Comida excelente! Serviço nem por isso…
A comida vegetariana é cada vez mais uma tendência em crescimento, principalmente nas grandes cidades. As preocupações com a saúde, as restrições alimentares ou a simples melhoria da nossa dieta leva cada vez mais gente a procurar alternativas ao típico peixe e carne. E a realidade é que há cada vez mais alternativas a nível de restauração, sendo que as há boas e, claro, menos boas (ou mesmo más). Muitas das alternativas que existem funcionam em regime buffet (com todas as vantagens e desvantagens que isso implica), outras são efectivamente mais caras do que as opções de carne/peixe e ainda há outras com uma oferta bastante mais reduzida do que os restaurantes “normais”.
Ora, uma das coisas que me irritou assim que me sentei na mesa do Govinda Ji, ali perto da estação CP de Oeiras, foi o facto deste ser um daqueles vegetarianos em que nos dão apenas duas opções de pratos. Não estamos a falar de terem dois pratos do dia, a preço económico, e depois o resto da ementa. Não é nada disso. Aqui tens apenas dois pratos disponíveis, por isso ou comes um deles ou então azar… E o grande problema é que isto não é algo que aconteça só neste restaurante, acontece em muitos vegetarianos. O que me irrita profundamente, porque diminui exponencialmente as opções que temos. Enfim…
O Govinda Ji passa despercebido quando passas na rua, por não ter qualquer tipo de sinalização. A melhor entrada é feita através da estrada lateral à estação de Oeiras, porque se forem por dentro do parque vão andar às voltas… como nós andámos. O espaço é dominado pelas madeiras e palhas, num misto de bar de praia e pub. De um dos lados da sala, janelas amplas com vista para o jardim; do outro, outras mais pequenas com grades e vista para a estrada. Poucos elementos “étnicos”, porque as madeiras do próprio espaço já o ajudam a posicionar. A verdade é que se sente uma enorme calma dentro do restaurante, mesmo com pessoas e à beira da estrada.
Essa calma não se sente no serviço, de todo. Uma pessoa na cozinha e outra na sala mostram não ser suficientes para dar conta do recado, num restaurante que nem estava cheio. Andam os dois a “correr” de um lado para o outro, parecem claramente atarantados com os pedidos e é tudo um bocado mais demorado do que o normal. Atenção que estamos a falar de uma lista com 2 pratos e uma sopa, só. Mas somos apressados quando fazemos o pedido, respondem-nos a correr quando pedimos mais alguma coisa, demoram 15 minutos a trazer uma simples fatia de melão…
Bom, até agora não parece nada de especial, pois não? Pois que é preciso começar a chegar a comida (lentamente), para mudarmos de opinião. Porque tudo o que nos vão servindo é uma explosão de cores e sabores! Pratos muito bem compostos, ao ponto de não conseguirmos terminar, cuidado na confecção e temperos, uma apresentação imaculada. Se fosse só pela comida, este era um restaurante 5 estrelas!
O couvert é um simples papadan com uma excelente e viciante pasta de tofu, que desaparece com uma rapidez… rápida. Depois, um creme de cenoura e bolbo de aipo, espessa, com o aipo não muito presente mas o suficiente para não deixar que o sabor da cenoura torne a sopa demasiado doce. Pena não ser fresca (dias de calor pedem sopas mais frescas), mas o equilíbrio perfeito de sabores fez com que não sobrasse nada.
Os dois pratos disponíveis no dia foram também excelentes surpresas! Primeiro, um picadinho à madeirense… mas de seitan. Não sou fã da textura do seitan, mas aqui estava bem disfarçada. Natas não muito intensas, pimentos a ajudar ao sabor, um conjunto novamente muito equilibrado e com um ligeiro toque picante. Depois, o Madras de grão, um tipo de caril, com sabores mais fortes e picantes, o grão cozido no ponto certo e apontamentos de courgete e cenoura para complementar o prato. O arroz serve para anular o picante do caril, assim como a frescura da salsa picada, fazendo deste prato uma maravilha!
Terminamos com uma fatia de melão (a que demora 15mn a chegar à mesa) e um bolo de avelã com ganache de chocolate, uma sobremesa gulosa e tão viciante como o couvert. Muito, muito bom!
E sumos naturais para acompanhar a refeição, que mudam também diariamente, mas eram ambos excelentes!
É sempre complicado escrever sobre um restaurante que muda os seus pratos todos os dias, porque não vale a pena recomendar este ou aquele prato porque não vão estar lá amanhã. Mas pela amostra que tivemos, mais do que os pratos em si, há no Govinda Ji um cuidado extremo em assegurar pelo menos duas coisas: que os clientes, vegetarianos ou não, não saem do restaurante com fome; e que os pratos têm várias dimensões de sabor, sempre excelentes.
Pena o resto (espaço e serviço) ser menos bem conseguido, porque o Govinda Ji podia ser um restaurante vegetariano de referência. Para vegetarianos e não só.
Preço Médio: 12€ (prato, com sumo natural)
Informações & Contactos:
Rua Desembargador Faria, 31 | 2780-231 Oeiras | 21 4416007
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