Comida com altos e baixos, mas serviço muito lento…
Temos aquela ideia pré-concebida – e muitas vezes comprovada – de que se come muito melhor quando saímos de Lisboa. Não só melhor, como em maiores quantidades, de forma mais típica, comida caseira. Sabemos que há excepções, mas também sabemos que geralmente é isso que acontece. E por isso mesmo é que, quando nos convidam para ir a um restaurante “típico” na zona da Sertã/Proença-a-Nova (sim, é nessa zona, não me venham os locais com merdas geográficas…), pensamos logo que vai ser do caraças!
E é assim que vamos jantar ao Casa Ti’Augusta, um restaurante que fica em Figueira, uma aldeia de xisto, mesmo que não oficial, com todas aquelas características que nos levam a pensar que vamos ter uma refeição excelente!
Mas a verdade é que sentimos, logo quando nos sentamos à mesa, que a Casa Ti’Augusta não é exactamente aquilo que estávamos à espera… E sim, sabemos que tem tudo a ver com expectativas. Mas como isto também são opiniões, cada um tem a sua e nós temos a nossa! O que esperávamos era um restaurante mais “tradicional”, no sentido em que tudo era mais simples, desde o espaço ao serviço e tudo o que venha a partir daí. E não é. O Casa Ti’Augusta é um restaurante a atirar para o sofisticado, daqueles com vários talheres já em cima da mesa, guardanapos de pano, bebidas que te são servidas pelo empregado com o polegar no fundo da garrafa… enfim, é demasiada formalidade para um restaurante no meio do nada, onde se quer comer bem, de forma simples e honesta. Foi a sensação com que ficámos, e isto nos primeiros 10 minutos depois de termos entrado no restaurante…
A muito custo, conseguimos pedir entradas e pratos, e mesmo depois de muitas perguntas, ficamos pouco esclarecidos. Porque há na ementa algumas coisas que não conhecemos, mas elas são-nos explicadas de forma superficial, no mínimo. E um exemplo disto é a primeira entrada que nos chega à mesa – ainda antes do vinho recomendado, que não só chega tarde como é um fail total!!! – que é o Maranho à Ti’Augusta. Devíamos ter ficado de pé atrás quando nos falam em massa folhada, mas ainda assim houve quem pedisse na mesa. E o Maranho à Ti’Augusta é um maranho… mas envolto em massa folhada. Ou seja, de maranho não tem nada, porque não se sente a frescura, não se sente a hortelã (mas podemos ver a folhinha em cima do folhado), não se sente de todo o sabor do maranho. Pode ser a entrada mais pedida da casa – não sabemos se é mesmo… – mas para nós é só uma confusão imensa.
Mas ainda pedimos outra entrada, e uma entrada que não conhecemos de todo. O Plangaio é um enchido que tem por base a farinheira, a que se adicionam os ossos do espinhaço do porco. Isto resulta numa mistela engraçada a nível de sabor, mas com o ar que vêem na fotografia em cima. Novamente umas folhas de hortelã a decorar e aqui também umas folhas de couve a decorar o prato, tudo coisas desnecessárias num restaurante mais tradicional. Nós é que fomos ao engano.
Mas o que estávamos mesmo à espera era dos pratos principais, especialmente por termos encomendado Cabrito Estonado. Para quem não sabe, o cabrito estonado é diferente do cabrito normal porque – vegetarianos, parem de ler aqui! – em vez de ser esfolado como o cabrito normal, é antes escaldado e o pelo é retirado por raspagem. E é o facto de ter pele que faz com que, mesmo depois de assado, mantenha toda a suculência e seja mais saboroso. É como se fosse cabrito com pele tipo leitão, estão a ver?
Bom, a expectativa era grande… mas a concretização foi só média. O Cabrito Estonado da Casa Ti’Augusta tem pinta, mas as doses que chegaram à mesa tinham algumas diferenças: em algumas a pele estava mole, noutras o cabrito estava seco, outros pedaços ainda precisavam de mais um bocado no forno. Não parecia o mesmo bicho, mas sim pedaços de bichos diferentes. De qualquer forma, os pedaços bons estavam realmente bons, suculentos, com a pele a estalar. Como deve de ser! E veio bem acompanhado com um cevadotto (que é basicamente uma espécie de risotto mas feito com cevada em vez de arroz) e batata assada no forno (ainda que, mais uma vez, nem todas estivessem bem assadas… como se pode ver na foto outra vez).
Felizmente, do outro lado da mesa estavam uns belos Maranhos! Estes sim, feitos de forma tradicional, sem invenções, bem recheados, saborosos, com muita carnunga e com a intensidade ideal de hortelã. Um prato que não agrada a todos, mas sem dúvida o melhor prato da noite.
Pela mesa ainda houve outros pratos, talvez um pouco menos típicos da zona, mas também só nós é que nos preocupamos com isso. Os Secretos de Porco Preto chegaram bem grelhados à mesa e a carne é muito saborosa, ainda que pudessem trazer batatas fritas, e o Bacalhau Assado com Boa de Milho é também um prato competente, com uma posta bastante grande e azeite, muito azeite, para empapar tudo.
É neste momento que, quem está a olhar com a atenção para as fotografias, percebe aquilo que nós todos percebemos durante o jantar: os acompanhamentos de todos os pratos são sempre os mesmos. Ainda que o cabrito estonado traga o “cevadotto”, o resto é sempre igual, entre a batata assada no forno e as couves salteadas. Até percebo que sejam acompanhamentos mais ou menos habituais nesta zona, mas é um bocadinho estranho num restaurante, não? Pronto, pelo menos a mim faz-me alguma confusão…
Esperamos mais um bom bocado porque que os pratos sejam levantados da mesa, e outro pelas sobremesas. O serviço é lento, ou pelo menos foi lento naquela noite, com a casa quase cheia. Eram braços no ar a chamar a atenção do staff de sala, era a própria demora pelos pratos… enfim, não foi agradável.
Mas fechamos bem a refeição, porque no geral as sobremesas são muito boas! A Tigelada é um doce típico da zona e aqui tem a textura perfeita, acompanhada com um fio de mel que lhe dá um toque engraçado, e também houve uma Baba de Camelo irrepreensível. Mas a melhor de toda é a que não estamos à espera… há sempre uma Surpresa do Dia, que esperamos ser algo elaborado e naquela noite não era mais do que uma Mousse de Manga. Só que das melhores Mousses de Manga que já comemos, a nível de textura e sabor. Maravilhosa!!!
Pedimos um medronho para acompanhar o café, enquanto esperamos pela conta. Não é cobrado no final, o que é sempre uma boa surpresa, mas a verdade é que também já nos tínhamos queixado da lentidão do serviço. O jantar fica mais caro do que esperávamos, mas também percebemos logo que não estávamos num restaurante como tínhamos idealizado. Ou seja, o preço acaba por estar alinhado pelo tipo de restaurante que é, mas a lentidão do serviço prejudica a opinião global. Voltamos a salientar: pode ter sido apenas esta noite. Mas então tivemos mesmo muito azar.
Depois de sairmos do restaurante ainda damos uma pequena volta pela aldeia, que realmente tem algo de mágico, especialmente ao anoitecer e noite. E percebemos que a Casa Ti’Augusta faz parte de um todo, dentro desta pequena aldeia. Mas por mais giro que possa ser (e dar boas fotografias para partilhar), o que falhou ligeiramente foi a comida e também o serviço, demasiado lento. O que acaba sempre por condicionar a experiência.
Preço Médio: 28€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua Principal | 6150-718 Sobreira Formosa | 274 822 134