HIMCHULI

Expectativas altas = pequena decepção…

Gosto sempre de conhecer restaurantes novos, mesmo que sejam novidade só para mim. Ou seja, não estou necessariamente a falar de restaurantes recém-abertos, mas sim de sítios onde nunca fui antes. E a minha lista gigante com nomes desses restaurantes vai crescendo, mas nem sempre com novidades… a maioria das vezes é com restaurantes dos quais me vão falando e recomendando.
Isso foi o que aconteceu com este nepalês, que muitas pessoas consideram o melhor de Lisboa. Ao longo dos anos recebi várias dicas, inúmeras recomendações, uns a falar sobre a comida, outros sobre o ambiente romântico, enfim, muita gente a sugerir uma visita ao Himchuli. Por isso, as expectativas eram altas. Talvez por isso mesmo tenha ficado um pouco desapontado na primeira visita… e noutras visitas seguintes, esse desapontamento tenha vindo a crescer.

O Himchuli fica numa rua de passagem de carros, mas passa quase despercebido. A entrada é abaixo do nível do passeio, e se não fosse a iluminação do letreiro, passávamos ao lado. O espaço é… “fofinho”, no sentido em que é muito pequeno e está completamente decorado com quadros e pinturas e coisas que remetem para o Nepal. Em dias de meia casa, até podemos achar o ambiente um pouco romântico, mas com casa cheia esqueçam lá isso: barulho, cadeiras a bater umas nas outras, e serviço aos “papéis”. Sim, porque o atendimento até é simpático e prestável, mas lento e pouco focado, o que faz com que tenhamos de repetir pedidos várias vezes ao longo de um jantar.

Mas o aspecto onde temos a maior desilusão é mesmo… na comida. Sim, posso não ter ainda uma ideia clara sobre a diferença entre a comida indiana ou nepalesa (ou outras dessa zona geográfica), mas tenho a noção quando estou a pagar preços demasiado elevados para doses pequenas e das quais grande parte sabe praticamente ao mesmo. Há um ou dois pratos dos que já provámos nas várias visitas ao Himchuli que até são interessantes (ainda que caros para a dose servida), mas a grande maioria peca por um registo de normalidade que não justifica nem o preço nem a “fama”.

Começamos com as Chamuças de carne, bem recheadas, muito bem recheadas, mas demasiado recheadas (sim, foi repetitivo, eu sei…). É uma amálgama de carne picada, sem mais nada, por isso precisam de molhos misturados para ganharem sabor. Ainda menos interessante é o Pyaj Pakaudi, pequenos bolinhos de cebola com farinha de grão, que não sabem a nada. Safam-se mais ou menos os “pães fofinhos”, simples e com alho (Desi Roti e Lasuna Roti), ainda que estejam muito longe de ser dos melhores que já comemos.

himchuli

A melhor das entradas é mesmo o Momo, que é uma espécie de dumpling (ou ravioli, se quiserem) recheado com frango picado, tudo cozido a vapor e servido com um molho doce e com especiarias. Delicioso, viciante, se soubéssemos tínhamos ficado só por esta entrada e comido umas 10. Pelo menos.

Depois, como é habitual num restaurante deste género quando vamos em grupo, pedimos vários pratos diferentes, para ir provando um pouco de cada. Aqui há menos proteína daquela básica a que estamos habituados nos restaurantes indianos (porco, vaca, etc.), mas temos coisas que parecem diferentes, como canguru, veado ou javali. E digo “parecem diferentes” porque, mesmo com uma proteína pouco recorrente, são os molhos que acabam por tornar tudo igual.. e desinteressante.

himchuli

Pelas fotos já dá para perceber mais ou menos o tamanho das doses, mas realmente isso nem é o pior. O Caril de Gambas tem literalmente 3 gambas no meio do molho, mas o próprio caril é fraquinho e nem tem picante nenhum; o Caril de Frango com espargos verdes e tomate cereja é melhor, com o caril mais apurado e saboroso. Depois temos um dos melhores pratos da noite, o Bandel Ko Sathma Alu, que é como quem diz javali com batatas e quiabos, com molho de caril e tomate. A carne é boa, o molho é saboroso e apurado, e com picante qb. Bom!

Depois ainda houve um prato completamente vegetariano, o Rajama Tarul (batata nepalesa, feijão e tomate, em molho de caril), que é engraçado porque tem mais texturas do que a maioria dos outros pratos. E também um prato que é surpreendente por não ser nada do que estamos à espera: o Vhale Lasuna, que são uma espécie de nuggets de peito de frango grelhado, com alho, malaguetas e ovo, servidos com arroz e… batata frita. Os nuggets são fantásticos, picantes, saborosos, mas o acompanhamento é só triste, além de nada nepalês.

himchuli

Para terminar o jantar, as sobremesas não são assim muito chamativas. Não há nada que se destaque à leitura, e esse é meio caminho andado para a tomada de decisão. Talvez a mais interessante seja o Pudim de Natas com cajú e frutos silvestres, ou seja, o Dudha Malahi. A nível de textura parece uma pannacotta mas a conjugação do caju e dos frutos silvestres com o pudim resulta muito bem, resulta numa sobremesa gulosa, sem dúvida.

himchuli sobremesas

E, no final, quando recebemos a conta, percebemos que o facto de os pratos terem um preço médio a rondar os 13€, faz com que paguemos muito mais do que estamos à espera. E ainda por cima não saímos do Himchuli cheios, longe disso. Quando a base de comparação são restaurantes indianos (desculpem, mas é comparável a nível da comida), no Himchuli comemos menos e pagamos mais. E nem conseguimos sentir uma diferenciação por aí além na matéria-prima, porque os molhos acabam por ser mais do mesmo.

Ou seja, esperávamos mais. Um espaço mais romântico, comida mais diferenciadora, um serviço mais eficiente… ou, pelo menos, preços que compensassem tudo o resto ser fraquinho. E sim, é verdade que pode apenas ter a ver com o facto de termos expectativas altas… mas mesmo que não fossem, há demasiados pormenores que falham no Himchuli para termos uma experiência positiva.

Preço Médio: 25€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua do Sacramento a Alcântara, 48 | 1350-352 Lisboa | 21 390 1722

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