Um bocadinho da Tailândia no centro de Lisboa!
No fundo, é o que se quer de qualquer restaurante de comida internacional: que nos leve numa viagem até ao país de origem. Neste caso, a Tailândia é um destino muito querido para nós, porque lá passámos mais de um mês, entre norte, centro, sul e ilhas – um roteiro completo que podem seguir se estiverem a pensar ir para aquela zona. Ficámos completamente apaixonados pelo país, com a suas diferenças evidentes, pelas pessoas e, claro, pela comida! Por isso é normal que tenhamos sempre alguma expectativa quando vamos a restaurantes tailandeses em Lisboa. Como nos aconteceu no Baan Saraiva’s.
Ora, o Baan Saraiva’s foi um de dois restaurantes tailandeses que visitámos com o intervalo de duas semanas, o que inevitavelmente leva a comparações – como se já não as fossemos fazer com aquilo que comemos mesmo na Tailândia. O outro foi o Mixed Martial Rice, que é um restaurante mais simples e despretensioso. O completo oposto do Baan Saraiva’s, que é uma nova encarnação de um restaurante clássico da zona da Avenida, que era o… adivinharam: Saraiva’s.
Por isso mesmo, desde o exterior até à sala, parece que estamos numa espécie de pop-up, mais do que num ambiente que remeta para a tipologia do restaurante. O espaço é demasiado formal, mesmo com alguma decoração floral e os enormes tigres retro-iluminados na parede principal. Sei lá, fica assim num meio termo estranho. Assumimos que talvez estejam ainda numa fase de transição, ou então a ideia é mesmo esta… enfim.
Começamos por pedir cocktails ainda antes da comida, porque estamos na conversa. Uma diferença clara em relação ao que fazíamos na Tailândia, onde pedíamos cerveja e pronto. Bons os cocktails aqui no Baan Saraiva’s, sem dúvida, a preços que também são muito diferentes do praticado por lá por aquelas bandas. Mas servem bem para entreter enquanto decidimos os pratos a provar, dois deles já previamente escolhidos por uma consulta ao menu online. Mas já lá vamos 😉
Pedimos duas entradas, uma porque nunca tínhamos visto e outra porque é o habitual. Em relação à primeira, estamos a falar do Tod Mun Koon, que é camarão tigre panado e servido com molho chimichurri, molho que nada tem a ver com a Tailândia mas que até funciona bem com o camarão, panado de forma irrepreensível. A segunda entrada são os clássicos Spring Rolls, um prato que existe na maioria dos países asiáticos, aqui na versão natural, sem qualquer fritura, o que nos permite perceber a frescura dos ingredientes. Dois molhos a acompanhar, mas que nem são necessários, porque os rolos são mesmo bons e comem-se sem qualquer molho.
Seguimos em frente, e vamos primeiro falar do Pad Thai de Camarão. Porque o pad thai é o prato internacionalmente mais exportado da Tailândia (talvez até o “prato nacional”, uma expressão um bocado redutora…). Este Pad Thai de Camarão do Baan Saraiva’s é muito bom, sem dúvida – os noodles bem cozinhados e saborosos, os camarões ligeiramente picantes, os restantes toppings separados, mas já percebemos que cada vez mais é servido assim. Um pad thai que nos faria regressar ao Baan Saraiva’s, ao contrário de muitos outros que se servem por aí – porque agora qualquer restaurante asiático (e não só) acha que consegue fazer um pad thai.
Mas a razão pela qual fomos ao Baan Saraiva’s foi… ou “são” duas razões, que são os pratos seguintes. Em primeiro lugar, o Khao Soi, um prato que só comemos em Chiang Mai e Chaing Rai, e nunca encontrámos fora da Tailândia. No fundo é uma espécie de caril com galinha e noodles, onde depois são acrescentados noodles fritos como topping, dando-lhe crocância. Sim, eu sei que é simplificar demais o prato, mas lidem com isso. Resulta num caldo espesso e cheio de sabor e condimentos, e foi um dos pratos que mais nos surpreendeu na nossa viagem. O que já não aconteceu aqui no Baan Saraiva’s, porque ainda que não se possa dizer que estava mau, o sabor do caldo deixou um pouco a desejar, faltava-lhe intensidade.
Mas, por outro lado, outro dos pratos que trouxemos na memória da nossa viagem tem aqui neste restaurante tailandês um exemplar quase perfeito! Estamos a falar do Pat Bai Grapao (versão Pork), que é basicamente carne picada de porco, frita, com chilli e muito manjericão, servida com arroz e um ovo estrelado por cima. A frescura é surpreendente, tanto no prato original como nesta versão no Baan Saraiva’s, porque o manjericão cria contraste com a carne e depois o chilli dá-lhe aquele toque picante essencial. É verdade que parece simples, mas foi o melhor prato do nosso almoço, e um dos melhores pratos tailandeses que comemos em Lisboa, sem dúvida nenhuma.
Terminamos o almoço com uma sobremesa, para relembrar a sobremesa que comemos tantas vezes durante o mês e tal que estivemos na Tailândia: o Khao Niew Mamuang, que é o mango sticky rice. Um arroz tipo doce e peganhento (isto de arranjar tradução para sticky é lixado…), com manga e creme de coco, que aqui encerra de forma muito boa uma refeição que foi claramente acima da média.
Isto porque tudo tem a ver com expectativas e bases de comparação, claro. Se nunca tivéssemos comido khao soi antes, provavelmente teríamos gostado muito mais da versão que comemos no Baan Saraiva´s, e aí por diante. Mas isso só é relevante para nós, ponto final. O Baan Saraiva´s pode até ter um espaço que fica ali num meio termo esquisito, mas a comida é claramente feita com alma. É verdade que tem uma apresentação um pouco mais cuidada e alguma complexidade extra que não existe na comida de rua tailandesa, mas ainda assim é ajustado à localização do restaurante em si. Há aqui sabor, há aqui pratos que se destacam e, mesmo com um preço acima de outros tailandeses em Lisboa, é um restaurante que merece uma visita. Para matar saudades, se já foram à Tailândia… ou para fazer uma pequena viagem através da comida.
Preço Médio: 38€ pessoa (com cerveja)
Informações & Contactos:
Rua Eng. Canto Resende, n° 3 | 1050-104 Lisboa | 21 353 1383