Expectativas altas… e depois não!
Algumas das opiniões que aqui damos até podem resultar da simples questão das expectativas. Porque esperamos demasiado de um restaurante, porque nos falaram muito bem, porque criámos todo um imaginário na nossa cabeça… sim, é verdade, há casos desses, e que depois resultam muito mal. Mas depois também há aqueles casos em que não temos expectativas nenhumas antes de entrar no restaurante, ganhamo-las nos primeiros minutos… e depois elas saem completamente furadas. Acontece. Aliás, aconteceu-nos no Cantinho D’Arruda.
Se alguma vez tínhamos ouvido falar do Cantinho D’Arruda? Não. Mas se alguma vez dizemos que não a ir experimentar sítios diferentes, especialmente se for fora de Lisboa e com um grupo de pessoas que gosta mesmo de comer bem? Não, também não! Por isso, quando nos ligam num sábado de manhã a perguntar se queremos ir almoçar a Arruda dos Vinhos… dizemos que sim, claro!
Não há qualquer expectativa senão aquela do “se estes gajos estão a combinar ir lá, é porque alguém sabe alguma coisa…”. Mas essas expectativas começam a aparecer assim que entramos e vemos a cozinha aberta e principalmente a grelha com o carvão quente já pronto para o ataque. Há aqui fogo a sério, e parece mesmo haver aqui quem o saiba domar e tirar dele bons pratos. Bons pratos que até nos são descritos numa conversa inicial, e vendidos de forma a que fiquemos mesmo muito entusiasmados. E por isso nem sequer nos chateia que o Cantinho D’Arruda seja daqueles restaurantes em que as entradas já estão na mesa quando nos sentamos.
Mas os problemas – ou decepções, se quiserem – começaram logo no primeiro prato a ser servido, o ex-libris da casa: o Bacalhau à Cantinho. Uma espécie de lagareiro, sem lhe chamarem lagareiro. Bacalhau grelhado, posta bem apresentada, batata a murro, açorda de coentros e uns legumes salteados. Só que… assim que uma das pessoas na mesa começa a separar o bacalhau (curiosamente, um chef de cozinha), começamos todos a sentir um cheios estranho. Vindo do bacalhau. Não cheira bem, não cheira ao que o bacalhau deve cheirar. Lasca que é um mimo, isso é verdade, mas depois o cheiro… Na mesa chegamos à conclusão que provavelmente terá sido retirado da demolha bastante tempo antes de ser servido, não há outra explicação para isso.
Mesmo sendo um prato para partilhar entre 5 pessoas, e tendo vindo para a mesa em simultâneo com o Polvo à Cantinho (e este sim é um lagareiro normal), fica bacalhau em todos os pratos. E a pergunta vem quando esses mesmo pratos são levantados: “Então, não gostaram?” E aqui as explicações fazem-nos só perceber que criámos demasiadas expectativas e que se calhar o resto do almoço não ia ser muito melhor. Ele é a temperatura do tanque em que o bacalhau é demolhado, ou qualquer coisa na grelha… enfim, nada que nos convença. E somos 5 pessoas na mesa, entre chefs de cozinha e malta que está muito habituada a restaurantes. Todos temos a mesma opinião: aquele bacalhau não estava bom.
No momento em que estamos a escrever isto, estamos a reparar pelas fotos que os acompanhamentos são sempre os mesmos, independentemente dos pratos. Não reparámos nisso na altura, porque estávamos demasiado tristes pelo que nos ia aparecendo na mesa. Mas ainda assim, não deixa de ser curioso… Porque depois do polvo (que era bom!) e do bacalhau (sobre o qual já escrevemos em cima), os pratos de carne que nos chegam à mesa são simplesmente médios. As Tirinhas de Porco Preto (ou seja, Lagartos) são normalíssimas, e com a mesma açorda de coentros também sem grande chama que já tínhamos comido nos dois pratos anteriores…
… as Costeletas de Borrego são muito pequenas e cortadas demasiado finas, por isso algumas acabam por ficar secas e rijas, e a Aba de Vitela Assada no forno a lenha também não nos seduz. É estranho, porque há pedaços que estão mais suculentos, e depois outros completamente secos. É verdade que agora já estávamos mesmo frustrados, mas alguns pedaços pareciam não ser do dia. Pode não ter acontecido isso, mas este foi o segundo prato mais recomendado no início do almoço. E também foi o segundo prato menos comido. E isso, num grupo de gajos que gostam mesmo muito de comer, diz muita coisa.
Fechamos com sobremesas, mas agora já sem qualquer expectativa. É curioso como isto dá sempre a volta: não conhecíamos o restaurante, chegamos e ficamos cheios de expectativas, chega a comida e é tudo um bocado ao lado… e depois quase nem queremos sobremesas com medo do que pode vir dali. E o que vem dali é um Molotof com Doce de Ovos que fica no meio das duas coisas, sem ser bom numa ou na outra; um Bolo de Bolacha demasiado composto; um Doce de Amêndoa que é bom, mas onde era difícil falhar; e um Cheesecake de Frutos Vermelhos que é a melhor de todas as sobremesas. É preciso dizer mais alguma coisa?
No fundo, por mais que seja giro ver o fogo e a grelha, olhar para uma sala cheia de pessoas da zona e cliente habituais, ou decoração daquela muito clássica e tradicional, isso só resulta até a comida começar a chegar à mesa. E aqui no Cantinho D’Arruda foi esse o principal problema: a comida. Porque o serviço é simpático, o sítio é giro… mas depois os pratos não cumprem. Alguns porque não são mesmo bons, outros porque são simplesmente medianos. E isso, quando colocamos as coisas em perspectiva – o facto de irmos de propósito de Lisboa até lá e pagarmos 40€ por pessoa – faz com que fiquemos triste com este restaurante. Muito tristes mesmo!
Preço Médio: 30€ pessoa (com entrada, prato e vinho)
Informações & Contactos:
Rua Primeiro de Maio, 11 | 2630-011 Arranhó (Arruda dos Vinhos) | 21 969 45 34
Perder tanto tempo para formular um texto bem encomendado.
Será que quem o encomendou faz melhor?
Duvido