O estigma do “restaurante de hotel”…
Sim, é um estigma. Curiosamente, é algo que não acontece noutros países europeus, mas cá em Portugal continuamos a olhar para os restaurantes de hotel como… restaurantes de hotel. Ainda que cada vez mais apareçam conceitos interessantes e restaurantes mais ou menos mediáticos portas-meias com hotéis. O grupo Turim tem já um desses casos, o Tsubaki (no Turim Saldanha Hotel). Aberto recentemente mas já muito falado pelo envolvimento do Chef Paulo Morais na sua carta.
Ora, no renovado Hotel Turim Liberdade, este novo Glory Pizzeria tenta igualmente assumir-se como um restaurante italiano autónomo.
O problema da Rua da Glória é que está mesmo muito perto da Avenida da Liberdade, mas parece um mundo completamente diferente. Ou seja, o Glory está perto da avenida mais premium de Lisboa, mas parece estar numa rua meio “manhosa”. O restaurante tem entrada autónoma do hotel, o que é muito bom porque não nos obriga a passar pela recepção e sermos abordados. Bom começo.
Nota-se que o restaurante é novo. O espaço é bastante monocromático e quase sem decoração, ainda que metade das mesas tenham tampos de azulejos. O pormenor mais italiano é o padrão aos quadrados dos guardanapos, mas este tipo de “decoração” minimalista é agradável. O que já não é tão agradável é a tela de projecção que ocupa uma das paredes e que transmite o VH1, alto. Seria normal num bar ou noutro tipo de restaurante, aqui torna-se simplesmente desadequado. E incomodativo.
A ementa tem diversas bruschettas, algumas pastas e risotos e, claro, pizzas.
Começando pelo fim, as pizzas aqui são daquelas com massa muito fina e estaladiça, quase folha de papel, para deixar sobressair o que está por cima. Geralmente não é o meu tipo de massa, mas aqui nota-se algum sabor e, mais do que isso, mesmo sendo fina não se parte facilmente com o peso dos restantes ingredientes. Em grupo, provámos 4 diferentes: a Capricciosa, com fiambre, cogumelos e ovo estrelado no meio, boa sem ser surpreendente. A Michel, a única que talvez tenha ingredientes a mais (carne picada, 3 tipos de pimentos, cebola roxa, azeitonas, cogumelos e salame… ufa!), porque resulta numa mistura tão grande que não se conseguem saborear os ingredientes como deve ser. A Carpaccio que, como o nome indica, é um carpaccio em cima de uma base de pizza, ideia à partida interessante mas que depois resulta só mais ou menos. E a melhor, a Gamberi, muito mais simples, apenas com gambas e espinafres, mas com um molho de tomate muito saboroso e onde o resto dos ingredientes se integra mesmo bem.
Antes das pizzas, também partilhámos algumas bruschettas, algo pelo qual o Glory quer ser também conhecido. A de Sardinha em princípio só está na carta até ao final do Verão e é muito interessante, com um lombo de sardinha sobre um picadinho de tomate e cebola roxa que podia ter também pimento para quebrar a acidez da cebola. Mais normal mas igualmente boa, a Napoli, com mozzarella, presunto e rúcula; e a Serrana, com brie, presunto e uma compota de cereja lá pelo meio que abafa qualquer um dos outros sabores.
Finalmente, nas sobremesas, um tiramisu interessante e uma mousse de chocolate maravilhosa. Leve, com a textura perfeita, boa até para mim, que não gosto de mousse de chocolate.
No final, não sendo um italiano surpreendente (atenção que não provámos pastas nem risotos), também está longe de ser um mau italiano. Está no começo, há pormenores a acertar, ainda se fazem algumas experiências. Mas há no Glory boas ideias (o apostar nas bruschettas é uma delas) e, com o tempo, elas acabam por se materializar todas. O principal problema será contornar o estigma de restaurante de hotel, mesmo sendo tão central. Mas nada que uma boa comunicação não resolva.
A voltar daqui a uns tempos para ver a evolução.
Preço Médio: 16€ pessoa (pizza, cerveja e sobremesa)
Informações & Contactos:
Rua da Glória, 17 | 1250-114 Lisboa | 915957337
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