Comida criativa, num espaço maravilhoso.
Começa a ser cada vez mais habitual regressarmos a restaurantes sobre os quais escrevemos há vários anos. Ainda que abram restaurantes novos todos os dias, é inevitável voltar a espaços destes, independentemente da circunstância. E quando isso acontece, podem acontecer uma de duas coisas: ou voltamos a ter uma experiência semelhante e mantemos a mesma opinião; ou então temos uma experiência diferente, o que nos faz repensar naquilo que tínhamos escrito antes. E, como é óbvio, alterar. É a coisa maravilhosa das experiências: podem ser sempre iguais… mas a maioria das vezes não são. 😉 Isto leva-nos ao 1300 Taberna, um restaurante do qual tínhamos um review feito há quase 5 anos… e que não era assim tão bom como isso.
Bom em relação à comida, nada bom em relação ao serviço. Mas a verdade é que o 1300 Taberna é dos restaurantes mais antigos da Lx Factory, e dos mais emblemáticos também. E também é verdade que já lá tínhamos voltado ao longo destes anos, individualmente, em almoços rápidos ou em eventos, e a nossa opinião estava a mudar um pouco. Por isso, resolvemos voltar a sério, juntos, para um jantar. Para ver como corria.
Ora… pois que correu bastante bem! E saltando já para o final, houve só uma ou outra pequena questão que podia ter corrido melhor, nomeadamente em relação ao serviço. Nada de muito mau, apenas algumas falhas de atenção. E a única razão pela qual escrevemos sobre isso (e também porque mencionámos isso no final do jantar) é porque num restaurante com um ticket médio de mais de 40€ pessoa, espera-se que estas desatenções não existam. Mas, como reforçamos no final da refeição, não foi problemático.
Até porque a experiência no 1300 Taberna começa logo à entrada, quando vemos o restaurante pela primeira vez. O espaço é fabuloso, assim como muitos na Lx Factory, porque aproveita a arquitectura do armazém e acrescenta-lhe apontamentos vintage de bom gosto. O mobiliário, a decoração, tudo cheio de pequenos (ou grandes) pormenores que dão em imensas fotografias.
A cozinha aberta, no final da sala, prolonga este ar industrial vintage do espaço, e o facto de vermos a azáfama dos cozinheiros faz-nos sentir numa espécie de fábrica., uma linha de montagem que termina na nossa mesa. E termina bem, pelo menos ao primeiro impacto, completamente visual: a apresentação dos pratos é também muito boa, nota-se que há um cuidado nos empratamentos de forma a destacar a matéria prima, sendo que a louça sempre diferente também ajuda muito.
E, finalmente, o conteúdo. Ou seja, a comida. Boa, sim, sem dúvida nenhuma. baseada no receituário nacional, com utilização de alguma técnicas mais modernas e uns toques de cozinha de autor, mas nada muito exagerado. É um restaurante muito frequentado por turistas (devido à localização), por isso há um claro objectivo de lhes mostrar a cozinha portuguesa, ainda que com alguns ajustes que justifiquem o preço dos pratos.
A carta tem alguns clássicos, que são clássicos da cozinha nacional mas que também já se tornaram clássicos entre os clientes do restaurante. Como é o caso do Caldo Verde da Taberna, assim uma versão modernaça, com uma apresentação brilhante e todo o sabor que esperamos num caldo verde tradicional. Ou o Carapau em conserva com Escabeche, que anda traz uma compota de pimentos assados e pão crocante, elementos que conhecemos bem e com sabores que não envergonhariam as nossas avós.
Ainda para começar há ainda outras propostas, como por exemplo dois tártaros, um para almoço e outro para jantar. Ao almoço temos o Tártaro de Peixe (na foto temos Atum), com Abacate, maçã, Funcho e Aipo, conjunto fresco, um prato ideal para um dia de calor; e ao jantar a carta muda para o Tártaro de Novilho com Gema de Ovo fumada e Caviar, mais intenso, mais quente, se quiserem. Ambos irrepreensíveis a nível de sabor, e muito bem trabalhados na apresentação.
Nos pratos principais, um destaque claro para o prato vencedor do 30º Concurso Chef do Ano, em 2019: Filete de Peixe do Dia (no nosso dia foi garoupa), Cuscos de Ostras e Algas, Fricassé de Ostras, Gamba Rosa marinada e Crocante de Camarinha. Parece complexo, mas os sabores são tão complementares que acabam por resultar muito bem. Premiado ou não, este é um prato excelente, onde todos os elementos nos lembram o mar, onde tudo está cozinhado no ponto. Maravilha!
Menos surpreendente, mas ainda assim muito interessante, o Lombo de Novilho grelhado, Terrina de Batata, Cogumelos e Puré de Geringela, num registo mais próximo da chamada “comida de conforto”, mas que peca só pela carne estar ligeiramente mais seca do que seria de esperar. De resto, os outros elementos no prato são muito bons.
Da ementa do almoço (diferente da praticada ao jantar) também retiramos alguns best-sellers do restaurante. Como por exemplo o Polvo Grelhado com Batata Doce e Legumes Grelhados, um belo espécime, bom no sabor e na textura, acompanhado e um também bom puré e de legumes que nos fazem sentir terem vindo directamente da horta. Ou o Peito de Frango com Cogumelos Salteados, prato de campo, simples mas bom, exactamente como a boa comida deve ser.
E para terminar, as sobremesas. Sobre as quais a nossa opinião também não sofreu alterações desde a primeira visita: são o mais surpreendente de toda a carta do 1300 Taberna! A base continuam a ser os doces tradicionais portugueses, mas aqui a invenção é maior, resultando em pratos mais elaborados. Como é o caso da sobremesa mais conhecida da casa, o Parece uma Tarte de Limão: creme e sorvete de limão com uma tela de suspiros, uma espécie de tarte de limão mas desconstruída, com um equilíbrio perfeito entre o doce e o ácido. Uma sobremesa que tem de ser provada, quer ao almoço quer ao jantar.
Ou então a Panna Cotta de Chocolate Branco (fantástica a textura), Funcho e Ananás dos Açores, novamente rica em contrastes, ou o Manjar Celeste, que é uma espécie de bolo do noz com várias texturas diferentes, complementado com citrinos. Duas sobremesas com várias nuances de sabor, várias texturas, e uma apresentação muito boa, como seria de esperar.
Ou seja, e voltando ao início do texto, é sempre bom mudar de opinião sobre seja o que for, mas para nós em especial, é muito agradável mudar de opinião sobre um restaurante. E, no caso do 1300 Taberna, essa mudança foi no bom sentido. Aliás, no muito bom sentido. Conseguimos ver que a base se mantém e a qualidade da comida continua a ser muito acima da média, assim como a apresentação. O espaço é fantástico e, mesmo com alguns pequenos lapsos, até o serviço melhorou bastante. Por algum motivo continua a ser dos melhores restaurantes da Lx Factory e um dos mais procurados de Lisboa, no geral.
Preço Médio: 45€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua Rodrigues de Faria, 3 – LX Factory | 1300 Lisboa | 21 364 9170