Uma excelente experiência de fusão!
Já não é a primeira vez que aqui escrevo que o sushi de fusão não é propriamente a minha cena. Gosto de sentir o sabor do peixe, a sua frescura, sem grandes molhos ou artifícios que me distraiam do principal. Infelizmente há cada vez menos restaurantes a praticar este sushi mais tradicional, e são cada vez mais os de fusão… e com cada vez menos qualidade efectiva. Mas o extinto Tamagoshi Food Fusion, na Parede, era a excepção à regra, no que respeita à questão da fusão. Um restaurante que de giro não tinha nada, mas que servia sushi fenomenal e criativo. Só que fechou recentemente…
Soubemos do seu encerramento e, logo de seguida, percebemos que o Chef Péricles Lacerda ia mudar de poiso, para um novo restaurante no Estoril, onde ia continuar a fazer o seu sushi criativo de fusão. E foi assim que chegámos ao Saiko.
Depois de algumas voltas ao Centro de Congressos do Estoril à procura do restaurante, lá chegamos ao Saiko. E, num primeiro impacto, para quem tinha o Tamagoshi na memória, aqui não podíamos estar num pólo mais oposto. Tudo aquilo que o restaurante da Parede tinha de escuro e pouco “premium” é facilmente esquecido quando entramos no Saiko. Um espaço pequeno mas quase completamente dominado pelo branco, alguma madeira clara e espelhos. Um espaço que respira sofisticação, sendo que podia ser um restaurante de sushi ou de uma outra alta cozinha qualquer. Nota-se a atenção aos pormenores, e a verdade é que depois viríamos a perceber que esse cuidado com o impacto visual também se estende à comida. Mas já lá vamos.
O serviço é cordial e formal, mas um formal que não deixa de ser próximo e simpático. Um equilíbrio perfeito, que nos deixa à vontade para escolher mas que não deixa de recomendar pratos que nos permitam explorar a criatividade do Chef.
O couvert traz o habitual sunomono, mas também uma porção de edamame (soja verde ainda na sua vagem) e uma folha de endívia com pasta de salmão, molho sweet chilli, sésamo e goma wakame, um snack muito interessante.
De seguida, e por sugestão, duas entradas que nos permitem experimentar coisas diferentes. Primeiro o Usuzukuri Misto, que é quase uma espécie de ceviche: 3 variedades de peixe cortados em fatias finas, marinadas num molho de ervas a fazer lembrar um pesto, com ovas, alho francês e sésamo. O peixe fresquíssimo ganha toda uma nova profundidade com o molho e com as rapas de alho francês, fazendo desta entrada um prato maravilhoso para dias quentes. Depois, e seguindo o mesmo registo de qualidade muito acima da média, o Maguro Tataki, que é como quem diz tataki de atum, novamente com o peixe excelente, braseado na perfeição, de comer e chorar por mais. E, em ambos os pratos, percebemos o cuidado que existe com a apresentação – tanto a louça como todos os elementos secundários do prato acentuam as cores vivas do peixe. Porque os olhos também comem.
E depois vem o sushi. Pedimos um combinado VIP, porque queremos perceber se o registo continua em alta, e não ficamos decepcionados. Antes pelo contrário, voltamos a ser surpreendidos! A qualidade do peixe continua a ser inegável, mas as peças que nos apresentam incluem outros elementos e sabores, mas sem que deixem de fazer sentido. Ou seja, não é fusão para esconder a falta de frescura do peixe, é fusão para destacar sabores e dar texturas diferentes a cada peça. Não vamos estar a descrever, porque esta é uma experiência sensorial. Mas podemos dizer-vos que é realmente fora de série! E agora vejam as fotos 😉
O ponto onde o Saiko ainda precisa de investir mais é mesmo das sobremesas. Em primeiro lugar, porque não existe nenhuma efectivamente japonesa, e depois porque aqui não sentimos um registo tão elevado de criatividade. Ainda assim, comemos uma mousse de maracujá e um cheesecake de caramelo salgado, duas sobremesas com óptimo sabor. Muito boas mesmo, mas precisavam daquele toque de criatividade extra.
As diferenças entre o extinto Tamagoshi e o novo Saiko são mais do que evidentes, aliás, os restaurantes não podiam ser mais diferentes um do outro. Mas além do Chef, há algo que faz a “ponte” entre os dois espaços, e que no fundo é o principal: o sushi. E mais do que isso, a criatividade do sushi de fusão que é servido, que nos surpreende a nível visual e a nível de sabor. E é por isso que o Saiko tem tudo para correr bem, ainda mais na zona onde está inserido, onde os preços não são um problema (e atenção que os preços não são elevado, são completamente justos para a qualidade e o serviço).
Há muitos restaurantes que usam o sushi de fusão porque não conseguem fazer melhor. Mas o Saiko mostra-nos que o sushi de fusão existe para nos abrir novos horizontes e para nos proporcionar novas experiências. E para nós foi uma experiência maravilhosa!
Preço Médio: 35€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Avenida Clotilde | Edifício Centro de Congressos, Loja D | 2765-211 Estoril | 21 468 57 06
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