Uma taberna cheia de surpresas. E sorrisos!
É inevitável começar este texto por um dos pratos mais surpreendentes que comemos este ano. O Bitoque de Tomate do Copo Largo é o equivalente àquele emoji a cabeça a explodir, sabem? 🤯 É fora do comum, inesperado, mas também é surpreendente perceber que resulta muito bem. Um prato de Verão, ou pelo menos sazonal, e que marca a nossa experiência no Copo Largo, sem dúvida. Mas não foi o único ponto alto da noite! 😉
O Copo Largo abriu há menos de um mês, na Rua de São Bento. Um dos donos é o Filipe Ramalho, que conhecemos há muito da saudosa Taberna Salmoura. Ou seja, há aqui “escola” da Taberna Sal Grosso, assim como há em muitas das tascas modernas que estão a “bombar” em Lisboa (Velho Eurico, Tasca Baldracca, e o atual Sal Grosso, entre outros sítios). E se é verdade que esses cozinheiros passaram por lá, também é verdade que os sítios que foram abrindo foram mostrando um distanciamento cada vez maior das origens, e ainda bem, porque demonstra respeito mas, ao mesmo tempo, personalidade. Isto para dizer que é inevitável encontrar no Copo Largo pormenores que nos fazem lembrar a Taberna Salmoura, especialmente em algum mobiliário, louça e mesmo no conceito base de petiscos com base portuguesa mas um twist.
Mas aqui estamos num espaço muito mais moderno, mais minimalista, com muita iluminação. Sentimos o “ambiente taberna” através do mobiliário e especialmente quando o restaurante começa a encher, porque tem aquele vibe de grupos divertidos, toda a gente a falar, a perguntar à mesa do lado o que estão a comer, a trocar licores e aguardentes. Nas paredes vemos já alguma da arte criada pelo próprio Filipe, que é também quem domina a sala, sempre bem disposto, sempre pronto a dar sugestões e a explicar algum prato, sorriso permanente. Um anfitrião daqueles à antiga, sabem?
A ementa do Copo Largo está parcialmente escrita numa ardósia numa parede, claro, mas não só, porque ainda há mais pratos escritos no vidro que separa a sala da cozinha semi-aberta. Alguns pratos não precisam de explicação, outros temos mesmo de perguntar, porque são conjugações às quais, à partida, não estamos habituados. A lógica é a dos pratos para partilhar, e os preços estão alinhados com o que se faz noutras tabernas modernas com posicionamento semelhante. Por isso, picamos uns tremoços e azeitonas, acompanhados de um presunto excepcional, enquanto tentamos encontrar consenso sobre o que vamos pedir, já que tudo parece apetitoso.
A cozinha quer-se sazonal, por isso vamos a alguns pratos onde se destacam produtos da época. Por exemplo, a Sardinha com Melancia. Sim, isso mesmo. Um lombo de sardinha braseado, sobre pimentos picados e uma fatia de melancia, com um piso de coentros para ligar tudo. Simples, fresco, fabuloso!! A conjugação já tinha sido feita com figos, daqui a uns tempos pode mudar novamente, mas esta com melancia fica excelente!
Outro prato para o qual não há palavras é o Tártaro e Couve. Certo, pode não ser novidade completa servir tártaro com couve, mas aqui no Copo Largo essa couve kale é panada tipo tempura, o que serve de base para o tártaro e dá um elemento crocante ao conjunto. Novamente, contrastes e explosão de sabores, o tártaro perfeito e a couve também. Podíamos comer qualquer um dos elementos sozinho e já eram muitos bons, assim em conjunto é só ridiculamente bom!
Ainda estamos a comentar o tártaro e já está a chegar à mesa o Rissol do Mar e Chá. Enorme o rissol, bem recheado, com um caldo que resulta de uma infusão de chá, mais uma vez com o toque do piso de coentros, que lhe dá ainda mais frescura. É curioso ver as reações das pessoas nas outras mesas, à medida que os pratos vão chegando à mesa e depois, quando provam: há surpresa, há satisfação, há comentários. E é isso mesmo que a comida deve provocar em nós.
E os croquetes? Ah pois é! Na ementa lemos Croquetes de Chambão, o que não é especialmente inovador. Mas aqui são servidos dentro de um mini brioche caseiro, quase tipo um hambúrguer. A ideia vem da nossa infância, em que comíamos os croquetes abertos dentro do pão, lembram-se? Eu pelo menos lembro-me 🙂 O croquete é muito bom, o brioche é excelente… mas o molho que está na base do prato é uma maravilha!! É pegar no pequeno brioche, esmagar o croquete e lambuzar no molho, dedos e tudo. É decadente como se quer!!
O prato final, antes da sobremesa, foi o primeiro que decidimos que íamos provar, e do qual falámos no primeiro parágrafo deste texto: o Bitoque de Tomate. Impossível não despertar a curiosidade, não é? O que aqui temos é uma fatia generosa de tomate coração de boi, servida com um ovo estrelado perfeito a cavalo, sobre uma redução de cebola roxa e outras coisas. Pois que sabemos que isto é completamente induzido pelo nome e aspeto do prato… mas não é que isto nos sabe mesmo a bitoque?! Um bitoque vegetariano, é certo, mas o sabor está todo lá! O prato é delicioso e surpreendente, não esperamos que resulte mas adoramos quando estamos enganados. Novamente, é sazonal, e o tomate vai deixar de estar bom em breve… por isso é irem a correr ao Copo Largo para provar esta maravilha!
Ficou muita coisa para provar, e pratos que nos despertaram a atenção. Mas sabemos que vão haver visitas frequentes, por isso terminamos o jantar com uma sobremesa. A escolhida é o Bolo de Azeite e Mel, servido com um Gelado de Poejo, uma conjugação clássica alentejana, e aqui com o bolo muito bom e o gelado ainda melhor. É se calhar o menos surpreendente da noite, mas não há problema nenhum com isso. Nenhum mesmo.
No final, terminamos como já sabíamos: uma ronda pelos digestivos da casa, literalmente caseiros. O Filipe já nos tinha habituado a fazer licores e aguardentes caseiras no Salmoura, por isso é natural que aqui também o faça. É uma oferta, no final da refeição, que nos remete novamente para o imaginário das tabernas antigas, mas mais do que isso: serve para prolongar a experiência, para motivar ainda mais interação dentro da sala, para nos sentirmos mimados.
O Copo Largo pode ter aberto há menos de um mês, mas temos a certeza que se vai tornar um caso de sucesso. O conceito resulta sempre e, mais do que isso, a comida apresenta aquelas novidades que vão deixar muita gente surpreendida. E é tudo fantástico a nível de sabor, claro! É daqueles sítios onde vão querer voltar frequentemente para perceber o que há de novo na ementa, e porque se sentem em casa. Para nós, o Copo Largo foi uma das grandes surpresas do ano, e vai de certeza entrar no top de restaurantes de 2023. E ainda só lá fomos uma vez, agora imaginem quando voltarmos para provar tudo o resto! 🙂
Preço Médio: 25€ pessoa (com vários pratos e cerveja)
Informações & Contactos:
Rua de São Bento, 333 | 1250-210 Lisboa | 910 739 121