Os cocktails são bons! Agora os hambúrgeres…
Já houve um tempo em que eu era muito fã do Chef Henrique Sá Pessoa. Nos tempos do Panorama, passando pelo antigo (e saudoso) Alma, com as suas incursões iniciais na televisão, etc. Foi talvez o primeiro Chef “superstar”, ainda antes de ter rebentado a moda dos Chefs “superstar”. E gostava principalmente porque a comida era boa, cuidada e criativa, mas ainda assim acessível a paladares não tão desenvolvidos. Por isso, quando abriu o Cais da Pedra, mesmo no meio do boom da moda dos hambúrgueres, houve alguma expectativa, mas principalmente receio.
E a verdade é que experimentámos… e depois o tempo foi passando e o Chef foi abrindo outros espaços que achámos menos interessantes (como o Tapisco, sobre o qual podem ler aqui o que escrevemos), outros Chefs mais mediáticos e mais criativos foram aparecendo, o que fez diminuir o nosso interesse pelo Chef Sá Pessoa. Mudam-se os tempo, mudam-se as… preferências?
Mas estamos aqui para falar do Cais da Pedra, um dos principais impulsionadores da moda dos hambúrgueres gourmet em Lisboa. Um restaurante que, por ficar na linha de restaurantes em frente à estação de Santa Apolónia, tem coisas boas e menos boas. O espaço é agradável e bonito, mas segue a mesma linha dos restaurantes do lado (utilizar o tecto do edifício sem decoração, apenas com luzes penduradas, cozinha semi-aberta, para que possamos ver os pratos a serem preparados, e esplanada com uma boa vista para o rio… que é exactamente a mesma dos vizinhos). No Inverno tendo a ser um espaço um pouco frio, mas no Verão é muito agradável.
O serviço esse é jovem e simpático, atento como se quer num espaço deste género e com a assinatura de um Chef.
A ementa é a primeira surpresa no Cais da Pedra: porque quando a lemos – e ao contrário do que acontece nas hamburguerias normais – aqui queremos provar tudo! Como nos outros restaurantes do Chef (actuais e anteriores), a descrição dos pratos deixa-nos com água na boca! Algumas entradas e saladas, muitos hambúrgueres, poucas sobremesas mas que parecem boas, carta de vinhos extensa e muito interessante. Promete!
Mas a realidade é que este é só mais um ponto que serve para aumentar as expectativas, e que depois nos deixa um pouco desiludidos…
O couvert traz uns croquetes fabulosos, mas depois o Tártaro de Robalo podia chamar-se Tártaro de Abacate, porque a base de pasta de abacate é tanta (em comparação com o peixe) que o conjunto só sabe a… (adivinhem) abacate. É tudo uma questão das proporções, ou então de não chamarem tártaro ao prato.
Depois, os hambúrgueres, alguns servidos no pão e outros no prato. No geral, a carne é boa, conseguimos facilmente perceber isso. Mas o problema é o da grande maioria das hamburguerias modernas/gourmet que foram abrindo em Lisboa: a proporção do pão (e mesmo dos outros ingredientes) relativamente à carne é em demasia, o que faz com que vejamos vários pratos (além do nosso) a voltar à cozinha com metade do pão…
Comemos o Bacon & Egg, combinação clássica, mas com o ovo estrelado debaixo da carne e de tudo o resto, o que faz com que coza em vez de escorrer (não sei bem quem se terá lembrado de ser criativo a este ponto, mas se calhar devia ter ficado quietinho)… No prato provamos o Florentine, com espinafres, cogumelos, ovo escalfado e molho holandês, no qual se conseguem perceber melhor os sabores, muito bom por sinal.
Boas as batatas fritas, menos boa a batata doce assada no forno com mel, porque é servida um pouco “empapada”.
Além dos hambúrgueres, ainda arriscamos num dos “clássicos do Chef”: as Bochechas de Porco Alentejano são muito boas, ainda que se esperassem mais tenras, acompanhadas por um bom puré de batata doce e um topping de couves e bacon excelente!
Para terminar, há 5 sobremesas na ementa, e das duas que provámos uma cumpre e a outra desiludiu bastante! O Cheesecake, na sua versão americana, é uma sobremesa competente… mas a Tarte Banoffee é uma verdadeira desilusão!!! Demasiado chantilly, quase nenhum doce de leite (ou pelo menos não se sente rigorosamente nada), alguma banana perdida no meio do chantilly e uma base demasiado dura… Que treta!
O grande destaque, pelo menos em comparação com o resto, são claramente os cocktails. Com álcool ou sem, são criativos saborosos e bem servidos (tendo em conta o preço). E isto é realmente uma mais valia no restaurante, senão “A” mais-valia.
Porque o resto da comida que provámos no Cais da Pedra é simplesmente normal, sendo que o preço não é assim tão acessível como parece quando olhamos para a ementa.
Ou seja, até pode ser uma questão de expectativas, mas nós esperávamos mais do Cais da Pedra. Pela chancela do Chef Sá Pessoa, pelo tempo que teve de aprendizagem com a abertura e fecho de muitas das hamburguerias gourmet, sei lá.
Preço Médio: 25€ pessoa (com cocktails)
Informações & Contactos:
Avenida Infante Dom Henrique | Cais da Pedra, Armazém B, Loja 9 | 1900-264 Lisboa | 218 871 651