe. Quem me conhece sabe que o Cacio e Pepe é só a minha forma preferida de comer pasta… mas também aquela que menos encontramos nos restaurantes em Lisboa (além do Il Matriciano, é servido talvez em mais dois restaurantes). E é a coisa mais simples do mundo: queijo e pimenta preta. Só isso. Mais uma vez, como é toda a comida italiana, simples mas com matéria-prima fantástica, comida de conforto. Voltávamos ao Il Matriciano todos os dias para comer qualquer uma das pastas ou risottos da carta, e isso quer dizer praticamente tudo em relação a este restaurante italiano.
No final, temos ainda sobremesas, claro. Que, à partida, serão o menos surpreendente a nível de escolha, com muitos itens nossos conhecidos. Mas preferidos, também, por isso voltamos a recorrer às sugestões. O Tiramisù é muito bom, cremoso, equilibrado entre o sabor a café e a mascarpone. E a outra sugestão é o Semifreddo al Lime e Menta con Salsa ai Lamponi. Tradução: semi frio com lima e menta, acompanhado de molho de framboesa. Visualmente parece uma pannacotta, mas a textura não tem nada a ver. O sabor é fantástico e novamente muito equilibrado, sem ser demasiado ácido. E é curioso, mas aquilo que à partida não me faria sentido nesta sobremesa – o molho de framboesa – na realidade ajuda a equilibrar os sabores e resulta na perfeição. Que final fabuloso de jantar!
Isto tudo acompanhado por um dos vinhos italianos que estão em exposição (com o preço indicado). Novamente, e correndo o risco de ser repetitivo, é preciso pedir sugestões e aceitá-las, porque são genuinamente bem intencionadas. E em relação aos vinhos têm sido maravilhosamente certeiras em qualquer um dos nossos jantares no Il Matriciano.
O que é mais engraçado no Il Matriciano é que não precisamos de ser italianos ou ter sequer por lá passado em férias para sentirmos que ali a cozinha é genuína. Isso sente-se quando levamos a primeira garfada à boa, sente-se nos ingredientes e na confecção. Sentimos que tudo ali é feito com alma, com amor. E se uma refeição é uma experiência, um jantar no Il Matriciano é uma viagem à Itália mais honesta e verdadeira – aquela dos almoços/jantares de família, em que o termo “cozinha de conforto” se ajusta na perfeição.
O Il Matriciano é um dos nossos 3 italianos preferidos de Lisboa (juntamente com o La Bottega Di Gio e o Memoria). E é uma prova que é possível abrir um restaurante temático (ou de cozinha internacional) sem seguir fórmulas de sucesso pré-definidas. Quando nos sentimos em casa, voltamos. E recomendamos. E espalhamos a mensagem para todos os que queiram ouvir. E queiram viver esta experiência fora de série que é um jantar no Il Matriciano.
Preço Médio: 30€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
R. São Bento, 107 | 1200-816 Lisboa | 21 395 2639